15.9.19

Antero de Quental: "Sepultura romântica"




Sepultura romântica

Ali, onde o mar quebra, num cachão
Rugidor e monótono, e os ventos
Erguem pelo areal os seus lamentos,
Ali se há-de enterrar meu coração.

Queimem-no os sóis da adusta solidão
Na fornalha do estio, em dias lentos;
Depois, no Inverno, os sopros violentos
Lhe revolvam em torno o árido chão…

Até que se desfaça e, já tornado
Em impalpável pó, seja levado
Nos turbilhões que o vento levantar…

Com suas lutas, seu cans ado anseio,
Seu louco amor, dissolva-se no seio
Desse infecundo desse amargo mar!”






QUENTAL, Antero de. "Sepultura romântica". In: GULLAR, Ferreira (org. e trad.). O prazer do poema: uma antologia pessoal. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2014.


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