29.4.23

 



Ciclo de Conferências "Escritores, lado B", na ABL


Terá início no dia 2 de maio, às 16h, no Teatro R. Magalhães Jr., na ABL, o terceiro Ciclo de Conferências de 2023 intitulado “Escritores, lado B”, sob a coordenação geral do Acadêmico Antonio Carlos Secchin e coordenado pelo Acadêmico Joaquim Falcão. A conferência de abertura, “Vinícius de Moraes, dramaturgo”, será ministrada pelo poeta Eucanaã Ferraz. 

A conferência do dia 9 será proferida pelo professor Gilberto Araújo, que falará sobre “Raul Pompeia, desenhista”. 

No dia 16, o ficcionistaCarlos Newton Junior versará sobre “Ariano Suassuna, gravador”. 

Dia 23, a professora Teresa Montero proferirá a palestra “Clarice, cronista”. 

Dia 30, encerrando o ciclo, a escritora Priscila Monteiro discorrerá sobre “João Cabral, editor e impressor”.

23.4.23

Paulo Henriques Britto: "Fábula"




FÁBULA


Um pensamento pensado

até a total exaustão

termina por geminar

no mesmo exato lugar

sua exata negação.


Enquanto isso, uma ideia

trauteada numa flauta

faz uma cidade erguer-se -- 

é claro, sem alicerces,

mas ninguém dá pela falta.



BRITTO, Paulo Henriques. "Fábula". In: "Formas do nada" (2012). In: Por ora. Poesia reunida (1982-2018). Imprensa Nacional - Casa da Moeda. Lisboa, 2021.



14.4.23

Charles Baudelaire, "Spleen 1", traduzido por Ivan Junqueira.





Spleen 1


Pluviôse, contra toda a cidade irritado, 

De sua urna verte um frio tenebroso 

Sobre os que moram sós no cemitério ao lado, 

E a morte entorna no subúrbio nebuloso. 


Meu gato em busca de onde estar aconchegado 

Agita inquieto o corpo flácido e asqueroso; 

A alma de um velho poeta erra pelo telhado, 

Com a lúgubre voz de um fantasma brumoso. 


O bordão se lamenta, e a tíbia acha de lenha 

Acompanha em falsete a pêndula roufenha, 

Enquanto num baralho, entre ácidos odores, 


Herança de uma velha hidrópica e entrevada, 

Um valete e uma dama, em sinistra jogada, 

Vão lembrando entre si seus defuntos amores.






Spleen 1


Pluviôse, irrité contre la ville entière,

De son urne à gransds flots verse un froit ténébreux

Aux pâles habitants du voisin cimitière

Et la mortalité sur les faubougs brumeux.


Mon chat sur le carreau cherchant une litière

Agite sans repos son corps maigre et galeux;

L'âme d'un vieux poëte erre dans la gouttière

Avec la triste voix d'un fantôme frileux.


Le bourdon se lamente, et la bûche enfumée

Accompagne en fausset la pendule enrhumée,

Cependant qu'en un jeu plein de sales parfums,


Héritage fatal d'und vielle hydropique,

Le beau valet d0e coeur et la dame de pique

Causent sinistrremment de leur amours défunts.




BAUDELAIRE, Charles. "Spleen 1". In: Les fleurs du mal. Publicado na edição em português desse livro, As flores do mal, traduzido por Ivan Junqueira (Rio de Janeiro, pela Editora Nova Fronteira, 1985).






1.4.23

Gregório de Matos: "À instabilidade das coisas do mundo"

 



À instabilidade das cousas do mundo



Nasce o sol, e não dura mais que um dia,

Depois da luz, se segue a noite escura,

>m tristes sombras morre a formosura,

Em contínuas tristezas, a alegria.


Porém, se acaba o sol, por que nascia?

Se é tão formosa a luz, por que não dura?

Como a beleza assim se transfigura?

Como o gosto da pena assim se fia?


Mas, no sol, e na  luz, falta a firmeza;

Na formosura, não se dê constância, 

E, na alegria, sinta-se tristeza.


Começa o mundo enfim pela ignorância, 

E tem qualquer dos bens por natureza:

A firmeza, somente na inconstância.





MATOS, Gregório de. "A instabilidade das cousas do mundo". In: "Gregório de Matos". In: AMORA, Antonio Soares (org.). Panorama da poesia brasileira. Vol. I. "Era luso-brasileira". Editora Civilização Brasileira, S.A. Rio de Janeiro - São Paulo - Bahia, 1959