A invenção do nome
Quando criança, achava bonito. Tinha certa imponência.
Alex Vítor Pessoa Varella, o meu nome.
“Alex”, diziam em casa, era homenagem ao doutor Alexis Carrel, médico russo
( ou seria francês?), autor de “O homem, Esse Desconhecido”.
Para os incrédulos, tínhamos um livro do tal russo, na biblioteca de meu pai.
Alex era nome raro de botar numa criança e requeria justificação.
“Vítor”, não havia dúvidas, era uma escolha puramente sonora de meu pai orador
e compositor de sonetos, que promovia torneios literários e saraus em casa,
misturados a sessões espíritas de desmaterialização.
Como “Pessoa”, o poeta rosa-cruz, meu mais notável antecessor,
espero que também me façam um busto ( que já estou a merecer! ) como aquele da Brasileira, no Chiado, em Lisboa, mas diferentemente daquele, que mude de lugar a cada dia, como a identidade do parente poeta.
Quanto à herança do romântico, o Fagundes (Varella),
Nem morrer de tuberculose, nem acabar nome de rua em Niterói!
Os deuses vêm me visitar. E eu os recebo a beira mar.
VARELLA, Alex. "A invenção do nome". Inédito.
2 comentários:
Cicero,
Belo pelo poema do Alex Varella. A ironia bem diluída e a evocação dos míticos Fagundes (cujo poema para o filho morte dói só de lembrar) e Pessoa, justaposta ao arremete, permitem-nos um prazer lúdico e, por vezes, inexplicável.
Valeu demais resgatá-lo do anonimato (ineditismo).
Abraços do
Arsenio Meira Júnior
Ps - Numa outra vertente, igualmente linda, com o nome servindo de mote, eis um trecho do poema "Os Últimos Dias", em que Drummond arremata:
[...] " E a matéria se veja acabar: adeus composição
que um dia se chamou Carlos Drummond de Andrade.
Adeus, minha presença, meu olhar e minas veias grossas,
meus sulcos no travesseiro, minha sombra no muro,
sinal meu no rosto, olhos míopes, objetos de uso pessoal, idéia de justiça, revolta e sono, adeus,
adeus, vida aos outros
legada."
Cicero,
Belíssimo! Salve Alex Varella!
Abraçaço,
Adriano Nunes
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