27.2.13

Álvares de Azevedo: "Se eu morresse amanhã"






Se eu morresse amanhã

Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
      Se eu morresse amanhã!

Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
      Se eu morresse amanhã!

Que sol! que céu azul! que doce n'alva
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito
      Se eu morresse amanhã!

Mas essa dor da vida que devora
A ânsia da glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
      Se eu morresse amanhã!




AZEVEDO, Álvares de. "Se eu morresse amanhã". In: BARBOSA, Frederico. Cinco séculos de poesia. Antologia da poesia clássica brasileira. São Paulo: Landy, 2003.

Um comentário:

ADRIANO NUNES disse...

Cicero,

lindo poema!!!


Abraço forte,
Adriano Nunes


Um novo poema:

"Nota técnica sobre um sentimento"


Sem defeito visível, sem defeito
Palpável, sem defeito imaginável,
Sem defeito de fábrica, inegável,
Sem nítido defeito, assim foi feito

O enigmático amor em vosso peito,
Tendo ali grácil lar, e inconfessável
Mostrou-se a vós se dar, indecifrável,
Imerso em grãs quimeras, satisfeito,

Sem registro de um erro, sem defeito
De verdade, sem falha irreparável,
Sem distorções ou máculas, perfeito,

Sem ser etiquetado, insofismável,
As peças ante as peças, magno efeito,
Sem defeito de mágica, insondável.