30.10.16
Paulo Leminski: "Sossegue coração"
Sossegue coração
Sossegue coração
ainda não é agora
a confusão prossegue
sonhos afora
calma calma
logo mais a gente goza
perto do osso
a carne é mais gostosa
LEMINSKI, Paulo. "Sossegue coração". In: MORAES, Eliane Robert (org.).Antologia da poesia erótica brasileira. Cotia: Ateliê, 2015.
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Poema
27.10.16
Walter Savage Landor: "Epitaph" / "Epitáfio": trad. Nelson Ascher
Com 74 anos, o poeta Walter Savage Landor escreveu um epitáfio para si próprio. Ei-lo, seguido da bela tradução que dele fez o poeta Nelson Ascher:
Epitaph
I strove with none, for none was worth my strife:
Nature I loved and, next to Nature, Art.
I warm`d both hands before the fire of Life;
It sinks; and I am ready to depart.
Epitáfio
Não comprei briga: ninguém deu pro gasto.
Gostava de arte e amei a natureza.
Quentes as mãos do fogo, quase exausto
Da vida, eu me despeço sem tristeza.
LANDOR, Walter Savage. "Epitaph". In: Poetry Foundation. https://www.poetryfoundation.org/poems-and-poets/poems/detail/44562. October 17, 2016.
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Walter Savage Landor
26.10.16
Arthur Nogueira lança disco PRESENTE em show de que participarei
O
álbum PRESENTE, que meu amigo, o cantor e compositor Arthur
Nogueira, fez para homenagear os meus 70 anos, será lançado no domingo, dia 06 de
novembro, no teatro do SESC Pompeia. Arthur cantará canções cujas letras compus
para parceiros como Adriana Calcanhotto, João Bosco, José Miguel Wisnik, Lulu
Santos, Marina Lima, Orlando Moraes, Roberto Frejat, Waly Salomão e ele mesmo.
E eu recitarei alguns poemas meus e de alguns poetas que admiro. Apareçam! Prometo que estaremos de frente para a plateia.
O link para a compra de ingressos é: https://goo.gl/kos4OY.
Clique no poster de Gabriel Martins, para
ampliá-lo:
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show
24.10.16
Age de Carvaho: "E brilha"
E BRILHA: estar
dentro dela
e poder vê-la -- a Via Láctea,
a trilha ao sem-fim
de mim, estrela
vista
daquele pier de Salinas,
o céu-juventude,
alcoóis, fulgurações
na noite admirada,
comigo
ainda, em viagem.
CARVALHO, Age de. "E brilha". In:_____. Ainda: em viagem. Belém: ed.ufpa, 2015.
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Poema
22.10.16
Dirce de Assis Cavalcanti: "A ideia de lirismo no selvagem"
A ideia de lirismo no selvagem.
Ser filho de si mesmo, inventar-se,
por mais estranho e diferente
que pareça.
Ser outro em sendo o mesmo.
Tesouro ou castigo. Leveza de rede,
ou peso de pedra, que se carrega,
além da própria força.
Alvoroçar o silêncio,
enchê-lo de palavras,
aniquilar a tristeza com a bomba
explosiva de uma gargalhada.
É tudo uma questão de olhar bem
o que se vê.
Não se deixar esmagar pelo pé
todo poderoso do destino.
CAVALCANTI, Dirce de Assis. "A ideia de lirismo no selvagem". In:_____. Dia a dia. Rio de Janeiro: Ibis Libris, 2016.
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Poema
21.10.16
Antonio Cicero e Angélica Freitas com Eduardo Coelho, no Núcleo de Estudos de Poesia
No dia 11 do corrente, participei, no PACC -- Programa Avançado de Cutura Contemporânea da UFRJ -- junto com a poeta Angélica Freitas, de uma mesa do Núcleo de Estudos sobre Poesia, concebido pelos professores Eduardo Coelho, Eucanaã Ferraz e Heloisa Buarque de Hollanda. Vejam no YouTube, aqui:
https://www.youtube.com/watch?v=2s3U-haYooA
18.10.16
Adriano Nunes: "A palavra"
Obrigado por me ter dedicado esse belo poema, Adriano!
