6.11.07

Alba Zaluar: Inverter não é transformar

O seguinte artigo de Alba Zaluar foi publicado na sua coluna da Folha de São Paulo, segunda-feira, 15 de outubro de 2007:


Inverter não é transformar

A IGUALDADE tem sido objeto de uma infindável discussão teórica. Há os que afirmam ser ela uma condição inalcançável, visto que seres humanos diferem em suas capacidades, talentos e disposição para o trabalho; há os que ressaltam a necessidade como o critério para a distribuição da riqueza produzida. Os primeiros, filósofos morais do liberalismo político, preocupam-se com as violações à liberdade que a busca incessante da igualdade vem a trazer. Os segundos, adeptos da economia marxista, acreditam que dar a cada um segundo a sua necessidade inclui o princípio de receber de cada um segundo a sua habilidade de contribuir economicamente.
Nenhum pensador da igualdade defendeu a idéia de que seria possível obter o necessário por fraude, força, roubo, coerção ou dano a outras pessoas. Esse princípio moral está também em Marx, que exaltava o valor do trabalho -o pago e o não pago- e visualizava uma sociedade futura em que essa distribuição seria feita sem coerção de qualquer espécie.
Aqui no Brasil, a discussão tomou rumos indefensáveis. Quem nega a um branco bem-sucedido, mesmo que vindo de meios sociais modestos, o direito de consumir (que inclui portar) os bens disponíveis socialmente, não está recusando para si mesmo, um negro oriundo de favelas e periferias, esse gozo.
Rappers são conhecidos no mundo todo por seu sucesso e sua ilimitada sede de consumo. Coleções de tênis, roupas de marca, automóveis do ano, festas extravagantes são alguns itens listados nos seus currículos de consumidores. E, claro, não se imolam pelo sucesso que os destacou.
Defender o roubo como recurso de distribuição de renda revela um enorme desconhecimento das redes e tramas do submundo do crime, onde grassa o capitalismo mais selvagem de que se tem notícia. Ou bem a pessoa que roubou vai portar esse objeto, que apenas muda de mãos e continua a simbolizar a desigualdade reinante, ou ela vai vendê-lo a um receptador que pagará muito pouco e fará um hiperlucro comercial, ambos sem produzir riqueza nenhuma. Para onde foi a distribuição de renda? Para alimentar a acumulação do receptador e a ilusão do ladrão que precisa voltar a roubar e, portanto, está sempre a se arriscar em benefício de outrem.
Com tanto incentivo a ganhar dinheiro fácil, estimula-se exponencialmente a acumulação de riquezas em poucas mãos. Se as defesas morais contra a fraude e o roubo continuarem a ser destruídas tão hipocritamente, a produção de riquezas será reduzida e o estoque de riquezas do país encolhido a tal ponto que não teremos nem consumo nem muito menos a tão almejada igualdade.

Alba Zaluar

19 comentários:

Lucas Nicolato disse...

Caro Antônio,

Não apenas concordo inteiramente com o artigo, como posso pensar em muitos outros argumentos (os quais não enumerarei) contrários à essa "justificativa do crime".
Em vez de colaborar para uma verdadeira "igualdade de direitos", o crime cria apenas uma "igualdade de falta de direitos".

um abraço,
Lucas

Anônimo disse...

Wednesday, December 06, 2006

De areté

Essas virtudes nós não praticamos:
Não praticamos os bons modos
(nem
A bela lealdade - nós - também -
de nenhuma maneira - praticamos)...

O tempo todo nós fomos reféns
Do ódio e da gula --
nos aburguesamos
Diante destes dois maldosos cáftens
Que nos coisificaram...
Nós amamos
- isto sim - o dinheiro malfadado...

Amamos estes que o erário fraudaram
Sem nenhum pudor --
que eram muito dados
À maldade, à lisonja e a outras benesses
Benfazejas a seus egos...
Restaram
Dor e pó nestes jogos de interesses...

Anônimo disse...

Friday, September 15, 2006

O cobre de Amós


Os brutos, os malvados, os poetas, os loucos, os covardes e alguns sujos...

Os imundos, os bêbados e estetas...

Todos que ora citei e mais algum cujo nome esqueci ou ignorei, a ladina seta há de lancetar um por um...

Marujos nem piratas, plebeus nem nobres, netas de rei, príncipe ou áulicos intrusos...

