Até amanhã
Respira. Um corpo horizontal,
tangível, respira.
Um corpo nu, divino,
respira, ondula, infatigável.
Amorosamente toco o que resta dos deuses.
As mãos seguem a inclinação
do peito e tremem,
pesadas de desejo.
Um rio interior aguarda.
Aguarda um relâmpago,
um raio de sol,
outro corpo.
Se encosto o ouvido à sua nudez,
uma música sobe,
ergue-se do sangue,
prolonga outra música.
Um novo corpo nasce,
nasce dessa música que não cessa,
desse bosque rumoroso de luz,
debaixo do meu corpo desvelado.
ANDRADE, Eugénio de. "Até amanhã". In:_____. Poesia. Porto: Modo de Ler, 2011.
Um comentário:
Cicero,
que poema belíssimo! Que maestria! Viva!
Abraço forte,
Adriano Nunes
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