6.7.15

Arthur Rimbaud: "Âge d'or" / "Idade de ouro": trad. Ivo Barroso




Idade de ouro

Qualquer voz assim
Angélica e rica
– Trata-se de mim, –
De cara se explica

O mar de questões
E toda procura
Não trazem senão
Ebriez e loucura;

Reconhece o humor
Tão fácil, que brilha,
É tudo onda, flora,
E é tua família!

Pois ela canta. Ó
Tão fácil, tranquila.
Visível a olho nu...
– eu canto com ela, –

Reconhece o humor
Tão fácil, que brilha,
É tudo onda, flora,
E é tua família!

E uma voz enfim
– Angélica e rica! –
Trata-se de mim,
É claro, se explica;

Num hálito irmão
Canta de repente
Em tom alemão
Mas sonora e ardente:

O mundo é vicioso,
Se isso te apavora!
Vive e deita ao fogo
A desgraça obscura.

Ó belo castelo!
Tua vida é pura!
De que idade és tu,
Príncipe natura
Desse irmão mais velho! etc...

Também canto: em voz,
Mil irmãs que sois,
Não de todo pública!
Envolvei-me vós
De uma glória abúlica... etc...



Âge d'or

Quelqu'une des voix
Toujours angélique
– Il s'agit de moi, –
Vertement s'explique :

Ces mille questions
Qui se ramifient
N'amènent, au fond,
Qu'ivresse et folie ;

Reconnais ce tour
Si gai, si facile :
Ce n'est qu'onde, flore,
Et c'est ta famille !

Puis elle chante. Ô
Si gai, si facile,
Et visible à l'oeil nu...
- Je chante avec elle, -

Reconnais ce tour
Si gai, si facile,
Ce n'est qu'onde, flore,
Et c'est ta famille !

Et puis une voix
– Est-elle angélique ! –
Il s'agit de moi,
Vertement s'explique ;

Et chante à l'instant
En soeur des haleines :
D'un ton Allemand,
Mais ardente et pleine :

Le monde est vicieux ;
Si cela t'étonne !
Vis et laisse au feu
L'obscure infortune.

Ô ! joli château !
Que ta vie est claire !
De quel Âge es-tu,
Nature princière
De notre grand frère ! etc...

Je chante aussi, moi :
Multiples soeurs ! voix
Pas du tout publiques !
Environnez-moi
De gloire pudique... etc...



RIMBAUD, Arthur. "Âge d'or" / "Idade de ouro". Trad. Ivo Barroso. In:_____. Poesia completa. Edição bilingüe. Rio de Janeiro: Topbooks, 1995.

4 comentários:

ADRIANO NUNES disse...

Cicero,


que belo poema! Salve Rimbaud! Grato por compartilhá-lo!


Abraço forte,
Adriano Nunes

Anônimo disse...

Arsenio Meira Junior

Cicero,

Rimbaud... dispensa comentários! Magnífico. Nestes dias de crise aguda, em todos os setores, inclusive o setor emocional (as pessoas estão dizimando a existência), segue um poema do grande poeta cubano Heberto Padilla. Mais do que um exemplo, uma lição invencível.

"EM TEMPOS DIFÍCEIS

Pediram àquele homem seu tempo
para que o juntasse ao tempo da história;
pediram-lhe suas mãos,
pois para uma época difícil
não há nada melhor que um par de boas mãos.

Pediram-lhe os olhos
que outrora tiveram lágrimas
para que contemplasse o lado claro,
(especialmente o lado claro da vida),
pois para o horror basta um olho de assombro.

Pediram-lhe seus lábios
ressecados e rachados para afirmar,
para edificar, com cada afirmação, um sonho
(o-alto-sonho);

pediram-lhe as pernas
duras e nodosas
(suas velhas pernas andarilhas),
pois, em tempos difíceis,
há algo melhor que um par de pernas
para a construção ou para a trincheira?

Pediram-lhe o bosque que o nutriu quando criança,
com sua árvore obediente.
Pediram-lhe o peito, o coração, os ombros.

Disseram-lhe
que isso era estritamente necessário.

Explicaram-lhe depois
que tudo o que doara seria inútil
sem que entregasse a língua,
pois em tempos difíceis
nada é tão útil para interceptar
o ódio ou a mentira.

E finalmente lhe rogaram
que, por favor, começasse a andar,
pois em tempos difíceis
esta é, sem dúvida, a prova decisiva."

HERBERTO PADILLA
Tradução de Nelson Ascher
(In: Poesia alheia; 124 poemas traduzidos.Rio de Janeiro: Imago, 1998)

Anônimo disse...

Opa que esqueci de postar, rsrs.
"Com o abraço do leitor e admirador
Arsenio"

Wendy Loyola Fernandes disse...

Maravilhoso!