Pleno de vida agora
Pleno de vida agora, consistente, visível,
Eu, quarenta anos vividos, no ano oitenta e três anos dos Estados,
Ao homem que viva daqui a um século, ou dentro de quantos séculos for,
A ti, que ainda não nasceste, dirijo este canto.
Quando leias isto, eu, que agora sou visível, terei me tornado invisível,
Enquanto tu serás consistente e visível, e darás realidade a meus poemas, voltando-te para mim,
Imaginando como seria bom se eu pudesse estar contigo e ser teu camarada:
Faz de conta que eu estou contigo. (E não o duvides muito, porque eu estou aí nesse momento.)
WHITMAN, Walt. "Pleno de vida agora". In: GULLAR, Ferreira (trad. e org.). O prazer do poema. Uma antologia pessoal. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2014.
Full of life now
Full of life now, compact, visible,
I, forty years old the eighty-third year of the States,
To one a century hence or any number of centuries hence,
To you yet unborn these, seeking you.
When you read these I that was visible am become invisible,
Now it is you, compact, visible, realizing my poems, seeking me,
Fancying how happy you were if I could be with you and become your comrade;
Be it as if I were with you. (Be not too certain but I am now with you.)
WHITMAN, Walt. "Leaves of grass". In:_____. The complete poems. Org. por Francis Murphy. Hamondsworth: Penguin, 1977.
Cicero,
ResponderExcluiresta é a sensação que tenho quando leio um poema daqueles que amo e admiro, que eles estão, aqui, ao meu lado, a ler comigo. Por isso, quando você, em um dos seus belos poemas "Dita", escreveu que que era dono dos poemas dos seus heterônimos famosos "Catulo, Caetano, Safo ou Fernando",senti, ali também, essa grandeza que é a chamada identificação artística, a universalidade, que perpassou desde tempos homéricos e que se fez história no momento em que (que genialidade de Homero!) Ulisses ouve os relatos de suas próprias aventuras. Isto é: os aedos foram os primeiros historiadores e,por isso, faziam com que sentíssemos que eles estavam presentes, quando os seus poemas e relatos eram ditos. Este poema de Walt Whitman pertence aos grandes poemas da humanidade, por sua beleza irretocável.
Abraço forte,
Adriano Nunes
Nossa, que interessante esse livro do Gullar! Cicero, você sabe me dizer se é uma edição bilíngue?
ResponderExcluirCaro Jander,
ResponderExcluirA edição não é bilingue.
Abraço
Caro Cícero, toda vez que recordo esse título - "Full of life now" - me lembro do desabafo do Bandeira, na "Canção do vento e da minha vida": "E minha vida ficava cada vez mais cheia de tudo". Curioso que o tom do poema de Whitman não é melancólico, de desabafo ou de cansaço, como o de Bandeira. É apenas a expressão "full of life" que me remete a algo como "estou cheio dessa vida". Dessa mistura grosseira e conscientemente equivocada é que os dois poemas assumem novos sentidos para mim. E o alento do poema "Full of life now" se torna mais intenso. Desculpe por me prolongar, mas gostaria de saber o que acha disso, do fato de a poesia nascer de tão estranha associação. Abraço!!
ResponderExcluirCaro Ricardo,
ResponderExcluirNão leio esses poemas como você. Para mim, o poema de Bandeira não é um desabafo, mas uma celebração da vida. Tudo o que o vento leva, no poema de Bandeira, são coisas boas. É o tempo, que leva tudo embora. No entanto, as coisas levadas pelo vento permanecem na vida -- e na poesia -- de Bandeira. A vida dele ficava cheia, isto é, ficava plena de frutos, flores, folhas, aromas, estrelas, cânticos... Isso me lembra um trecho do poema dele "Testamento", que diz:
Gosto muito de crianças:
Não tive um filho de meu.
Um filho!... Não foi de jeito...
Mas trago dentro do peito
Meu filho que não nasceu.
Assim também, ele traz no peito as coisas que o tempo varreu.
Quanto ao poema de Whitman, ele é totalmente afirmativo. Whitman não está "cheio" de nada, ele está pleno de tudo. E é assim que ele quer ser apreciado pelas gerações futuras.
Abraço
Caro Cícero, obrigado por responder. Acho que o que me passa a sensação de desabafo no poema de Bandeira é a leitura que ele faz num CD que tenho. Bandeira era mestre nas entonações e pausas (você já deve tê-lo ouvido), e o áudio me transmite certa melancolia. Ou talvez a melancolia esteja em mim, não sei. Um grande abraço!
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