20.8.22

Diego Mendes Sousa: AVE DOÍDA

 



Ave doída



O poeta

é aquele

ser risível 

que opera,

pesa, sente,

sangra 

e galopa

insano.


Dói

o espanto

e se 

descoisificam

os nomes.


Como dói o espanto?

Como dói o espanto!

Como dói o espanto.


O poeta dói-dói

é essa ave doída

ridícula e ferida

que sonda

o abismo

o tempo

a vida


as ruínas


e voa

só voa só voa

só voa







SOUSA, Diego Mendes. AVE DOÍDA

3.8.22

UNGARETTI, Giuseppe. "Non gridate più" / "Não gritai mais"

 



Não gritai mais


Cessai de matar os mortos,

Não gritai mais, não gritai

Se quereis ainda ouvi-los,

Se esperais não perecer.


É imperceptível seu sussurro,

Não fazem rumor mais forte

Que o da relva quando cresce,

Onde não passa nenhum homem.






Non gridate più



Cessate d’uccidere i morti,

Non gridate più, non gridate

Se li volete ancora udire,

Se sperate di non perire.


Hanno l’impercettibile sussurro,

Non fanno più rumore

Del crescere dell’erba,

Lieta dove non passa l’uomo.









UNGARETTI, Giuseppe. "Non gridate più" / "Não gritai mais". In:_____ "La dolore" / "A dor". In:_____. Poemas. Edição bilingue. Trad. por Geraldo Holanda Cavalcanti. São Paulo: USP, 2017.