7.1.18

Antonio Carlos Secchin: "Autorretrato"



Autorretrato

               a Flávia Amparo

Um poeta nunca sabe
onde sua voz termina,
se é dele de fato a voz
que no seu nome se assina.
Nem sabe se a vida alheia
é seu pasto de rapina,
ou se o outro é que lhe invade,
numa voragem assassina.
Nenhum poeta conhece
esse motor que maquina
a explosão da coisa escrita
contra a crosta da rotina.
Entender inteiro o poeta
é bem malsinada sina:
quando o supomos em cena,
já vai sumindo na esquina,
entrando na contramão
do que o bom senso lhe ensina.
Por sob a zona da sombra,
navega em meio à neblina.
Sabe que nasce do escuro
a poesia que o ilumina.



SECCHIN, Antonio Carlos. "Autorretrato". In:_____. Desdizer. Rio de Janeiro: Topbooks, 2017.

Um comentário:

bea disse...

Interessante maneira de dizer o que é sempre tentativa, retrato inacabado.