L'Ennemi
Ma jeunesse ne fut qu’un ténébreux orage,
Traversé çà et là par de brillants soleils ;
Le tonnerre et la pluie ont
fait un tel ravage,
Qu’il reste en mon jardin bien peu de fruits vermeils.
Voilà que j’ai touché l’automne des idées,
Et qu’il faut employer la
pelle et les râteaux
Pour rassembler à neuf les terres inondées,
Où l’eau creuse des trous
grands comme des tombeaux.
Et qui sait si les fleurs nouvelles que je rêve
Trouveront dans ce sol lavé
comme une grève
Le mystique aliment qui ferait leur vigueur ?
– Ô douleur ! ô
douleur ! Le Temps mange la vie,
Et l’obscur Ennemi qui nous ronge le cœur
Du sang que nous perdons croît et se fortifie !
O inimigo
A juventude não foi mais que um temporal,
Aqui e ali por sóis ardentes trespassado;
As chuvas e os trovões causaram dano tal
Que em meu pomar não resta um fruto sazonado.
Eis que alcancei o outono de meu pensamento,
E agora o ancinho e a pá se fazem necessáros
Para outra vez compor o solo lamacento,
Onde profundas covas se abrem como ossários.
E quem sabe se as flores que meu sonho ensaia
Não achem nessa gleba aguada como praia
O místico alimento que as fará radiosas?
Ó dor! O Tempo faz da vida uma carniça,
E o sombrio Inimigo que nos rói as rosas
No sangue que perdemos se enraíza e viça!
BAUDELAIRE,
Charles: "L'ennemi" / "O inimigo", in As flores do
mal. Trad. de Ivan Junqueira (Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira,
1985).
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