19.1.18

Constantinos Caváfis: "Desde as nove": trad. José Paulo Paes



Desde as nove

Nove e vinte. Passou depressa o tempo
desde as nove, quando acendi a lâmpada
e me sentei aqui. Fiquei sentado sem ler
e sem falar. Com quem falar
se estou sozinho nesta casa?

A imagem do meu corpo jovem,
desde as nove, quando acendi a lâmpada,
veio rondar-me, veio me lembrar
de quartos fechados cheios de perfume
e de prazeres idos – que prazeres audazes!
Pôs-me também diante dos olhos
ruas que ora se me tornaram estranhas,
locais cheios de rumor que se findaram,
e cafés e teatros que existiram outrora.

A imagem do meu corpo jovem
veio rondar-me, trazer-me coisas tristes:
lutos de família, afastamentos,
as saudades dos meus, saudades
de mortos tão pouco lamentados.

Meia-noite e meia. Como o tempo passsa.
Meia-noite e meia. Como passam os anos.




CAVÁFIS, Constantinos. "Desde as nove". In: PAES, José Paulo (org. e trad.). Poesia moderna da Grécia. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1986.

5 comentários:

bea disse...

vinte minutos de lembranças.

Ricardo disse...

Caro poeta, numa rápida pesquisa na internet, vi que esse poema aparece muitas vezes com início diferente. Ao invés de "Nove e vinte", o verso inicial diz "Meia noite e meia". E o final também é distinto, acrescido de dois versos: "Meia-noite e meia. Como passou a hora./
Meia-noite e meia. Como passaram os anos."
Estou escrevendo um texto sobre esse poema, analisando a natureza do tempo, e essa variação altera todo o texto, nesse sentido. Que me diz? Conhece essas variantes?
Grande abraço !!

Antonio Cicero disse...

Obrigado por me chamar atenção para essas variantes. Como havia copiado o poema diretamente da edição de traduções do José Paulo Paes, que não é bilingüe, eu não tinha visto que o original grego realmente começa com o equivalente a "meia-noite e meia". Verifiquei-o agora há pouco, na edição grega que tenho. Ao mesmo tempo, aproveitei para adicionar os dois últimos versos que você menciona, que já se encontravam, com pequena variante, na tradução de José Paulo Paes e que, não sei por que distração, eu havia omitido. Fico-lhe grato pelas suas observações.

Grande abraço

Ricardo disse...

Caro Cícero, desculpe por insistir no assunto, mas por que você acha que José Paulo Paes, tradutor que dispensa elogios, preferiu "Nove e vinte" a "Meia noite e meia" ?

Antonio Cicero disse...

Caro Ricardo,

confesso que não entendo. Desconfio que foi simplesmente um descuido.

Abraço