11.7.19

Ingeborg Bachmann: "Alle Tage" / "Todos os dias": trad. por Rosvitha Friesen Blume e Markus J. Weininger



Todos os dias

A guerra já não é mais declarada,
Apenas prossegue. O insólito
tornou-se cotidiano. O herói
abstém-se das batalhas. O fraco
é movido para as linhas de fogo.
O uniforme do dia é a paciência,
a medalha, o mísero astro
da esperança sobre o coração.

Esse é conferido
quando nada mais acontece,
quando a metralha se cala,
quando o inimigo ficou invisível
e a sombra do eterno armamento
recobre o céu.

É conferido
pela deserção das bandeiras,
pela bravura frente ao amigo,
pela denúncia de segredos indignos
e pelo ato de ignorar
qualquer ordem.





Alle Tage

Der Krieg wird nicht mehr erklärt,
sondern fortgesetzt. Das Unerhörte 
ist alltäglich geworden. Der Held
bleibt den Kämpfen fern. Der Schwache 
ist in die Feuerzonen gerückt.
Die Uniform des Tages ist die Geduld,
die Auszeichnung der armselige Stern
der Hoffnung über dem Herzen.

Er wird verliehen,
wenn nichts mehr geschieht, 
wenn das Trommelfeuer verstummt,
wenn der Feind unsichtbar geworden ist
und der Schatten ewiger Rüstung
den Himmel bedeckt.

Er wird verliehen
für die Flucht von den Fahnen,
für die Tapferkeit vor dem Freund,
für den Verrat unwürdiger Geheimnisse
und die Nichtachtung
jeglichen Befehls.





BACHMANN, Ingeborg. "Alle Tage" / "Todos os dias". In: BLUME, Rosvitha Friesen; WEININGER, Markus J. Seis décadas de poesia alemã. Do pós-guerra ao início do século XXI. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2012.

2 comentários:

Nelson Santander disse...

Tempos sombrios. Só mesmo a poesia para nos resgatar...

Robert Penn Warren – Conta-me uma história
Deixe uma resposta
A

Há muito tempo, no Kentucky, eu, apenas um rapaz, estava plantado
Em uma estrada de terra, no início da noite, e ouvi
A algaravia dos gansos que se dirigiam para o norte.

Não pude vê-los, pois não havia lua,
E escassos eram os astros. Eu os ouvi.

Eu não sabia o que acontecia em meu coração.

Era a estação antes dos sabugueiros florirem,
Por isso eles se dirigiam para o norte.

O som se dirigia para o norte.

B

Conta-me uma história.

Neste século e momento de insanidade,
Conta-me uma história.

Torna-a uma história sobre as grandes distâncias, e a luz das estrelas.
O nome da história será Tempo,
Mas não deves pronunciar tal nome.

Conta-me uma história de intenso contentamento.

Trad.: Nelson Santander

Tell Me a Story

A

Long ago, in Kentucky, I, a boy, stood
By a dirt road, in first dark, and heard
The great geese hoot northward.

I could not see them, there being no moon
And the stars sparse. I heard them.

I did not know what was happening in my heart.

It was the season before the elderberry blooms,
Therefore they were going north.

The sound was passing northward.

B

Tell me a story.

In this century, and moment, of mania,
Tell me a story.

Make it a story of great distances, and starlight.

The name of the story will be Time,
But you must not pronounce its name.

Tell me a story of deep delight.

Aqui: https://nsantand.wordpress.com/2019/07/27/robert-penn-warren-conte-me-uma-historia/

Antonio Cicero disse...

Caro Nelson,

lindo o poema do Robert Penn Warren, e linda a tradução!

Maravilha!