22.11.14

Jorge Luis Borges: "Ewigkeit" / "Ewigkeit": trad. Augusto de Campos




Ewigkeit

Torne en mi boca el verso castellano
A decir lo que siempre está diciendo
Desde el latín de Séneca: el horrendo
Dictamen de que todo es del gusano.

Torne a cantar la pálida ceniza,
Los fastos de la muerte y la victoria
De esa reina retórica que pisa
Los estandartes de la vanagloria.

No así. Lo que mi barro ha bendecido
No lo voy a negar como un cobarde.
Sé que una cosa no hay. Es el olvido;

Sé que en la eternidad perdura y arde
Lo mucho y lo precioso que he perdido:
Esa fragua, esa luna y esa tarde.


Ewigkeit

Torne-me à boca o verso castelhano,
A dizer o que sempre está dizendo
Desde o latim de Sêneca : o horrendo
Ditame de que o verme é soberano.

Torne a cantar a palidez da cinza,
Os fastígios da morte e a vitória
Da rainha retórica que pisa
Os estandartes ocos da vanglória.

Não assim. O meu barro agradecido
Eu não o vou negar como um covarde.
Sei que não há uma coisa : é o olvido.

Sei que na eternidade dura e arde
O muito e o melhor por mim perdido :
Esta frágua, esta lua e esta tarde.



BORGES, Jorge Luis. "Ewigkeit". In: CAMPOS, Augusto de. Quase Borges. 20 poemas e uma entrevista. São Paulo: Terracota, 2012.

Um comentário:

ADRIANO NUNES disse...

Cicero,


belíssimo poema! Grato por compartilhá-lo Salve Borges! Salve Augusto pela tradução primorosa!


Abraço forte,
Adriano Nunes