30.7.14

Luís de Camões: "Amor é um fogo que arde sem se ver"





Amor é um fogo que arde sem se ver,
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente,
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?



CAMÕES, Luís de. Lírica completa II. Sonetos. Lisboa: Imprensa Nacional / Casa da Moeda, 1980.

3 comentários:

ADRIANO NUNES disse...

Cicero,

obrigado por relembrar, talvez, um dos mais conhecidos (senão, o mais!) sonetos do mundo! E tão belo! Imponente e universal! Salve Camões!

Abraço fortíssimo,
Adriano Nunes

Jander de Melo M. A. disse...

De tão conhecido, é um aconchego esse poema.

Dalva M. Ferreira disse...

Conheci este soneto no ano de 1970. Faz tempo...