26.6.10

Federico García Lorca: "Y despues" / "E depois": trad. William Agel de Melo





Y despues


Los laberintos
que crea el tiempo
se desvanecen.

  (Solo queda
el desierto.)

  El corazón,
fuente del deseo,
se desvanece.

  (Solo queda
el desierto.)

  La ilusión de la aurora
y los besos
se desvanecen.

  Solo queda
el desierto.
Un ondulado
desierto.




E depois


Os labirintos
que cria o tempo
se desvanecem.

  (Só fica
o deserto.)

  O coração,
fonte do desejo,
se desvanece.

  (Só fica
o deserto)

  A ilusão da aurora
e os beijos
se desvanecem.

  Só fica
o deserto.
Um ondulado
deserto.




GARCIA LORCA, Federico. Obra poética completa. Trad. William Agel de Melo. Brasília: Martins Fontes / Ed. Universidade de Brasília, 1989.

4 comentários:

Climacus disse...

“Certamente, sofrer/ padecer (πάσχειν) não é simples, por um lado, está sob o efeito da destruição (φθορά) determinada pela adversidade, por outro, supõe a conservação (σωτηρία) do ser em potência pelo ser em ato que se lhe assemelha”. Aristóteles, De anima, 417b.

carmen silvia presotto disse...

Poeiras semânticas, signos no pó da estrada, sigamos letras, versos a driblar este intenso deserto!

Um beijo Poeta e obrigada por este espaço poético.

Carmen Silvia Presotto
www.vidraguas.com.br

rodrigo madeira disse...

GARCÍA LORCA


lá fora
a lua
de granada
(ou madrid?
ou ny?)
é um
candeeiro
a óleo

lá fora
as cigarras
são mais
numerosas
que os homens

e tu
"lleno
del lenguaje
de flores y
piedras"
sentaste
dentro da casa
ou estúdio

tu e o fotógrafo
cúmplices
da tarde
desenrolando
sua língua hirsuta
lá fora

(a fotografia
das vozes
que ninguém tirou)

tu
sentaste
o corpo
oblíquo
o lenço
de seda
de pensado
retorcido

o restolho
sobre os lábios
a cana do trigo
espiga do milho
mal
granado

as sobrancelhas
de urticante
líquido
o cabelo
marulhado
mar
de gordura
e graúnas

olhas
e sorris
para além
do 17 de agosto
aquela madrugada
madrugada (?)
em que te mataram
tua carne cheia
de sementes

tu
- a lâmpada estoura
a égua dispara -
e teu cadáver

que o fotógrafo
embalsamou
de luz

Taveirinha disse...

Aqui vai um poema lindissimo, feito por um portugês para uma espanhola:
In Poesía Completa, Alfaguara, pág. 636-637

Poema escrito por José Saramago para

assinalar a data do seu encontro com Pilar del Rio

Cerremos esta porta.

Devagar, devagar, as roupas caiam

Como de si mesmos se despiam deuses,

E nós o somos, por tão humanos sermos.

É quanto nos foi dado: nada.

Não digamos palavras, suspiremos apenas

Porque o tempo nos olha.

Alguém terá criado antes de ti o sol,

E a lua, e o cometa, o negro espaço,

As estrelas infinitas.

Se juntos, que faremos? O mundo seja,

Como um barco no mar, ou pão na mesa,

Ou rumoroso leito.

Não se afastou o tempo. Assiste e quer.

É já pergunta o seu olhar agudo

À primeira palavra que dizemos:

Tudo.