5.8.19

Mário Faustino: "Ego de mona kateudo"




Ego de mona kateudo

Dor, dor de minha alma, é madrugada
E aportam-me lembranças de quem amo.
E dobram sonhos na mal-estrelada
Memória arfante donde alguém que chamo
Para outros braços cardiais me nega
Restos de rosa entre lençóis de olvido.
Ao longe ladra um coração na cega
Noite ambulante. E escuto-te o mugido,
Oh vento que meu cérebro aleitaste,
Tempo que meu destino ruminaste.
Amor, amor, enquanto luzes, puro,
Dormido e claro, eu velo em vasto escuro,
Ouvindo as asas roucas de outro dia
Cantar sem despertar minha alegria.





FAUSTINO, Mário. "Ego de mona kateudo". In:_____. Poesia de Mário Faustino. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966.




Observo que o título desse poema é a transcrição para caracteres latinos do último verso do fragmento 168b de um poema de Safo. "Ego de mona kateudo" significa "E eu durmo sozinha". O poema de Safo e sua tradução podem ser lidos neste blog desde 2008, aqui: http://antoniocicero.blogspot.com/2008/02/safo-fr-168b.html

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