22.4.11

Arnaldo Antunes: "Pensamento"





Pensamento

Pensamento que vem de fora
e pensa que vem de dentro,
pensamento que expectora
o que no meu peito penso.
Pensamento a mil por hora,
tormento a todo momento.
Por que é que eu penso agora
sem o meu consentimento?
Se tudo que comemora
tem o seu impedimento,
se tudo aquilo que chora
cresce com o seu fermento;
pensamento, dê o fora,
saia do meu pensamento.
Pensamento, vá embora,
desapareça no vento.
E não jogarei sementes
em cima do seu cimento.




ANTUNES, Arnaldo. Tudos. São Paulo: Iluminuras, 2001.

6 comentários:

Vôgaluz disse...

Sublime a reflexão temática deste que é um dos grandes poetas da nossa geração. Parabéns, Arnaldo Antunes. O seu pensamento movimenta os nossos pensamentos. Abraços ao Antonio Cícero por manter este espaço tão importante em prol da poesia.
vogaluz.blogspot.com

Jefferson Bessa disse...

O traço bem definido do Arnaldo
porque ler sem saber que é o Arnaldo
É saber que é o Arnaldo.
Adorei, Cicero!
Abraço.
Jefferson.

Alcione disse...

Paraíso

Chuva de verão
As pedras batem nas costas
E no coração
Ilha de edição
Vivi um tempo aqui
Entre as encostas
Deixo-te
E tudo que aqui construí
Sem qualquer resposta
É o amor o que eu anseio?
A verdade?
Um devaneio?
Ou de novo teu sorriso
Será tudo que eu preciso
Meu paraíso.

ADRIANO NUNES disse...

Amado Cicero,

Belíssimo poema!!!! Parabéns pelo post anterior! você merece sim! Viva a sua existência!

um poema meu:

"de um céu estrelado" - Para Manuel Bandeira


uma estrela? a vida
inteira no verso...
um espectro imerso
na noite assistida

resiste ao bacilo
de Koch. nem o tempo
de choque... do tempo
sonhado! senti-lo

seria retê-lo
no livro: quão vivo,
belo, belo selo

de luz! que motivo
não ter para vê-lo
vingar emotivo?


Abração,
Adriano Nunes.

Lara Leal disse...

O Arnaldo é incrível em sua simplicidade!

L. Di Paola disse...

Arnaldo Antunes é uma das grandes revelações da nossa moderna poesia. Com o tempo - e com a sua obra e talento -, acabará reconhecido muito além dos limites de seu trabalho como compositor e letrista. Fico feliz que você, Cícero, já tenha percebido que ele está entre os bons. Ou melhor, entre os muito bons. Abraço.