31.8.17

Arthur Nogueira e Fafá de Belém cantam "Consegui"

Meu parceiro Arthur Nogueira acaba de lançar o clip -- com a participação da querida Fafá de Belém -- da canção "Consegui", parceria minha e dele. Vejam:



30.8.17

Aleksandr Puchkin: "Поэтy" / "A um poeta": trad. de José Casado



A um poeta

Não estimes, poeta, o amor da turbamulta.
Passará o eco do exaltado louvor;
Ouve o rir da alma fria e a máxima de estulta,
Mas permanece firme e calmo e superior.

És rei: por livre estrada (a ser nenhum consulta)
Vai ao fim que a razão livre te faz propor;
Frutos a aperfeiçoar da ideia amada, exulta,
Sem prêmios exigir por proezas de valor.

Acha-os em ti. És teu supremo tribunal;
Julga tua criação do modo mais cabal.
Contente dela estás, autocrítico atuante?

Estás? Deves deixar que a chusma a ataque então,
Cuspa no altar de sobre o qual vem teu clarão
E a trípode te abale com pueril desplante.



Поэтy

Поэт! не дорожи любовию народной.
Восторженных похвал пройдет минутный шум;
Услышишь суд глупца и смех толпы холодной,
Но ты останься тверд, спокоен и угрюм.

Ты царь: живи один. Дорогою свободной
Иди, куда влечет тебя свободный ум,
Усовершенствуя плоды любимых дум,
Не требуя наград за подвиг благородный.

Они в самом тебе. Ты сам свой высший суд;
Всех строже оценить умеешь ты свой труд.
Ты им доволен ли, взыскательный художник?


Доволен? Так пускай толпа его бранит
И плюет на алтарь, где твой огонь горит,
И в детской резвости колеблет твой треножник.



PUCHKIN, Aleksandr Segueievitch. "Поэтy" / "A um poeta". In:_____. Poesias escolhidas. Trad. de José Casado. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1992. 

27.8.17

Pedro Tamen: "Palavras minhas"



Palavras minhas

Palavras que disseste e já não dizes,
palavras como um sol que me queimava,
olhos loucos de um vento que soprava
em olhos que eram meus, e mais felizes.

Palavras que disseste e que diziam
segredos que eram lentas madrugadas,
promessas imperfeitas, murmuradas
enquanto os nossos beijos permitiam.

Palavras que dizias, sem sentido,
sem as quereres, mas só porque eram elas
que traziam a calma das estrelas
à noite que assomava ao meu ouvido…

Palavras que não dizes, nem são tuas,
que morreram, que em ti já não existem
– que são minhas, só minhas, pois persistem
na memória que arrasto pelas ruas.



TAMEN, Pedro. "Palavras minhas". In:_____. Tábua das matérias (Poemas 1956-1991). Sintra: Tertúlia, 1991.

25.8.17

Ricardo Silvestrin: "Bilhete"



Bilhete

Não me parecias frágil,
via-te doce.
Talvez fosses mesmo forte,
é preciso ser valente
pra decretar a própria morte.

Tinha-te por calmo.
Que rio obscuro e discreto
te puxava para o fundo,
sem saber nadar,
sem ninguém saber de nada?

Não deixaste uma carta,
um poema, um bilhete de suicida.
Como se quisesses dizer
que a morte
não deve explicações à vida



SILVESTRIN, Ricardo. "Bilhete". In:_____. Typographo. São Paulo: Patuá, 2016.

23.8.17

Lúcio Carvalho: "A poesia, a crítica e um tanto mais"


Gostei também do artigo "A poesia, a crítica e um tanto mais", de Lúcio Carvalho, na revista digital "amálgama", editada por Daniel Lopes. Encontra-se aqui:
https://www.revistaamalgama.com.br/07/2017/resenha-a-poesia-e-a-critica-antonio-cicero/ 

Jorge Salomão: "em mim não habita o deserto que há em ti"



em mim não habita o deserto que há em ti
minha alma é um oásis luminoso
você constrói sua jaula, e nela quer ficar
cuidado
eu faço o que acho que deve ser feito na hora certa
existe diferença entre paixão e projeção?
será que terei de me tornar um insensível
só pra suprir a demanda do mercado atual?
quanto mais eu me acho mais eu me perco
que os tambores batam
e que tudo se acenda forte!



SALOMÃO, Jorge. "em mim não habita o deserto que há em ti". In:_____. Mosaical. Rio de Janeiro: Gryphus, 1994.

22.8.17

Arthur Nogueira sobre "A poesia e a crítica"



Fiquei muito feliz com o que meu querido amigo e parceiro, Arthur Nogueira, escreveu, para o blog da Companhia das Letras, sobre meu livro "A poesia e a crítica". Fica aqui:
http://www.blogdacompanhia.com.br/conteudos/visualizar/Sobre-A-poesia-e-a-critica-de-Antonio-Cicero4

21.8.17

P.B. Shelley: "Lines (That time is dead forever...)" / "Versos (Perdeu-se a era...)": trad. de Adriano Scandolara



Lines (That time is dead for ever...)