Nem este nome que te lembrarei, para somente não ficarmos nós restritos e fechados com clowns, reis, brutos, covardes, loucos e alguns pobres...

Lembra-te: todos nós seremos pó...

Tu serás pó, Amós...

Pó também teu cobre...


Sampa/2001
wilson luques costa

Anônimo disse...

Prezado Antonio Cicero,

Observe a data desse texto.

Grato.

17/01/2006 11:10

01/11/2005

guerra civil ou guerra entre civis


Ouço muito falar que estamos numa guerra civil. Isso se dá mais

por uma falta de análise dos conceitos. Eu, a meu modo, julgo

que vivemos uma pequena (quiçá) guerra entre civis, do que

propriamente uma guerra civil. Se eu fosse um desses filósofos,

que andam fazendo palestras por aí, eu diria que se trata mesmo

daquilo que se denomina de senso comum da nação. Antes de serem

conceitos que se cruzam e que se interligam, esses dois conceitos

são antes antípodas do que qualquer outra coisa. A saber:



# se estivéssemos numa guerra civil, os nossos cidadãos não

estariam se automutilando uns aos outros pelas ruas da pólis;



# haveria uma maior organização e conscientização dos cidadãos,

ou o que poderíamos chamar de uma iluminação da caverna platônica;



# o alvo em si não seria o concidadão, mas sim o estado;



# o estado sabe que enquanto houver guerra entre civis,

não haverá em hipótese alguma uma guerra civil;



# ou seja: a guerra entre civis torna-se um anteparo de

um estado inepto, inapto e impotente -- mas que se quer

perene no poder;



# guerra civil implica organização dos cidadãos (bonus sensus);



# guerra entre civis (comunis sensus);



# na guerra civil cai o estado;



# na guerra entre civis caem os cidadãos;



# na guerra entre civis -- interesse por bens do sistema capitalista;



# na guerra civil -- valorizam-se o cidadão, a ética e um certo tipo de moral;



# na guerra entre civis -- livre mercado e livre concorrência;



# na guerra entre civis -- controle de preços;



# na guerra civil valoriza-se o todo;



# na guerra entre civis valoriza-se a individualidade;



Agora não me pergunte se sou favorável a um ou outro,

porque eu apenas com grande equilíbrio eu lhe reponderia

que o meu únco dever é, como sugeria o mestre Platão,

iluminar a vasta escuridão da tua caverna... et légomai...

# obs: toma a palavra guerra não no seu conceito mais universal.


enviada por wilson luques costa

Anônimo disse...

cicero, lindinho,

muito bom o texto porque repleto de verdades. o assalto serve, somente, para resolver um problema de imediato, como um paliativo para quem está fora do jogo. quando se pensa, por exemplo, no tráfico de drogas, sabe-se muito bem que as leis que regem o consumo e a compra das mercadorias são capitalistas. é a mais fiel reprodução. porque, afinal, foi assim que as pessoas aprenderam a re-produzir grana.

o investimento deve estar numa mudança estrutural, das mentalidades. o homem precisa apreender novas formas, caminhos outros. mas isso é tão complexo...

olha, sinceramente, tudo é tão complexo, tão difícil, tão louco para mim, que pensar no desmonte dessa situação, em como tal desmonte se daria, o que viria depois do desmonte, só me causa um nó na cuca, daqueles feios (rs).

(está aqui uma das dúvidas que me cercam a mente - como sair da situação em que nos encontramos?)

o que sei é que fecho com isto aqui:

"eu sou contra essa ideologia da agonia/ sou a favor do investimento/ pra acabar com a pobreza/ sou pelo estudo e o trabalho em harmonia/ o amor e o cristo redentor/ poesia na democracia"

como chegar a isso, por favor,pensemos juntos, todos nós, organizados, porque não sei mais (vocês precisam saber o que eu sei e o que eu não sei mais).

é isso, fofura.
beijo grande,
axé
e poesia na democracia!

Anônimo disse...

O artigo é muito bom.

Em relação aos rappers (sem generalizar), é uma elevação da burrice. Os caras são uns cavalos, mal educados, com dentes de ouro, jóias, ofendem a inteligencia das mulheres e de todo mundo, são uns escrotos. Mas ninguém pode falar nada porque aí alguém chega e diz: eles são a voz da periferia, foram oprimidos durante séculos e agora eles tem direito a tudo.

