15.12.14

Carlos Drummond de Andrade: de carta a José Guilherme Merquior




Do interessantíssimo depoimento de José Mário Pereira sobre seu amigo José Guilherme Merquior, publico abaixo um belo trecho da carta que Carlos Drummond de Andrade enviou a Merquior. 

José Mário Pereira explica que Merquior 

doutorou-se em letras pela Sorbonne, orientando de Raymond Cantel, com tese sobre Carlos Drummond de Andrade aprovada com louvor em junho de 1972. Depois de levar meses para acusar a remessa dos capítulos que Merquior lhe enviava, Drummond respondeu:

"Eu poderia  tentar justificar-me alegando que esperava o recebimento do texto completo para lhe escrever. Mas a verdade verdadeira é que, desde a leitura das primeiras páginas, me bateu  uma espécie de inibição que conheço bem, por ser velha companheira de minhas emoções mais puras. Se você estivesse ao meu lado nos momentos de leitura, decerto acharia graça na dificuldade e confusão das palavras que eu lhe dissesse. Talvez até  nem dissesse nenhuma. E na minha cara a encabulação visível diria tudo… ou antes, não diria nada, pois o melhor da sensação escapa a esse código fisionômico. Senti-me confortado, vitalizado, vivo. Meus versos saem sempre de mim como enormes pontos de interrogação, e constituem mais uma procura do que um resultado. Sei muito pouco de mim e duvido muito — você vai achar graça outra vez — de minha existência. Uma palavra que venha de fora pode trazer-me uma certeza positiva ou negativa. A sua veio com uma afirmação, uma força de convicção que me iluminou por dentro. E também com uma sutileza de percepção  e valorização crítica diante da qual  me vejo orgulhoso de nobre orgulho e… esmagado. Eis aí, meu caro Merquior. Estou feliz, por obra e graça de você, e ao mesmo tempo estou bloqueado na expressão dessa felicidade."



PEREIRA, José Mário. "O fenômeno Merquior". In: COSTA E SILVA, Alberto da. O Itamaraty na cultura brasileira. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 2002.

2 comentários:

  1. Oh,
    Sonho de uma noite de verão
    (Desatino de um coração)
    Borda bordada
    Em letras derramada
    Fio por fio
    Traçada
    Numa rosa
    Numa prosa
    Entre aquilo
    Que não vejo
    Percebo teu encanto
    Um beijo, um pranto
    Pois lágrimas são dádivas
    Livres da servidão
    Chaves de um coração.

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  2. Era bom quando a direita tinha gente do naipe do Guilherme.

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