Soneto inglês nº2
Aceitar o castigo imerecido,
Não por fraqueza, mas por altivez.
No tormento mais fundo o teu gemido
Trocar num grito de ódio a quem o fez.
As delícias da carne e pensamento
Com que o instinto da espécie nos engana,
Sobpor ao generoso sentimento
De uma afeição mais simplesmente humana.
Não tremer de esperança e nem de espanto.
Nada pedir nem desejar senão
A coragem de ser um novo santo
Sem fé num mundo além do mundo. E então
Morrer sem uma lágrima, que a vida
Não vale a pena e a dor de ser vivida.
BANDEIRA, Manuel. "Soneto inglês nº2". In:_____.
Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1967.
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