Qualquer ser humano tem o direito à educação. Negros e brancos. Agora, zoar com a cara de todo mundo e não mudar nada...

Vc vai, rala, rala, ou ganha de presente, ou compra porque precisa. Sai na rua com uma mochila nova, um celular novo(modelo mais do q simples) e um livro do Kafka. Aconteceu comigo. A mochila e o celular eu ganhei do meu pai pq eu estava sem mochila e sem celular. saí de casa, vem um espertinho com tênis novo no pé e camisa de uma dessas grifes de surf e leva tudo. Em icaraí, niterói, em uma linda tarde de sol. Ninguém viu, fiquei sem nada.

Qual é?
Fiquei pensando p me consolar q talvez alguém tenha lido o Kafka (era "o processo") e tenha resolvido mudar de vida. Ou entrar p crime logo de uma vez.

Anônimo disse...

Caros, obviamente, o artigo se refere ao caso "Huck".
Apesar de não concordar com qualquer tipo de violência, acredito que devemos levar em consideração algumas coisas.
Primeiramente, não foi assaltado qualquer "burguês", mas, sim, um homem público, apresentador de um programa de TV na maior rede do país. Simbolicamente, digamos, isso cria um diferencial para a situação.
Sem querer (querendo, como diria o Chaves), o assaltante proporcionou um tipo de discussão bem interessante com relação ao poder e as opções de "luta" das classes marginalizadas.
É claro que o assaltante não é marxista nem revolucionário, mas o que importa não são as intenções dele, mas o resultado do seu ato e o que o "público" acabou interpretando desse ato.
E, o que parece, é que a divisão já percebida na eleição presidencial PTxPSDB voltou a se manifestar.
Portanto, me parece que um dos grandes problemas brasileiros é como fazer esses dois grupos lutarem por causas comuns, já que ambos não se entendem e nem parecem querer se entender.

Abrações

sappho disse...

Isso nada tem a ver com o artigo. É algo que eu queria saber de você, ou da Marina, sobre uma de suas letras.

Aí vai:

Eu estava lendo a letra de "Depois me Diz" do álbum "Desta Vida, Desta Arte", mais especificamente o seguinte trecho:

"...
Desejo
Te vejo e acende o fogo

Um tremor me abala
Ah! suor me umedece
Eu fico sem fala
A língua entorpece
Assim meio estranha, me perco
..."

E ele imediatamente me remeteu a um trecho de um poema incompleto de Sappho de Lesbos, que segue:

"There is a moment when I look at you
and no speech is left in me.
My tongue breaks
then fire races
under my skin
and I tremble...
and grow pale
for I'm dying of such love
or so it seems to me."

(outras 28 traduções e o original romanizado podem ser lidos em http://www.bopsecrets.org/gateway/passages/sappho.htm)

Já li muitas traduções desse mesmo poema, por isso identifiquei as semelhanças com a tradução que eu citei e outras (essa não fala do suor, por exemplo) e penso que talvez essa parte de "Depois me Diz" seja a interpretação de Antônio Cícero do original.

Queria saber da Marina, ou de quem souber, se há influência ou não. Se sim, há influência de outros excertos em alguma outra letra?

Antonio Cicero disse...

Cara Sappho,
Esse trecho é uma tradução livre que fiz a partir do original grego de um fragmento maravilhoso de Safo.
Abraço,
Antonio Cicero

sappho disse...

Cícero,

Obrigada por responder.

O fragmento então é esse, que eu acreditava ser?

"phainetai moi kênos isos theoisin
emmen’ ônêr ottis enantios toi
isdanei kai plasion adu phônê-
sas upakouei

kai gelaisas imeroen to m’ ê man
kardian en stêthesin eptoaisen
ôs gar es s’ idô broche’ ôs me phônê-
s’ ouden et’ eikei

alla kam men glôssa eage lepton
d’ autika chrôi pur upadedromaken
oppatessi d’ ouden orêmm’ epibro-
meisi d’ akouai

ekade m’ idrôs kakcheetai, tremos de
paisan agrei, chlôrotera de poias
emmi, tethnakên d’ oligô ‘pideuês
phainom’ em’ autai.

Alla pan tomaton [epei kai panêta] . . ."

