10.3.19

Constatinos Caváfis: "O primeiro degrau"




O primeiro degrau

Foi a Teócrito queixar-se um dia
Eumene, poeta ainda jovem:
“Faz dois anos que escrevo e até agora
compus apenas um idílio.
Esse, o meu único trabalho pronto.
Pobre de mim! Pelo que vejo, é alta,
deveras alta, a escada da Poesia.
Estou no primeiro degrau: jamais,
infeliz que sou, chegarei ao topo.”
“Essas palavras”, respondeu Teócrito,
“são um despropósito, blasfêmias.
Se estás no primeiro degrau, cumpria
te sentires feliz e envaidecido.
Chegar onde chegaste não é pouco,
nem é pequena glória o que fizeste.
Do primeiro degrau da mesma escada
está bem distante o comum das pessoas.
Para pisar esse degrau de ingresso,
necessário é que sejas, por direito,
cidadão da cidade das ideias –
um título difícil: raramente
fazem-se ali naturalizações.
De quantos na sua ágora legislam,
aventureiro algum pode zombar.
Chegar onde chegaste não é pouco,
nem é pequena glória o que fizeste.”





KAVÁFIS, K. "O primeiro degrau". In: PAES, José Paulo (org. e trad.). Poesia moderna da Grécia. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.



2 comentários:

léo disse...

Salve Cícero! Há quanto tempo não vinha por aqui e, logo ao chegar, me deparo com esse poema e, emocionado, vejo que estou na sua casa. Saudades, poeta imenso, saudades. Abç

Antonio Cicero disse...

Benvindo de volta, Léo! Saudades também!
Abraço