"A palavra" - para
Antonio Cicero
A libélula,
Bela como
Ela é,
Bela como
Ela é,
Leve como
Ela é,
Foi lagarta
Ela é,
Foi lagarta
Até. Como
Ela voa
Tão libérrima!
Ela voa
Tão libérrima!
Grita o verso
Incompleto:
"Volta, volta!"
Incompleto:
"Volta, volta!"
A palavra,
Já cansada
De ter asas,
Já cansada
De ter asas,
Pousa na
Folha alva.
O que a aguarda?
Folha alva.
O que a aguarda?
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15.10.16
Alexandre O'Neill: "O fanhoso de Minnesota"
Agradeço a Adriano Nunes por me ter chamado a atenção para um texto -- postado por nosso amigo comum Domingos da Mota -- que o grande poeta português Alexandre O'Neill escreveu sobre Bob Dylan mais de quarenta anos atrás:
"Alexandre O'Neill: "O Fanhoso de Minnesota"
Mais do que uma característica vocal, a "fanhosez" (real ou por mim imaginada?) de Bob Dylan é uma qualidade estilística alimentada por uma recusa, um a contrapelo de quem sabe, muito conscientemente, conter-se na efusão do sentimento e, até, "desmentir" no cantar a palavra que canta.
Não que ele desminta a palavra a nível do conceito e da "mensagem". O que acontece é que Dylan a rejeita como lugar-comum cantabile, como repositório-comum de sentimentos pré-catalogados e como air de bravoure. Diríamos que Dylan não maiusculiza nada. As massas verbais que, sem ornatos, debita dão conta de muita coisa bela, grande, divertida ou terrível, mas a força comunicante do trovador está, principalmente, no partido que ele tira da monotonia, repetição e progressão "fanhosas" de um texto maravilhosamente aliado à música. Este é um caminho de voluntária pobreza.
Um mínimo de suporte e de efeitos, para um máximo de comunicação verbal. "Sentir? Sinta quem ouve!", apetece dizer, parafraseando Fernando Pessoa, a propósito do discurso de Bob Dylan.
Isso a que eu chamo de "fanhosez", que musicalmente deve ter uma explicação, muito em particular no campo da balada, ganha em Dylan as características um estilo. Para muitos, tal estilo não passa de maneirismo. Mas Dylan sabe, com e depois de Woody Guthrie, de Pete Seeger e Brassens, que a palavra só move mundos quando é entendida na sua integridade. E Dylan é, também, um excelente poeta, isto é, alguém capaz de entender que "o lirismo é o desenvolvimento de um protesto".
Do "fanhoso" do Minnesota não se poderá dizer, como Flaubert de um cantor de ópera sua criatura: "Havia nele algo de cabeleireiro e de toureiro".
Ponham nele os ouvidos certos baladeiros portugueses e espanhóis que fazem das palavras vazadouros das mais simplesmente sentimentos.
in: Jornal A Capital, 1 de Janeiro de 1974
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Poesia
14.10.16
Wisława Szymborska: "Para o meu próprio poema"
Para o meu próprio poema
Na melhor das hipóteses,
meu poema, você será lido atentamente,
comentado e lembrado.
Na pior das hipóteses
somente lido.
Terceira possibilidade –
embora escrito,
logo jogado no lixo.
Você pode se valer ainda de uma quarta saída –
desaparecer não escrito
murmurando satisfeito algo para si mesmo.
SZYMBORSKA, Wisława. "Para o meu próprio poema". In:_____. Um amor feliz. Seleção e trad. de Regina Przybycien. São Paulo: Companhia das Letras, 2016
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Wisława Szymborska
12.10.16
Eduardo Rosal: "O sol vinha descalço"
A terra na mão
A terra na mão
o menino brinca
gerações
e gerações
o silêncio
sabe de cor.
Terra –
memória
que não esqueço
de apertar.
ROSAL, Eduardo. "A terra na mão". In:_____. O sol vinha descalço. São Paulo: Pasavento, 2016.