Anônimo disse...

[nada do texto que segue foi por mim escrito. resolvi postá-lo porque achei relevante.]

O cantor Zeca Baleiro criticou o apresentador Luciano Huck, em artigo publicado na Folha de S. Paulo, nesta segunda-feira, por ter reclamado do roubo de seu relógio Rolex, há quase um mês, justamente em texto escrito para o mesmo jornal.

O rolo do Rolex
Zeca Baleiro

Por que um cidadão vem a público mostrar sua revolta com a situação do país, alardeando senso de justiça, só quando é roubado?

NO INÍCIO do mês, o apresentador Luciano Huck escreveu um texto sobre o roubo de seu Rolex. O artigo gerou uma avalanche de cartas ao jornal, entre as quais uma escrita por mim. Não me considero um polemista, pelo menos não no sentido espetaculoso da palavra. Temo, por ser público, parecer alguém em busca de autopromoção, algo que
abomino. Por outro lado, não arredo pé de uma boa discussão, o que sempre me parece salutar. Por isso resolvi aceitar o convite a expor minha opinião, já distorcida desde então.

Reconheço que minha carta, curta, grossa e escrita num instante
emocionado, num impulso, não é um primor de clareza e sabia que corria o risco de interpretações toscas. Mas há momentos em que me parece necessário botar a boca no trombone, nem que seja para não poluir o fígado com rancores inúteis. Como uma provocação.
Foi o que fiz. Foi o que fez Huck, revoltado ao ver lesado seu
patrimônio, sentimento, aliás, legítimo. Eu também reclamaria caso
roubassem algo comprado com o suor do rosto. Reclamaria na mesa de
bar, em família, na roda de amigos. Nunca num jornal.
Esse argumento, apesar de prosaico, é pra mim o xis da questão. Por que um cidadão vem a público mostrar sua revolta com a situação do país, alardeando senso de justiça social, só quando é roubado?

Lançando mão de privilégio dado a personalidades, utiliza um espaço de debates políticos e adultos para reclamações pessoais (sim, não fez
mais que isso), escorado em argumentos quase infantis, como "sou cidadão, pago meus impostos". Dias depois, Ferréz, um porta-voz da periferia, escreveu texto no mesmo espaço, "romanceando" o ocorrido.
Foi acusado de glamourizar o roubo e de fazer apologia do crime.
Antes que me acusem de ressentido ou revanchista, friso que lamento a
violência sofrida por Huck. Não tenho nada pessoalmente contra ele, de quem não sei muito. Considero-o um bom profissional, alguém dotado de certa sensibilidade para lidar com o grande público, o que por si só
me parece admirável. À distância, sei de sua rápida ascensão na TV. É, portanto, o que os mitificadores gostam de chamar de "vencedor". Alguém que conquista seu espaço à custa de trabalho me parece digno de
admiração. E-mails de leitores que chegaram até mim (os mais brandos me chamavam de "marxista babaca" e "comunista de museu") revelam uma confusão terrível de conceitos (e preconceitos) e idéias mal formuladas (há raras exceções) e me fizeram reafirmar minha triste tese de botequim de que o pensamento do nosso tempo está embotado, e as pessoas,
desarticuladas.

Vi dois pobres estereótipos serem fortemente reiterados. Os que
espinafraram Huck eram "comunistas" , "petistas", "fascistas". Os que o apoiavam eram "burgueses", "elite", palavra que desafortunadamente usei em minha carta. Elite é palavra perigosa e, de tão levianamente
usada, esquecemos seu real sentido. Recorro ao "Houaiss": "Elite - 1.
o que há de mais valorizado e de melhor qualidade, especialmente em um grupo social [este sentido não se aplica à grande maioria dos ricos brasileiros] ; 2. minoria que detém o prestígio e o domínio sobre o grupo social [este, sim]".
A surpreendente repercussão do fato revela que a disparidade social é um calo no pé de nossa sociedade, para o qual não parece haver remédio -desfilaram intolerância e ódio à flor da pele, a destacar o espantoso
texto de Reinaldo Azevedo, colunista da revista "Veja", notório reduto da ultradireita caricata, mas nem por isso menos perigosa. Amparado em
uma hipócrita "consciência democrática", propõe vetar o direito à expressão (represália a Ferréz), uma das maiores conquistas do nosso ralo processo democrático. Não cabendo em si, dispara esta pérola: "Sem ela [a propriedade privada], estaríamos de tacape na mão, puxando
as moças pelos cabelos". Confesso que me peguei a imaginar esse sr. de tacape em mãos, lutando por seu lugar à sombra sem o escudo de uma
revista fascistóide. Os idiotas devem ter direito à expressão, sim,
sr. Reinaldo. Seu texto é prova disso.