That time is dead for ever, child!
Drowned, frozen, dead for ever!
We look on the past
And stare aghast
At the spectres wailing, pale and ghast,
Of hopes which thou and I beguiled
To death on life’s dark river.

The stream we gazed on then rolled by;
Its waves are unreturning;
But we yet stand
In a lone land,
Like tombs to mark the memory
Of hopes and fears, which fade and flee
In the light of life’s dim morning.



Versos (Perdeu-se a era...)

Perdeu-se a era, Ó criança!
gelada, fugaz, perdida!
e vê-se o passado
de olhar assombrado,
enquanto geme o espectro, afogado,
dos nossos devaneios de esperança,
no rio sombrio da vida.

O rio que vimos noutro momento
deságua em tempos de outrora;
e todavia
em terra vazia,
jazemos feito monumentos
de esperança e medo, fugindo lentos
na réstia vital desta aurora.




SHELLEY, P.B. "Lines (That time is dead forever...)". In:_____. Prometeu desacorrentado e outros poemas. Trad. por Adriano Scandolara. Belo Horizonte: Autêntica, 2015.

19.8.17

Roberto Athayde: "Entrementes em Copacabana"





Entrementes em Copacabana

Aquela pessoa na horizontal
Aquele defunto na ciclovia
Lembrete importuno da morte rainha



ATHAYDE, Roberto. "Entrementes em Copacabana". In:_____. Abracadabrante. Rio de Janeiro: Sans Souci, 2001.


18.8.17

Entrevista de Antonio Cicero ao Canal Curta



O excelente Canal Curta acaba de postar no You Tube trechos de uma entrevista que fez comigo por ocasião do lançamento do meu livro mais recente, A poesia e a crítica. Ei-los:

17.8.17

Adriano Nunes: "Erato"

Agradeço a Adriano Nunes por me ter dedicado o seguinte belo poema:



Clique, para ampliar:






NUNES, Adriano. "Erato".



15.8.17

Carlos Drummond de Andrade: "Confissão"



Confissão

É certo que me repito,
é certo que me refuto
e que, decidido, hesito
no entra-e-sai de um minuto.

É certo que irresoluto
entre o velho e o novo rito,
atiro à cesta o absoluto
como inútil papelito.

É tão certo que me aperto
numa tenaz de mosquito
como é trinta vezes certo
que me oculto no meu grito.

Certo, certo, certo, certo
que mais sinto que reflito
as fábulas do deserto
do raciocínio infinito.

É tudo certo e prescrito
em nebuloso estatuto.
O homem, chamar-lhe mito
não passa de anacoluto.



ANDRADE, Carlos Drummond de. "Confissão". In:_____. "As impurezas do branco". In:_____. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguiolar, 1988.

10 fatos sobre Antonio Cicero



Acabo de ver que o site Bol (Brasil On Line) publicou uma matéria intitulada "10 fatos sobre Antonio Cicero, o mais novo imortal do Brasil". Fica aqui: https://noticias.bol.uol.com.br/bol-listas/10-fatos-sobre-antonio-cicero-o-mais-novo-imortal-do-brasil.htm.

11.8.17

Eucanaã Ferraz: "Graça"



Graça

Milhões de palavras derramadas inúteis
mas teu rosto não; árvores tombadas livros
partidos tudo se vende mas teu rosto não;
sangue de cidades e crianças mas teu rosto
segue limpo; em cada canto um inimigo;
no teu rosto não: rosto onde não cabe
a guerra; rosto sem irmão; teu rosto
o teu nome o diz.



FERRAZ, Eucanaã. "Graça". In:_____. Escuta. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

8.8.17

Jules Laforgue: "Complainte de la bonne défunte" / "Lamento da boa defunta": trad. de Régis Bonvicino




Lamento da boa defunta

Pela avenida ela fugia,
Iluminada eu a seguia,
Adivinhei! O olho dizia,
Hélas! Eu a reconhecia!

Iluminada eu a seguia,
Boca ingênua, nada via,
Oh! sim eu a reconhecia,
Ou sonhaborto ela seria?

Boca murcha, olho-fantasia;
Branco cravo, azul esvaía;
O sonhaborto amanhecia!
Ela em morta se convertia.

Jaz, cravo, de azul esvaía,
A vida humana prosseguia
Sem ti, defunta em demasia.
– Oh! já em casa, boca vazia!

Claro, eu não a conhecia.