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Poema
10.10.16
Wilberth Salgueiro: "Presente, de Antonio Cicero"
Leiam, a seguir, o belo ensaio escrito
pelo Professor Wilberth Salgueiro sobre meu poema "Presente". Esse
ensaio foi publicado em Curitiba, no jornal literário Rascunho, nº
198, no corrente mês.
Sob a pele das
palavras | Wilberth Salgueiro
PRESENTE, DE
ANTONIO CICERO
Por que não me deitar sobre este
gramado, se o consente o tempo,
e há um cheiro de flores e verde
e um céu azul por firmamento
e a brisa displicentemente
acaricia-me os cabelos?
E por que não, por um momento,
nem me lembrar que há sofrimento
de um lado e de outro e atrás e à frente
e, ouvindo os pássaros ao vento
sem mais nem menos, de repente,
antes que a idade breve leve
cabelos sonhos devaneios,
dar a mim mesmo este presente?
No início do imprescindível livro Na sala de aula, Antonio
Candido oferece um simples e, ao que parece, esquecido conselho: ALer infatigavelmente o texto analisado é a
regra de ouro do analista. A multiplicação das leituras suscita intuições, que
são o combustível neste oficio. Theodor Adorno chamaria a isso de primazia do objeto: é a
dedicação concentrada àquilo que nos ocupa, envolve, seduz. Seguindo a regra, o
leitor do poema Presente de Antonio Cicero, após idas e
vindas, perceberia tratar‑se de um soneto (sem as divisões estróficas
tradicionais), de versos octossilábicos, com todas as catorze rimas em lei,
composto por apenas dois períodos, ambos interrogativos, e em que o título
coincide com a ambivalente palavra final: presente. Tendo tal estrutura em
vista, o leitor aventura‑se além.
Porventura, a propósito, é o nome do livro (indicado
ao Portugal Telecom), de 2012, onde se abriga o poema Presente. Em vez da previsível
distribuição em estâncias de 4/4/3/3 versos, Cicero prefere o soneto compacto,
de modo a não dispersar no trânsito entre quadras e tercetos o pensamento que
se forja à medida que a leitura avança. Aqui, a despeito da inexistência da
separação espacial, pode‑se, sim, visualizar dois blocos (versos 1‑6 e 7‑14),
demarcados nitidamente pela frase‑pergunta que sustentam. O poema e seu teor
representam bem a dicção filosófica que acompanha a obra do autor de O mundo desde o fim (1995).
Tanto Antonio Carlos Secchin, na orelha de Porventura, quanto Alberto
Pucheu, no volume da coleção Ciranda
da Poesia (Eduerj, 2010)
dedicado a Cicero, apontam o gosto e a afinidade deste com a cultura clássica.
Não será por acaso, assim, que a tópica do carpe
diem destaque‑se do corpo de Presente – desde o título, aliás. Em
síntese, o que deseja o personagem ali projetado? Que ele possa, plenamente,
usufruir de si mesmo, neste momento de comunhão com a natureza, sem nada
exterior obstruir essa intensa fruição. Os signos da natureza transbordam:
gramado, flores, céu, brisa, pássaros, vento compõem um cenário bucólico,
idílico, que não se quer conspurcado. A regularidade rítmica e rímica colabora
sobremaneira para esse enleio a que o poema aspira: o movimento assonante de
todas as catorze rimas externas em /e/ se reforça com outras tantas rimas
internas também em /e/ e encontra eco no êxtase do penúltimo verso – “cabelos sonhos devaneios” em que a ausência de pontuação sugere
que o sujeito parece estar mesmo imerso em si.
