2.6.08

Eucanaã Ferraz: "Valsa para Graça"

VALSA PARA GRAÇA

Abra-se tudo
em grande-angular:

alas a ela, abra-se tudo
em salas que se abram

em salas abertas, salões,
e o que se fechara

antes desabroche
numa sucessão de estrelas

em pleno dia claro.
Abra-se o teto

do planetário, abra-se
o coração do fogo

e nele toda dor
torne a nada e

nada lhe resista
e por onde passe alastre

sua leveza. Alas a ela,
e que ela me leve.

Porque nela tudo parece
mover-se sobre salto

alto, sobretudo a alma,
a alma que parece calçar

a mesma sandália
que as palavras e os gestos

dela, alas
a ela, que, assim

alta,
como que vai

descalça e dançasse
sobre-além dos alarmes

e do medo, largando
na sua valsa

um rasto só de beleza.
Alas a ela.



De: FERRAZ, Eucanaã. Cinemateca. São Paulo: Companhia das Letras, 2008, p.14.

5 comentários:

Anônimo disse...

que revoada, um poema que nos asa!

obrigada Cicero : )
abraço, F.

Anônimo disse...

alas a ela! alas à graça!

(com um poema desses, é o que tenho a escrever.)

um dia como o de hoje, no rio, pôs-me esta sensação: a de tudo aberto, nitidez extrema, como numa grande-angular.

lindíssimo poema, como todos do eucanaã. sem falar no português, hiper garboso.

beijo nos dois poetas que fazem A diferença!

Eleonora Marino Duarte disse...

observador,

o poema gira!

a ligação entre o som das palavras esolhidas nos dá a chance de "ver" girar!

como na valsa!

é mesmo um poema com imagem e movimento:

é cinema!

fantástico!

obrigada!

abraços,

Lucas Nicolato disse...

Antonio,

Belo poema do eucanaã! Não pude ir ao lançamento do livro (já havia comprado ingressos para o Caetano, que, aliás, está sensacional!), mas o livro já está na minha lista das próximas leituras.

um abraço,
lucas

Anônimo disse...

Gostei!

Grato,
edg