Francisca
Francisca veio do lá do Piaui
quando
era ainda quase uma criança
e
já chegou sonhando em retornar
e
cultivar em meio a certas brenhas
algum
roçado junto à sua mãe,
pois
lá ficara o mundo de verdade:
o
sol a chuva a noite a festa a morte.
Um
certo norte está onde ela está,
em
frente à praia de Copacabana,
onde
ela faz cuscuz, beiju ou peta,
e
seu sotaque não sei se é mais forte
quando
ela ralha com o feirante esperto
ou
quando prosa com a mãe ausente
ou
o sabiá pousado em sua mão.
Entre o Nordeste que deixou na infância
e
o Sul que nunca pareceu real
Francisca
tem saudade de uns lugares
que
passam a existir quando ela os pinta:
são
mares turquesinos e espumantes
em
frente a uns casarões abandonados
que,
não sei bem por que, nos desamparam.
CICERO, Antonio. "Francisca". In:_____. A cidade e os livros. Rio de Janeiro: Record, 2002.
Um comentário:
Cicero,
grato por compartilhar o seu belo poema! Gosto muito desse poema pois tenho um irmão Francisco e uma irmã Francisca!
Abraço forte,
Adriano Nunes
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