Igual direito de expressão foi dado a Huck e Ferréz. Do imbróglio,
sobram-me duas parcas conclusões. A exclusão social não justifica a
delinqüência ou o pendor ao crime, mas ninguém poderá negar que alguém
sem direito à escola, que cresce num cenário de miséria e abandono,
está mais vulnerável aos apelos da vida bandida. Por seu turno,
pessoas públicas não são blindadas (seus carros podem ser) e estão
sujeitas a roubos, violências ou à desaprovação de leitores,
especialmente se cometem textos fúteis sobre questões tão críticas
como essa ora em debate.
Por fim, devo dizer que sempre pensei a existência como algo muito
mais complexo do que um mero embate entre ricos e pobres, esquerda e direita, conservadores e progressistas, excluídos e privilegiados. O tosco debate em torno do desabafo nervoso de Huck pôs novas pulgas na minha orelha. Ao que parece, desde as priscas eras, o problema do mundo é mesmo um só -uma luta de classes cruel e sem fim.

JOSÉ DE RIBAMAR COELHO SANTOS, 41, o Zeca Baleiro, é cantor e compositor maranhense. Tem sete discos lançados, entre eles, "Pet Shop Mundo Cão".

Antonio Cicero disse...

Sappho,
Sim, a partir de "um tremor", o trecho que você cita da canção está nesse fragmento. Mas a ordem foi mudada para caber na canção. Em grego seria:

tromos de
paisan agrei,
kade m’ idrôs kakcheetai,
ôs me phônê-
s’ ouden et’ eikei
glôssa eage lepton


Abraço,
Antonio Cicero

Anônimo disse...

Prezado Antonio Cicero,

Desculpe-me. Mas julgo a transliteração meio esquisita.Por que não grafar em grego mesmo? Fica-me parecendo aquelas traduções dos textos de Heidegger.
Muito obrigado...
wilson luques costa

Antonio Cicero disse...

Wilson,

você tem razão, mas eu não tenho fontes gregas que funcionem no blog. As fontes gregas que uso no Word não funcionam aqui.

Abraço,
ACicero

sappho disse...

O problema de utilizar o grego e não o texto romanizado é o suporte. Se o suporte ao texto não estiver instalado no sistema operacional de quem olhar a página, esse texto se mostrará como caracteres estranhos, enquanto que o suporte aos caracteres do texto romanizado é comum. Além disso, o blogger também precisa aceitar o character encoding.

Priscila

sandro so disse...

Cícero, rapaz, muito bom esse artigo do Zeca.
De qualquer modo, tenho a leve impressão de que no Brasil estamos confundindo alhos com bugalhos. Todo crime, estamos de acordo, deve ser punido. Já a violência é parte de toda sociedade, ainda mais daquelas que surgiram como colônia e se tornaram independentes sobre a escravidão. Mais do que um crescimento do crime, acho que presenciamos uma generalização da violência, que antes se dava de cima para baixo, por todas as direções da sociedade brasileira. Violência simbólica, posturas agressivas, busca do dissenso, como escreveu o Marcelo Coelho na Folha, e discursos reativos. Acho que, se o crime, estamos de acordo, deve ser punido pontualmente, a agressividade, flagrante e parte da história brasileira, só se escancarou. E essa violência não se resolverá pela ação da polícia, como o crime. Eu acho...
Grande abraço,
Sandro

Aldemar Norek disse...

