6.9.10

César Vallejo: "Trilce XXVIII": tradução de Floriano Martins

XXVIII

He almorzado solo ahora, y no he tenido
madre, ni súplica, ni sírvete, ni agua,
ni padre que, en el facundo ofertorio
de los choclos, pregunte para su tardanza
de imagen, por los broches mayores del sonido.

Cómo iba yo a almorzar. Cómo me iba a servir
de tales platos distantes esas cosas,
cuando habráse quebrado el propio hogar,
cuando no asoma ni madre a los labios.
Cómo iba yo a almorzar nonada.

A la mesa de un buen amigo he almorzado
con su padre recién llegado del mundo,
con sus canas tías que hablan
en tordillo retinte de porcelana,
bisbiseando por todos sus viudos alvéolos;
y con cubiertos francos de alegres tiroriros,
porque estánse en su casa. Así, ¡qué gracia!
Y me han dolido los cuchillos
de esta mesa en todo el paladar.

El yantar de estas mesas así, en que se prueba
amor ajeno en vez del propio amor,
torna tierra el brocado que no brinda la
                                                  MADRE,
hace golpe la dura deglución; el dulce,
hiel; aceite funéreo, el café.

Cuando ya se ha quebrado el propio hogar,
y el sírvete materno no sale de la
tumba,
la cocina a oscuras, la miseria de amor.




TRILCE, XXVIII

Somente agora almocei, e não tive
mãe, nem súplica, nem serve-te, nem água,
nem pai que, no facundo ofertório
das chancas, pergunte para sua tardança
de imagem pelos broches maiores de som.

Como eu iria almoçar. Como me serviria
de tais pratos distantes essas coisas
quando se houvesse quebrado o próprio lar,
quando não surge nem mãe aos lábios.
Como eu iria almoçar nonada.

À mesa de um bom amigo almocei
com seu pais recém chegado do mundo,
com suas velhas tias que falam
em torto recinto de porcelana,
cochichando por todos seus viúvos alvéolos;
e com cobertos francos de alegres tiroliros,
porque estão em sua casa. Assim, que graça!
E me doeram as facas
desta mesa em todo o paladar.

O jantar destas mesas assim, em que se prova
amor alheio em vez do próprio amor,
torna terra o bocado que não brinda a
                                                  MÃE,
torna golpe a dura deglutição; o doce,
fel; azeite fúnebre, o café.

Quando já se quebrou o próprio lar,
e o serve-te não sai da
tumba,
a cozinha às escuras, a miséria de amor.



VALLEJO, César. "Trilce". Obra poética. A. Ferrrari (org.). Madrid; Paris; México; Buenos Aires; São Paulo; Rio de Janeiro; Lima: Allca XX, UFRJ, 1996.

MARTINS, Floriano. "Antologia peruana essencial". In: Poesia sempre, nº 28, Ano 15, 2008.

6 comentários:

ADRIANO NUNES disse...

Amado Cicero,


Que lindo! Imagens tensas... Obrigado por servir esse belo poema a todos nós, nesta noite!


Abraço fraterno,
Adriano Nunes.

Alcione disse...

Porvir

Viver sem ti
É como estar imerso
Em outro existir
Porvir
Pode ser, com luzes,
Ruas estreitas
Com tantos mil habitantes
Pode existir a panela
A rosa, no vaso singelo,
Pode existir
O gato lambendo a pata indiferente
Observando a velocidade da caneta
Correndo num rompante
E que dirá que existirá além-mar
Na sombra acordada e nua
Uma lua tão brilhante que
Por um instante
Ousará
Fazer-se tua.

ADRIANO NUNES disse...

Cicero,


Um poema que fiz para Marina:

"vivo da tez do verão" - Para Marina Lima.

vivo da tez do verão
sol a pino mar revolto
do sal do ser só me solto
de vez os sonhos virão

sereias vastos caminhos
ostras astros rastros céu
cavalgam vagam ao léu
versos cavalos-marinhos

danos nados tudo sonda
calor-colar nada cala
vista-ponte... perpassá-la?
ultra (voz volátil) onda!



Abraço forte,
Adriano Nunes.

karina rabinovitz disse...

poema grandioso.
obrigada mesmo.

Lisete de Silvio disse...

Provoca-me uma angústia nuclear esta tradução do desamparo. Ufa!

rodrigo madeira disse...

SÓLIDO DE ARQUIMEDES (ou octaedro truncado)


longe é aquele lugar
situado aqui dentro
o longe está tão perto
que longe agulha dentro
fica onde longe (dentro)
fica-se bem no centro
poliedro de um lado
apenas: o de dentro

nem é lugar
nem deslugar;
lugar de dentro.
não é lembrar;
é relembrar
no esquecimento