26.12.19

Carlos Drummond de Andrade: "Mãos dadas"




Mãos dadas


Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.



ANDRADE, Carlos  Drummond de. "Mãos dadas". In:_____. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998.




5 comentários:

Flávio Tadeu dos Santos disse...

Este blogue - Acontecimentos - é espaço que me admirou já há muito tempo. O autor, ainda que alçado a imortal da ABL, mantém o blogue sempre ativo, compartilhando ideias e inspiração pelas letras. Isso é admirável.
Que o blogue perdure por bastante tempo ainda.
Desejo a você, Cícero, um feliz ano-novo, com saúde, e mais fecundos trabalhos.
Fique bem.

Antonio Cicero disse...

Muito obrigado, Flávio Tadeu dos Santos! Fico feliz com suas palavras.

Tenha um esplêndido ano novo!

Abraço

Anônimo disse...

Uma sugestão. Se possível, indicar também o ano da publicação original do poema e o título do livro em que ele apareceu pela primeira vez.

Ana Catarina Lopes Caetano disse...

Olá, António Cícero, bom dia.
Hoje, sonhei com uma estrofe deste poema e comoveu-me encontrar este seu post de Dezembro do ano antes da pandemia, quando toda a "engrenagem" do que aqui nos trouxe já estava em movimento.
Viva os Poetas: Drummond, Cícero e tantos Outros!
Um forte abraço desde Lisboa

Antonio Cicero disse...

Muito obrigado, Ana Catarina!

Forte abraço