26.8.20

Alberto da Costa e Silva: "Soneto a Vermeer"




Soneto a Vermeer


De luto, a minha avó costura à máquina,
e gira um cata-vento em plena sala.
Vejo seu rosto, sombra que a janela
corrompe contra um pátio amarelado

de sol e de mosaicos. Sobre a mesa,
a tesoura, um esquadro, alguns retalhos
e a imóvel solidão. A minha avó,
com seus olhos azuis, o tempo acalma.

A minha avó é jovem, mansa e apenas
a limpidez de tudo. Sonho vê-la
no seu vestido negro, a gola branca,
contra o corpo de cão, negro, da máquina:

a roda, de perfil, parece imóvel
e a vida não se exila na beleza.




COSTA E SILVA, Alberto da. "Soneto a Vermeer". In:_____. Poemas reunidos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012.


Um comentário:

Unknown disse...

Olá! Esse poema lembra "A Rendeira", do mesmo pintor. Parabéns!