Oh, como se me alonga, de ano em ano,
A peregrinação cansada minha!
Como se encurta, e como ao fim caminha
Este meu breve e vão discurso humano!
Vai-se gastando a idade e cresce o dano;
Perde-se-me um remédio, que inda tinha;
Se por experiência se adivinha,
Qualquer grande esperança é grande engano.
Corro após este bem que não se alcança;
No meio do caminho me falece,
Mil vezes caio, e perco a confiança.
Quando ele foge, eu tardo; e, na tardança,
Se os olhos ergo a ver se inda parece,
Da vista se me perde e da esperança.
CAMÕES, Luís de. "Oh, como se me alonga, de ano em ano". In:_____. Lírica. São Paulo: Cultrix, 1981.
4 comentários:
Eu nao sabia que Camoes pudesse soar tao contemporaneo, falo em termos de linguagem mesmo. É uma adaptacao? Caso sim, de quem, por favor? Abraco fraterno de Budapeste. Ps. Perdao pela falta de acentos.
Esse é o poema para rapaz relativamente novo mas com cabeça de velho :))
Queria compartilhá-lo em alguma rede social só para registrar, porque gostei dele, e porque é a 1a vez que eu leio Camões e ele me agrada, mas fico receoso de estar alimentando a melancolia do começo dos 30... --alguém me disse que ela existia.
"Vai-se gastando a idade e cresce o dano", eu acho essa linha tao cheia de vigor, embora ela diga o oposto.
Caro Anônimo,
não, não é uma adaptação. É Camões mesmo.
Abraço
No meio do caminho tinha um bem que não se alcança.
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