Garamond
Primeiro na tela da mente:
seus deletes sem tecla,
filme cabeça, legendas
boiando sobre nada.
Depois no papel pautado,
à caneta Bic azul, com letra
imperfeita, suja de mão,
e intrincadas rasuras.
Daí passar a limpo, mero
artesão, olhos de régua, a mão
contra a mão, o alheamento
no rumor da página.
Por fim imprimir, com tipo
Garamond, em cuja distância
típica dos habitantes dos livros,
lavamos as mãos.
BOSCO, Francisco. "Garamond". In:_____. Da amizade. Rio de Janeiro: 7Letras, 2003.
2 comentários:
Bom dia, tudo bem? Sou o Paulo Lustosa da Banca em frente a Academia Brasileira de Letras, estou encaminhando dois poemas pra publicação, se possível. Conte comigo! Grande abraço.
Tua poesia pulsa
(Poema em homenagem ao poeta Mário Faustino)
Paulo Lustosa
Tua poesia pulsa soberana e febril sobre o deserto do tempo.
Influenciada por uma lua sem fases,
colhendo flores dispersas que
não necessitam de água nem de abelhas,
plantadas num único pé de verso.
Ela sorve todo grão de areia de seus desenhos túmidos,
antes que o descuidado simum, sem saber o que pratica,
desconstrua suas falanges de poemas livres.
Tua poesia pulsa vigorosa e lúcida sobre a
aurora que nunca nasce,
sobre os pântanos não florescidos,
sobre cada lágrima cristalizada de um poeta turvo,
adulto e não vingado.
Ela segue seu destino intocável
Levada por negros lençóis de nimbus
Que irrigarão espaços mares frios
Sem uma gota sequer da tua fértil e úmida língua.
Tua poesia pulsa firme sobre o verso trêmulo,
reprime incrédulo o verbo fácil,
repulsa a lira triste de um anjo cínico nesse vazio
inverso de um universo falso!
_________
Tinta Negra
Paulo Lustosa
Vai
Leva a tua poesia aos que têm fome
Nutre com teus versos insanos e insones
Os estômagos embrulhados dos que ainda creem em redenção
Oferece tua palavra como um artifício
Assim como Rimbaud ofereceu seu corpo a Verlaine.
Tinge com tua tinta negra a vagina cálida
De uma virgem em sacrfício
Redesenha toda sua silhueta esquálida
Ruboriza sua face pálida
Como Lautrec fez magnifiquement em seu ofício.
Penetra nos labirintos das catacumbas
Uma por uma até encontrar o sêmem sagrado deixado por Eros
Grita tua loucura mais insana
Dorme com Jocasta em sua própria cama
Como dormiu seu lídimo e inconsciente Édipo.
Vai
Leva a tua poesia aos que têm sede
Aos que não têm sonhos
Aos que são sonâmbulos.
2020 em questão:
(a) esquerda dividida
(b) direitas multiplicadas
(c) israel + egito
(d) cuba - gorky park
(e) anteriores desmarque
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