22.8.14

Raimundo Correia: "Mal secreto"




Mal secreto

Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;

Se se pudesse o espírito que chora
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!



CORREIA, Raimundo. In: BANDEIRA, Manuel (org.). Antologia dos poetas brasileiros da fase parnasiana. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Saúde, 1938.

5 comentários:

ADRIANO NUNES disse...

Cicero,

belíssimo poema! Salve!


Abraço forte,
Adriano Nunes

Anônimo disse...

Eu amo o seu blogue!

Antonio Cicero disse...

Muito obrigado, Adri!

Beijos

Unknown disse...

Estou aqui discutindo com uma amiga se este poema dialoga com o Mal secreto cantado por Gal (Fatal). Ou se a música, de fato, se referia a este belo poema. Um abç, Antônio Cícero ("Sombra do paraíso...").

Antonio Cicero disse...

Dan,

Posso garantir que Waly Salomão deliberadamente se referia, na sua letra (que se encontra aqui: http://antoniocicero.blogspot.com.br/2010/03/waly-salomao-mal-secreto.html), ao poema de Raimundo Correia.

Abraço