3.7.17

Alice Sant'Anna: "desenhava tudo o que via"



desenhava tudo o que via
com uma estranha compulsão
passava cinco, seis horas na frente
de um quadro, uma maçaneta, um pastel de nata
completamente absorto
sacava do bolso o lápis
corria para rabiscar, depois anotava
a data ao lado, a rua, nada
se perdia no caderno
enquanto isso eu aflita queria repetir
o gesto, documentar tudo, dizer do gosto
da canela no pastel de nata
do primeiro dia azul de lisboa
mas não escrevia e com pressa para registrar
me tornava burocrática
no diário: hoje fomos de trem, estava quente




SANT'ANNA, Alice. "desenhava tudo o que via". In_____. Rabo de baleia. São Paulo: Cosac Naify, 2013.

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