25.6.21

Waly Salomão: "Olho de lince"

 



Olho de lince


quem fala que sou esquisito hermético

é porque não dou sopa estou sempre elétrico

nada que se aproxima nada me é estranho

                fulano sicrano e beltrano

seja pedra seja planta seja bicho seja humano

quando quero saber o que ocorre à minha volta

ligo a tomada abro a janela escancaro a porta

experimento invento tudo nunca jamais me iludo

quero crer no que vem por beco escuro

me iludo passado presente futuro

                    urro arre i urro

viro balanço reviro na palma da mão o dado

                       futuro presente passado

tudo sentir total é chave de ouro do meu jogo

é fósforo que acende o fogo de minha mais alta razão

na seqüência de diferentes naipes

                       quem fala de mim tem paixão








SALOMÃO, Waly. "Olho de lince". In:_____. "Waly Salomão". In: MORICONI, Ítalo (org.). Destino poesia. Rio de Janeiro: José Olympio, 2010.

2 comentários:

Anônimo disse...

Conheci o Waly na faculdade de Jornalismo, na disciplina de documentário, quando assisti ao Pan-Cinema Permanente. À época, achei que o Waly era insuportável (rindo de nervoso), depois percebi que tinha Waly em muitas das canções que eu gostava. Aos poucos fui me inteirando da obra poética e lamento tanto que já tenha partido.

Lembro sempre de uma declaração que a Calcanhotto deu sobre ele: "Ele tinha uma doçura violenta. Acho, e cada vez mais, que ele sabia, ou havia determinado, não sei, que não viveria muito, que não ficaria velhinho. Então, tinha pressa. Não acreditava muito na sabedoria em termos de acúmulo de tempo, queria a sabedoria do instante-já, de que falava tanto Clarice quanto Lygia Clark, para falar de dois de seus amores.Foi estúpido, injusto e cruel comigo tanto quanto foi amoroso, generoso e protetor. E tudo numa mesma tarde."

Faz falta!

-Nadia

Rafael Faustino disse...

Mas que belo ensaio, Cicero! De fato, à altura do grande poeta que você é.
Corri comprar meu exemplar.
Aguardo ansiosamente seu autógrafo.

Parabéns!