Mas todo o clima, todo o desejo, todo o
(diria Freud) princípio de prazer se choca com o princípio de realidade, esse
inimigo da libido, de sonhos e devaneios. O poeta pressente que algo pode
estragar o dêitico momento, “este
presente” desde sempre desdobrado na
simultaneidade de uma “dádiva” e de um “agora”: como um fantasma ou uma
culpa, a sombra do “sofrimento” paira sobe tudo, incontornável, “de um lado e de outro e atrás e
à frente”. Cético, bem que o poeta tenta, retórico, desvencilhar‑se do incômodo
de ter de “lembrar que há
sofrimento”, mas a lembrança insiste, atrapalha, se fixa, constrangedora,
iniludível, nos versos 8 e 9. Na verdade, todo o poema, erguido em torno de
duas perguntas, afirma a dúvida: é possível escrever poemas assim, tão abnegadamente
líricos e subjetivos, enquanto permanece, ubíquo e monstruoso, o sofrimento
humano? A existência concreta do poema dirime a suspeita: sim, é possível. A
resposta, no entanto, está longe de resolver o impasse que a arte tem diante da
história, o artista diante da vida, o valor estético diante do compromisso
ético.
Na célebre Palestra sobre lírica e sociedade (1957), posterior ao texto Crítica cultural e sociedade (1949) em que se registrou o
imperativo de que “escrever um
poema após Auschwitz é um ato bárbaro”, Adorno dirá que “as mais altas composições líricas
são, por isso, aquelas nas quais o sujeito, sem qualquer resíduo da mera
matéria, soa na linguagem, até que a própria linguagem ganha voz”. Aqui me
parece residir o nó górdio e a glória dos versos de Antonio Cicero: o poema faz
duas longas e densas perguntas, mas não as responde. Não as responde porque
ele, o poema, seria a única resposta possível. O poeta deixa claro que não
desconhece a existência soberana do sofrimento, que está “de um lado e de outro e atrás e à
frente”, mas alimenta a hipótese de –diante
de uma brisa que lhe acaricia os cabelos e diante de uma idade que,
supostamente avançada, em breve levará esses mesmos cabelos – deixar-se curtir, quase
epifanicamente, aquele momento: singular e anônimo, pessoal e intransferível.
Mas toda epifania, quando se transforma em
arte, passa a obedecer a diverso modus
faciendi. A abstração vira enigma formal, que o poeta cifra. A experiência
do sujeito, sempre histórica, ganha corpo no poema, feito uma poeira incrustada
numa ranhura de um móvel antigo. O desejo abstrato não é representável; escapa.
Ao poeta compete tentar deixar‑se soar na linguagem, “até que a própria linguagem ganhe voz”.
O poema Presente de Cicero encena tal movimento: em
disfarce de soneto, elabora duas perguntas, com métrica e rimas planejadas,
indagando se é possível, ainda que “por
um momento”, deixar o sofrimento do mundo de lado e, aproveitando (carpe
diem) o que a natureza lhe oferta, dedicar‑se inteiramente a si mesmo; em
suma, “por que não (...) dar a
mim mesmo este presente?”. A resposta está na pergunta: se “este presente” é
o tempo real da experiência vivida e é também a dádiva, o mimo que se ganha em
ocasião especial, então este presente (tempo e dádiva) só pode ganhar forma em
um único lugar: na linguagem. Ou, no caso, no poema que temos à vista. O
presente – este – que
o poeta sempre quer é o poema.
E o sofrimento? Ora, o poema é a prova do
conflito existencial do poeta. Seduzido pelo êxtase epifânico e introspectivo,
que de algum modo o afastaria da dor mundana, o sujeito só pode, no entanto,
optar pela razão do poema, que exige dele cálculos internos (métrica, rimas,
pontuação, elipses, etc.) e que o aproxima de reflexões que incorporam aquele
mesmo sofrimento que não quer, pelo menos "por um momento", lembrar.
Talvez por, exatamente, tanto se “lembrar que há sofrimento/ de um lado e de
outro e atrás e à frente” é que tenha se agigantado tamanha vontade de
esquecimento, hedonismo e alienação, traduzida em carícia, sonho e devaneio. Em Presente, Antonio Cicero
insinua, com delicadeza, que, se na vida real prazer e sofrimento se conflitam,
no espaço fictício do poema se entrelaçam – como
se a dor do sujeito, virando poema, fosse a própria delícia da trama da
linguagem. E por que, se presente (em forma de tempo, dádiva e poema), não
seria?
