30.11.11
Eugénio de Andrade: "O rapaz de Pasolini"
O rapaz de Pasolini
Tem o braço levantado para o sol
que rompe muito distante ainda
do seu sonho; é um rapaz
desses do Pasolini esplendidamente
nu, plantado na terra;
o braço direito,
como já disse, levantado; o outro
cai-lhe sem abandono ao longo
do corpo; o sorriso
começa nos olhos de sua mãe
e nele a mágoa
de ser traído não se anuncia
ainda; o futuro
talvez venha a ter gente assim
feita da substância
da luz; o vagaroso futuro;
o presente não, não tem.
ANDRADE, Eugénio de. O sal da língua. Porto: Fundação Eugénio de Andrade, 1995.
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Poema
28.11.11
Show de Arthur Nogueira e Bruno Cosentino
No dia 1 de dezembro -- quinta-feira --, no Solar de Botafogo (rua General Polidoro, 180), às 21:30h, terá lugar o show "Song Without Music", dos excelentes Arthur Nogueira e Bruno Cosentino.
Eucanaã Ferraz e eu teremos participações especiais nesse show.
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27.11.11
Paulo Henriques Britto: "Ontologia sumaríssima"
Ontologia sumaríssima
Umas quatro ou cinco coisas,
no máximo, são reais.
A primeira é só um gás
que provoca a sensação
de que existe no mundo
uma profusão de coisas.
A segunda é comprida,
aguda, dura e sem cor.
Sua única serventia
é instaurar a dor.
A terceira é redondinha,
macia, lisa, translúcida,
e mais frágil do que espuma.
Não serve para coisa alguma.
A quarta é escura e viscosa,
como uma tinta. Ela ocupa
todo e qualquer espaço
onde não se encontre a quinta
(se é que existe mesmo a quinta),
a qual é uma vaga suspeita
de que as quatro acima arroladas
sejam tudo o que resta
de alguma coisa malfeita
torta e mal-ajambrada
que há muito já apodreceu.
Fora essas quatro ou cinco
não há nada,
nem tu, leitor,
nem eu.
BRITTO, Paulo Henriques. Mínima lírica. São Paulo: Duas Cidades, 1989.
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Poema
26.11.11
Página Antonio-Cicero-Oficial no Facebook
Conforme anunciou em comentário ao post "Palestra de Evando Nascimento: 'Criação Literária'", Adriano Nunes, a partir de uma sugestão de Nobile José, e com minha autorização, criou e administra uma página ANTONIO-CICERO-OFICIAL no Facebook. O endereço é: https://www.facebook.com/pages/ANTONIO-CICERO-OFICIAL/165079170257621?sk=info.
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24.11.11
Palestra de Evando Nascimento: "Criação Literária"
No dia 28 do corrente, às 18h, terá lugar no Salão Nobre do 11º andar do Campus Maracanã da UERJ a palestra "Criação Literária", do escritor Evando Nascimento. Na ocasião será projetado o vídeo arte do artista plástico Roberto Vieira da Cruz, e serão lançados os seguintes livros:
Cantos do mundo (contos), de Evando Nascimento;
Antonio Vieira 400 anos, org. por Ana Lúcia M. de Oliveira;
Literatura brasileira em foco IV: o eu e o outro (ensaios), de vários autores.
LOCAL:
28/11/2011, 18h. Salão Nobre, 11º andar UERJ, Campus Maracanã
23.11.11
Carlos de Oliveira: "Bolor"
Bolor
Os versos
que te digam
a pobreza que somos
o bolor
nas paredes
deste quarto deserto,
os rostos a apagar-se
no frémito
do espelho
e o leito desmanchado
o peito aberto
a que chamaste
amor
OLIVEIRA, Carlos de. Trabalho poético. Lisboa: Assírio & Alvim, 2003.
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20.11.11
José Albano: "Soneto"
Soneto
Poeta fui e do áspero destino
Senti bem cedo a mão pesada e dura.
Conheci mais tristeza que ventura
E sempre andei errante e peregrino.
Vivi sujeito ao doce desatino
Que tanto engana, mas tão pouco dura;
E inda choro o rigor da sorte escura,
Se nas dores passadas imagino.
Porém, como me agora vejo isento
Dos sonhos que sonhava noite e dia,
E só com saüdades me atormento;
Entendo que não tive outra alegria
Nem nunca outro qualquer contentamento
Senão de ter cantado o que sofria.
ALBANO, José. "Soneto". In: CAMPOS, Paulo Mendes. Forma e expressão do soneto. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Saúde, 1952.