As ponderações do artigo da Alba Zaluar são válidas e sensatas em muitos termos, mas usam a própria lógica do próprio capitalismo para conduzir a discussão. Claro que a defesa do roubo como elemento de justiça social é uma degeneração do pensamento e um atestato de falência do sistema,na medida em que cabeças pretensamente inteligentes o defendem. Num outro extremo, defender que num país de tantas desigualdades alguém possa portar bens absolutamente supérfluos numa atitude de ostentação explícita (ou de desligamento da realidade) como a gente bem sabe que grande parte de nossas elites faz, com carros, celulares, roupas, jóias, etc. Exibir faz parte do processo. Não basta possuir, seja por mérito real ou por meios ilícitos (leia-se: corruptos,lobistas, traficantes da elite ou meramente empresários sem escrúpulo que praticam todo e qualquer ato em função do sucesso pessoal). O discurso aqui é: "de que adianta ter se não posso mostrar?", como se a exibição ao olhar alheio fosse parte itegrante do processo do sucesso, este valor tão questionável. E é, nos termos do capitalismo, da filosofia do marketing, do espírito de competição extrema. Enfim, colocam-se banalidades em altares, sem perceber que os pés destes altares são de um barro frágil demais.É o que atesta toda esta discussão sobre o caso Luciano Huck.
Outro ponto ruim do artigo, totalmente imerso na lógica do capitalismo, é a generalização sobre os rappers, partindo unicamente da observação dos casos norte-americanos. Realmente deve ser difícil numa sociedade como a deles alguém sair do círculo da banalidade e desejar ser o que não é, desejar ser algo pior do que se é. Asaída realmente nãopode vir do centro nestes casos, porque o centro só quer ser o que já é, e aprofundar-se nisso,radicalizar (e aí tavez -minha esperança- encontrar seu fim).
Asaída só pode vir das periferias, talvez de um povo moreno e miscigenado como o nosso, que aceita a diferença (que parcelas representativas da elite e da classe média não reconhecem,com seu desejo pelo centro).
No casoespecífico do hip-hop posso citar como expemplo o caso dos rapazes do Nação Maré aqui no RJ,que além de produzirem um rap de qualidade apartir do material de suas vidas,que em nenhum momento glorifica o crime ou atitudes niilistas como apoiar o roubo, sem deixar de dar conta das contradições de seu (nosso) mundo ("É um mundo louco, cara"), comose não bastasseisso, tiram muitosmenores dasmãos do crime com suas oficinas de rap, grafite, street-dance, aulas de espanhol e outras. Estão também montando umabiblioteca lá no complexo de favelas da Maré. Inclusive sugiro que em vez de apenas criticar, arregacemos as mãos no sentido de ações deste quilate.
Ou então a gente espera sentado a catástrofe, torcendo pela ajuda da tropa de elite.

Antônio,grande abraço. Sua primeira aula foi uma delícia para o pensamento.

Lucas Nicolato disse...

Aldemar,

Concordo que a generalização sobre os rappers foi grosseira. E também me parece que a intenção do Zeca Baleiro, nem do Ferrez, fosse fazer apologia do crime. De qualquer forma, não concordo com sua crítica à ostentação. É claro que alguém que compra um relógio quer usá-lo em qualquer ambiente.
Outra crítica da qual discordo é a de que a elite consume produtos caros demais. Ora, se um rolex custa 50.000 reais, isso não significa que deixar de produzir 100 relógios geraria um excedente de produção capaz de ser redirecionado para a construção de centenas de casas. O preço de mercado do rolex é que é 50mil e não seu custo de produção. De fato, desperdício muito maior ocorreria se um rolex, em vez de 50mil, custasse 50 reais, pois assim seria consumido aos milhares desviando parcela importante dos recursos produtivos.
Os tênis de 300 reais geram um prejuizo social muito maior que os de 30.000. A acumulação capitalista depende da produção em massa para milhões. Só assim a concentração de renda ocorre. Artigos de luxo são, de fato, redistribuidores de renda, mesmo quando não são roubados.

um abraço,
lucas

Aldemar Norek disse...

Lucas, meu irmão,
minha posição é talvez mais estética (ou ética?) de que tudo que é demais está sobrando. Claro que isto é muito pessoal.
Só mencionei o sintoma (acho que este é um termo em tudo apropriado) de transferir para a embalagem o valor que deveria estar no conteúdo.
Em relação à lógica do dinheiro, da sua circulação, de como isto distribui (em tese, em tese, isto seria outra discussão) a renda através da coleta dos impostos, etc, foi exatamente do que procurei fugir no post, já que vivo mergulhado nestes números todo dia, de uma certa forma. E também por achar que toda discussão sobre estes assuntos acaba caino nisto, como um clichê, uma cortina de fumaça.
abração