18.7.11

Moacyr Félix: "O poema"




O Poema

Ou se vive por inteiro
ou pela metade a gente
escreve a vida
                          que não viveu.

E o papel em branco então serve
como serve ao prisioneiro
a parede branca do cárcere.

O que não foi é o ser que é
no poema, esse ato mágico
de uma chama que não se vê
tanto mais quanto ela queima
no ar de uma cela vazia
o homem que é posto em pé
sobre os mortos do seu dia



FÉLIX, Moacyr. "O poema" In: FELIX, Moacyr (org.). 41 poetas do Rio. Rio de Janeiro: Funarte,

5 comentários:

Anônimo disse...

"E o papel em branco então serve
como serve ao prisioneiro
a parede branca do cárcere." Essas paredes brancas me fazem pensar no "cubo branco" que serve de atelier de criação para os artistas plásticos. Papel, cárcere, cubo, atelier...tudo é espaço para criação, sem saída...o sujeito se "asfixia" dentro da própria arte. Muito bonito.

bia reinach disse...

Difícil este poema!

ADRIANO NUNES disse...

Cicero,

Belo!


Abração,
Adriano Nunes.

Jefferson Bessa disse...

Belo poema...
entre o sim e o não, o poema vive do que é. Os dois últimos versos são lindos. Estar "em pé" sobre os "mortos". Adorei!
Jefferson.

Janaína de Souza Roberto disse...

Pra mim tem que ser por inteiro. Não quero uma meia laranja! Ou tudo ou nada!