22.1.16

Mário Faustino: "Soneto"




Soneto

Necessito de um ser, um ser humano
Que me envolva de ser
Contra o não ser universal, arcano
Impossível de ler

À luz da lua que ressarce o dano
Cruel de adormecer
A sós, à noite, ao pé do desumano
Desejo de morrer.

Necessito de um ser, de seu abraço
Escuro e palpitante
Necessito de um ser dormente e lasso

Contra meu ser arfante:
Necessito de um ser sendo ao meu lado
Um ser profundo e aberto, um ser amado.



FAUSTINO, Mário. "Soneto". In:_____. Poesia de Mário Faustino. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966.

Um comentário:

Anônimo disse...

Esse soneto é maravilhoso! Gosto muito de poesia e reverencio aqueles que conseguem transmitir emoção de forma concisa, minimalista. Os sonetistas então, esses são a nata, por conseguirem domar o esqueleto rígido do soneto. Em outras palavras, eu os vejo com o mesmo respeito que devoto aos neurocirurgiões. A coisa é mais ou menos como uma cirurgia feita no cérebro: o que falta em espaço sobra em restrições e cuidados a tomar. Ou seja, ambos conseguem o suprassumo da precisão e eficiência, tudo realizado em espaço muito reduzido. Muito bom!