Na rua
Seu simpático rosto, um pouco pálido;
seus olhos castanhos, como que fatigados;
vinte e cinco anos, contudo tem mais a aparência de vinte;
com algo de artístico em seu modo de trajar
– certa cor da gravata, certa forma do colarinho –
anda a esmo pela rua
como que hipnotizado ainda pela volúpia ilícita,
pela volúpia sobremaneira ilícita que desfrutou.
Εν τη οδώ
Το συμπαθητικό του πρόσωπο, κομμάτι ωχρό·
τα καστανά του μάτια, σαν κομένα·
είκοσι πέντ' ετών, πλην μοιάζει μάλλον είκοσι·
με κάτι καλλιτεχνικό στο ντύσιμό του
- τίποτε χρώμα της κραβάτας, σχήμα του κολλάρου -
ασκόπως περπατεί μες στην οδό,
ακόμη σαν υπνωτισμένος απ' την άνομη ηδονή,
από την πολύ άνομη ηδονή που απέκτησε.
2 comentários:
O espelho da entrada
À entrada da mansão
havia um grande espelho muito antigo
comprado pelo menos há mais de oitenta anos.
Um rapaz belíssimo, empregado de alfaiate
(e nos domingos atletas diletante)
estava ali com um pacote.
Deu-o a alguém da casa, que o levou para dentro
com o recibo. O empregado do alfaiate
ficou sozinho, à espera.
Acercou-se do espelho e mirou-se
para ajeitar a gravata. Após cinco minutos,
trouxeram-lhe o recibo e ele se foi.
Mas o antigo espelho que vira e revira
nos seus longos anos de existência
coisas e rostos aos milhares;
mas o antigo espelho agora se alegrava
e exultava de haver mostrado sobre si
por um instante a beleza culminante.
Constantino Caváfis. Trad. José Paulo Paes
O rosto afável, um tanto branco;
Os seus olhos castanhos, algo gastos;
Vinte e cinco anos, parecendo vinte;
Com ar de artista na toalete dele
- É a cor da gravata, o nó da gola -
Caminha a esmo pela rua afora,
Absorto ainda do proibido gozo,
Do tão proibido gozo que ele teve.
Postar um comentário