22.4.22

Diego Mendes Sousa: "Gesta da água"

 



Gesta da água


            Há sempre um copo de mar

                 para um homem navegar”

            Jorge de Lima



Nesta grandíssima manhã 

de primavera, 

as portas 

da minha casa 

estão abertas 

para a visita

fluida da beleza.

Altair é a susana da minha poesia 

e da minha vida.

A solidão habitava o feiume 

dos meus gestos e

querençoso eu esperava 

o tempo.


Hoje caminho tardo 

pelo vento oeste.


Meu coração vagueia 

no mapa das ruínas 

e infesto o campo dos 

silêncios.


Cada ruído pressentido, 

diz da alma.


Cada rastro revelado, 

diz da vidência, essa 

alegria 

a se eternizar.


Mancham os céus de um cinza cruel 

e morrem 

os oceanos 

em mim.


Eu que sempre 

fui água, 

mansidão 

de peixes 

e de siris.



Ser líquido 

na chuva, 

rio no mar naufragado.


Eu que sempre 

fui água, 

a escorrer 

pelo sangue das marés.


Ó manhã 

devastada no belo! 

Assim é a ceia farta 

dos maremotos 

escondidos!


Queda,

quebra,

estrondo


elegia da natureza 

encantada,

sou água!








SOUSA, Diego Mendes. "Gesta da água". In:_____. Rosa numinosa. Teresina: Ed. do Autor, 2022.

Um comentário:

Josiel disse...

"Rosa numinosa" de Diego Mendes Sousa é uma preciosidade poética; nessa obra, encontramos o poeta esparramado pelas metáforas e símbolos; sua susana é desvelada sem rodeios e está cheia de sedução.
Uma leitura agradabilíssima.