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19.11.11
Lançamento do livro de Noemi Jaffe: "
No sábado, 26 de novembro, ocorrerá o lançamento do livro de Noemi Jaffe, Quando nada está acontecendo, na Livraria da Villa (Rua Fradique Coutinho, 915, Villa Madelna, São Paulo). Embora eu more no Rio, não quero perder essa ocasião, pois adoro tudo o que a Noemi escreve, de modo que farei o possível para estar lá.
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18.11.11
William Carlos Williams: "A sort of song" / "Espécie de canção": trad. de Antonio Cicero
A sort of song
Let the snake wait under
his weed
and the writing
be of words, slow and quick, sharp
to strike, quiet to wait,
sleepless.
– through metaphor to reconcile
the people and the stones.
Compose. (No ideas
but in things) Invent!
Saxifrage is my flower that splits
the rocks.
Espécie de canção
Deixar a cobra espreitar sob
a erva
e a escrita
ser palavras, lentas e rápidas, afiadas
ao golpear, quietas ao aguardar,
insones.
– pela metáfora reconciliar
pessoas e pedras.
Compor. (Nenhuma ideia
senão nas coisas.) Inventar!
Saxífraga é minha flor que cinde
rochas.
WILLIAMS, William Carlos. "The wedge". In:_____. The collected poems of William Carlos Williams. Vol.2. New York: New Directions, 1986.
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Exposição de Marcelo Pies: "Figuras: a invenção de si"
É uma beleza a exposição "Figuras: a invenção de si", de Marcelo Pies, com a curadoria de Luciano Figueiredo, no Oi Futuro Ipanema.
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14.11.11
Juan Ramón Jiménez: "Soledad" / "Solidão": trad. de Antonio Cicero
Soledad
En ti estás todo, mar, y sin embargo,
¡qué sin ti estás, qué solo,
qué lejos, siempre, de ti mismo!
Abierto en mil heridas, cada instante,
cual mi frente,
tus olas van, como mis pensamientos,
y vienen, van y vienen,
besándose, apartándose,
con un eterno conocerse,
mar, y desconocerse.
Eres tú, y no lo sabes,
tu corazón te late y no lo siente...
¡Qué plenitud de soledad, mar solo!
Solidão
Em ti estás todo, mar, e contudo
como estás sem ti, e só,
e longe, sempre, de ti mesmo!
Aberto em mil feridas, cada instante,
qual minha fronte,
tuas ondas vão, como meus pensamentos,
e vêm, vão e vêm,
beijando-se, separando-se,
num eterno conhecer-se,
mar, e desconhecer-se,
És tu e não o sabes,
teu coração te late e não o sente...
Que plenitude de solidão, mar só!
JIMÉNEZ, Juan Ramón. "Soledad". In: RICO, Francisco (org.). Mil años de poesía española. Antologia comentada. Barcelona: Planeta, 1996.
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Poema
8.11.11
5.11.11
Vinícius de Moraes: "Máscara mortuária de Graciliano Ramos"
Máscara mortuária de Graciliano Ramos
Feito só, sua máscara paterna,
Sua máscara tosca, de acre-doce
Feição, sua máscara austerizou-se
Numa preclara decisão eterna.
Feito só, feito pó, desencantou-se
Nele o íntimo arcanjo, a chama interna
Da paixão em que sempre se queimou
Seu duro corpo que ora longe inverna.
Feito pó, feito pólen, feito fibra
Feito pedra, feito o que é morto e vibra
Sua máscara enxuta de homem forte.
Isto revela em seu silêncio à escuta:
Numa severa afirmação da luta,
Uma impassível negação da morte.
MORAES, Vinícius de. Nova antologia poética. Org. por Antonio Cicero e Eucanaã Ferraz. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
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2.11.11
Rainer Maria Rilke: "Der Dichter" / "O poeta": tradução de Augusto de Campos
Der Dichter
Du entfernst dich von mir, du Stunde.
Wunden schlägt mir dein Flügelschlag.
Allein: was soll ich mit meinem Munde?
mit meiner Nacht? mit meinem Tag?
Ich habe keine Geliebte, kein Haus,
keine Stelle auf der ich lebe
Alle Dinge, an die ich mich gebe,
werden reich und geben mich aus.
O poeta
Já te despedes de mim, Hora.
Teu golpe de asa é o meu açoite.
Só: da boca o que faço agora?
Que faço do dia, da noite?
Sem paz, sem amor, sem teto,
caminho pela vida afora.
Tudo aquilo em que ponho afeto
fica mais rico e me devora.
RILKE, Rainer Maria. "Novos poemas I / Neue Gedichte I". In: CAMPOS, Augusto. Coisas e anjos de Rilke. São Paulo: Perspectiva, 2007.
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