20.1.19

Jorge Luis Borges: "Blind Pew": trad. de Josely Vianna Baptista



Blind Pew

Longe do mar e da formosa guerra,
que assim o amor todo o perdido louva,
o bucaneiro cego fatigava
os terrosos caminhos da Inglaterra.

Escorraçado pelos cães das granjas,
caçoada dos meninos do povoado,
dormia um enfermiço e gretado
sono no enegrecido pó das sanjas.

Sabia que em remotas praias de ouro
era seu um recôndito tesouro
e isso serenava sua adversa sorte;

a ti também, em outras praias de ouro,
te aguarda incorruptível teu tesouro:
a vasta e vaga e necessária morte.




Blind Pew

Lejos del mar y de la hermosa guerra, 
que así el amor lo que ha perdido alaba, 
el bucanero ciego fatigaba 
los terrosos caminos de Inglaterra.

Ladrado por los perros de las granjas, 
pifia de los muchachos del poblado, 
dormía un achacoso y agrietado 
sueño en el negro polvo de las zanjas.

Sabía que en remotas playas de oro 
era suyo un recóndito tesoro 
y esto aliviaba su contraria suerte;

a ti también, en otras playas de oro, 
te aguarda incorruptible tu tesoro: 
la vasta y vaga y necesaria muerte.





BORGES, Jorge Luis. "Blind Pew". In:_____. O fazedor. Trad. de Josely Vianna Baptista. São Paulo: Companhia das Letras, 2008



2 comentários:

bea disse...

A mortalidade vive connosco em todo o caminho e talvez pela efeméride mais bela seja a estrada.Que o final é sempre o mesmo, a interrupção definitiva. E interrupção lhe será termo abstruso, trata-se de algo que cessa.

Nobile José disse...

"que assim o amor todo o perdido louva"

conversa com:

"Amar o perdido/deixa confundido/este coração//Nada pode o olvido/contra o sem sentido/apelo do não"