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9.10.16
Paul Éluard: "Anneau de paix" / "Anel de paz": trad. Maria Gabriela Llansol
Anneau de paix
J'ai passé les portes du froid
Les portes de mon amertume
Pour venir embrasser tes lèvres
Ville réduite à notre chambre
Où l'absurde marée du mal
Laisse une écume rassurante
Anneau de paix je n'ai que toi
Tu me réapprends ce que c'est
Qu'un être humain quand je renonce
A savoir si j'ai des semblables.
Anel de paz
Passei as portas do frio
Pelas portas da minha amargura
Para vir beijar teus lábios
Cidade reduzida ao nosso quarto
Onde a absurda maré do mal
Deixa uma espuma tranquilizante
Anel de paz só te tenho a ti
Ensinas-me e volto a saber
O que é um ser humano e a desistir
De saber se tenho semelhantes.
ÉLUARD, Paul. "Anneau de paix" / "Anel de paz". Trad. por Maria Gabriela Llansol. In:_____. Últimos poemas de amor. / Derniers poèmes d'amour. Lisboa: Relógio d'Água, 2002
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6.10.16
W.H. Auden: "Words" / "Palavras": trad. José Paulo Paes
Palavras
Nasce um mundo da frase pronunciada
Onde tudo acontece tal e qual;
Na palavra a palavra está empenhada:
À fala, não ao falante, dá-se o aval.
Clara seja a sintaxe, e mais: que nada
Mude ao tema seu fluxo natural
Nem troque os tempos por amor à toada
Pois há tristes versões de pastoral.
Para que um blá-blá inteminável
Se os fatos são nossa melhor ficção?
Antes o verbo facilmente achável
Do que a rima a falsa encantação,
Qual dança de zagais mima o insondável
Cavaleiro a vagar na solidão
Words
A sentence uttered makes a world appear
Where all things happen as it says they do;
We doubt the speaker, not the tongue we hear:
Words have no word for words that are not true.
Syntactically, though, it must be clear;
One cannot change the subject half-way through,
Nor alter tenses to appease the ear:
Arcadian tales are hard-luck stories too.
But should we want to gossip all the time,
Were fact not fiction for us at its best,
Or find a charm in syllables that rhyme,
Were not our fate by verbal chance expressed,
As rustics in a ring-dance pantomime
The Knight at some lone cross-roads of his quest?
AUDEN, W.H. "Words" / "Palavras". In:_____. Poemas. Seleção: João Moura Jr.; tradução: José Paulo Paes. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
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4.10.16
Alberto da Costa e Silva: "Elegia"
Elegia
Sofrer esta infância, esta morte, este início.
As cousas não param. Elas fluem, inquietas,
como velhos rios soluçantes. As flores
que apenas sonhamos em frutos se tornaram.
Sazonar, eis o destino. Porém, não esquecer
a promessa de flores nas sementes dos frutos,
o rosto de teu pai na face do teu filho,
as ondas que voltam sobre as mesmas praias,
noivas desconhecidas a cada novo encontro.
As causas fluem, não param. As folhas nascem,
as folhas tombam longe, em longínquos jardins.
Em silêncio, vives a infância de teus olhos
e, morto, és tão puro que te tornas menino.
SILVA, Alberto da Costa e. "Elegia". In:_____. "Poemas dos vinte anos". In:_____. Poemas reunidos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012.
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2.10.16
Rui Ribeiro Couto: "Soneto da fiel infância"
Soneto da Fiel Infância
Tudo que em mim foi natural – pobreza,
Mágoas de infância só, casa vazia,
Lutos, e pouco pão na pouca mesa –
Dói na saudade mais que então doía.
Da lamparina do meu qarto, acesa
No pequeno oratório noite e dia,
Vinha-me a sensação de uma riqueza
Que no meu sangue de menino ardia.
Altas horas, rezando no seu canto,
Minha mãe muitas vezes soluçava
E dava-me a beijar não sei que santo.
Meu Deus! Mais do que o santo que eu beijava,
Faz-me falta o cair daquele pranto
Com que ela junto ao peito me molhava.
COUTO, Rui Ribeiro. "Soneto da fiel infância". In:_____. Poesias reunidas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1960.
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