Complainte de la bonne défunte

Elle fuyait par l'avenue,
Je la suivais illuminé,
Ses yeux disaient : " J'ai deviné
Hélas! que tu m'as reconnue ! "

Je la suivis illuminé !
Yeux désolés, bouche ingénue,
Pourquoi l'avais-je reconnue,
Elle, loyal rêve mort-né ?

Yeux trop mûrs, mais bouche ingénue ;
Oeillet blanc, d'azur trop veiné ;
Oh ! oui, rien qu'un rêve mort-né,
Car, défunte elle est devenue.

Gis, oeillet, d'azur trop veiné,
La vie humaine continue
Sans toi, défunte devenue.
- Oh ! je rentrerai sans dîner !

Vrai, je ne l'ai jamais connue.




LAFORGUE, Jules. "Complainte de la bonne défunte" / "Lamento da boa defunda". In:_____. Litanias da lua. Org. e trad. de Régis Bonvicino. São Paulo: Iluminuras, 1989. 

6.8.17

Para Suzana Moraes



Minha amiga Susana Moraes, uma das pessoas que mais admirei e amei em toda minha vida, faria aniversário hoje. Abaixo, uma foto de nós dois e um dos poemas que a ela dediquei. 
















Longe
                                    Para Susana Moraes

A chuva forte, o resfriado
real ou fingido, e eis-me livre
da escola e solto no meu quarto,
nos lençóis, nos mares de Chipre
ou no salão de Ana Pavlovna
ou no de Alcínoo, nas cavernas
de Barabar ou sob a abóbada
de Xanadu; perplexo em Tebas
e pelas veredas ambíguas
do sertão do corpo da língua,
cada vez mais longe de escolas
e de peladas e de bolas
e de promessas de futuros:
é mesmo errático meu rumo.



5.8.17

Manuel Bandeira: "Soneto inglês nº2"



Soneto inglês nº2

Aceitar o castigo imerecido,
Não por fraqueza, mas por altivez.
No tormento mais fundo o teu gemido
Trocar num grito de ódio a quem o fez.
As delícias da carne e pensamento
Com que o instinto da espécie nos engana,
Sobpor ao generoso sentimento
De uma afeição mais simplesmente humana.
Não tremer de esperança e nem de espanto.
Nada pedir nem desejar senão
A coragem de ser um novo santo
Sem fé num mundo além do mundo. E então
    Morrer sem uma lágrima, que a vida
    Não vale a pena e a dor de ser vivida.



BANDEIRA, Manuel. "Soneto inglês nº2". In:_____. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1967.

3.8.17

Jorge Luis Borges: "Camden, 1982": trad. de Augusto de Campos



Camden, 1982

O cheiro do jornal e dos periódicos.
O domingo e seus tédios. A manhã
E na entrevista página essa vã
Publicação de versos alegóricos

De um colega feliz. O homem velho
Está prostrado e branco na decente
Habitação de pobre. Ociosamente
Olha seu rosto no cansado espelho.


Pensa, já sem assombro, que essa cara
É ele. Incerta, a mão acaso toca
A barba turva e a saqueada boca.

Não está longe o fim. Sua voz declara:
Quase não sou, mas os meus versos ritmam
A vida e sua glória. Sou Walt Whitman.




Camden, 1982


El olor del café y de los periódicos.
El domingo y su tedio. La mañana
Y en la entrevista página esa vana
Publicación de versos alegóricos

De un colega feliz. El hombre viejo
Está postrado y blanco en su decente
Habitación de pobre. Ociosamente
Mira su cara en el cansado espejo.

Piensa, ya sin asombro, que esa cara
Es él. La distraída mano toca
La turbia barba y saqueada boca.

No está lejos el fin. Su voz declara:
Casi no soy, pero mis versos ritman
La vida y su esplendor. Yo fui Walt Whitman.




BORGES, Jorge Luis. "Camden, 1982". In:_____. Quase Borges: 20 transpoemas e uma entrevista. Org. e trad. de Augusto de Campos. São Paulo: Terracota, 2013.

1.8.17

Sandra Niskier Flanzer: "In utilizar"



In utilizar

Gastar, gastar, usar a vida
Deixar que escorra, provar da bica
Gastar, roer, raspar do fundo
Fincar as unhas no umbigo do mundo.
Cravar as mãos, roçar, pegar,
Ir ao encontro de, ralar, ralar
Usar agora, desgastar, se engastar
No tempo breve que passa justo.
Perder, perder, ceder ao outro
O resto pífio desse plano torto
De achar que vivo é o que se encaixa
Quando é a morte que se guarda em caixa.
Porvir, puir, e por ir, desperdiçar
Do impossível, cruzar a faixa
Fuçar o real que no acaso sobrar
E torná-lo inútil a ponto de gostar.




FLANZER, Sandra Niskier. "In utilizar". In:_____. Do quarto. Rio de Janeiro: 7Letras, 2017.