14.5.22

Bertolt Brecht: "Die Lösung" / "A solução"

 



A solução


Depois da rebelião do 17 de junho
O secretário da Associação dos Escritores
mandou distribuir panfletos na Alameda Stalin
Onde se podia ler que o povo havia
Levianamente perdido a confiança do governo
E somente a reconquistaria
mediante trabalho dobrado. Ora,
Não seria bem mais fácil
Se o governo dissolvesse o povo e
Elegesse um outro?





Die Lösung


Nach dem Aufstand des 17. Juni
Ließ der Sekretär des Schriftstellerverbands
In der Stalinallee Flugblätter verteilen
Auf denen zu lesen war, daß das Volk
Das Vertrauen der Regierung verscherzt habe
Und es nur durch verdoppelte Arbeit
Zurückerobern könne. Wäre es da
Nicht doch einfacher, die Regierung
Löste das Volk auf und
Wählte ein anderes?





BRECHT, Bertolt. "Die Lösung" / "A solução". In: Rosvitha Friesen Blume e Markus J. Weininguer (trads.) Seis décadas de poesia alemã, do pós-guerra ao início do século XXI. Antologia bilingue. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2012.   

12.5.22

Antonio Cicero: "Segundo a tradição"




Segundo a tradição


O grande bem não nos é nunca dado

e foste já furtado do segundo:

o resto é afogar-te com o amado

na líquida volúpia de um segundo





CICERO, Antonio. "Segundo a tradição". In:_____Guardar. Rio de Janeiro: Record, 1996.

8.5.22

Diego Mendes Sousa: "A TERRA E O SER"




A TERRA E O SER


Chorar

desnuda

o ser.


A chuva

encharca

a terra.


O choro

limpa a alma,

molha o rosto,

lava o tempo

e a saudade.


O mar

escapa

pelas

artérias

da dor.


Chorar

é enxurrada

de beleza

que arrasta

as palavras

de amor.





SOUSA, Diego Mendes.  "A TERRA E O SER". In:_____ Rosa numinosa. Teresina: Ed. do Autor, 2022.

7.5.22

Ferreira Gullar: "A galinha"

 



A galinha

 


Morta,

flutua no chão.

                                   Galinha.

 

Não teve o mar nem

quis, nem compreendeu

aquele ciscar quase feroz. Cis -

cava. Olhava

o muro,

aceitava-o, negro e absurdo.

 

               Nada perdeu. O quintal

               não tinha

                                qualquer beleza.

 

                                                             Agora

as penas são só o que o vento

roça, leves.

                  Apagou-se-lhe

toda a cintilação, o medo.

Morta. Evola-se do olho seco

o sono. Ela dorme.

                                Onde? onde?






GULLAR, Ferreira. "A galinha". In:_____ Toda poesia: 1950-2010. São Paulo: Companhia das Letras, 2021.