Esquecer o que
Parar o diário
Foi aturdir a memória,
Foi um começo em branco,
Começo que já não cicatriza
Com tais palavras, tais acções,
Que tornaram inóspito o acordar.
Queria-as terminadas,
Despachadas para enterro
E rememoradas
Como as guerras e os invernos
Que faltavam para lá das janelas
De uma infância opaca.
E as páginas vazias?
Se vierem a preencher-se,
Que seja com a observação
De recorrências celestes,
O dia em que vêm as flores,
E quando partem as aves.
Forget What Did
Stopping the diary
Was a stun to memory,
Was a blank starting,
One no longer cicatrized
By such words, such actions
As bleakened waking.
I wanted them over,
Hurried to burial
And looked back on
Like the wars and winters
Missing behind the windows
Of an opaque childhood.
And the empty pages ?
Should they ever be filled
Let it be with observed
Celestial recurrences,
The day the flowers come,
And when the birds go.
LARKIN, Philip. "Forget what I did" / "Esquecer o que". In: Janelas altas. Trad. e org. por Rui Carvalho Homem. Lisboa: Cotovia, 2004.
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