Não ia ter Copa
Não ia ter Copa, lembra-se? Cinquenta desajustados mentais em cada cidade exibiam cartazes com esses dizeres e, misturando-se a manifestantes com reivindicações legítimas e específicas, atreviam-se a falar pelos milhões de brasileiros que gostam de futebol. E, por quase um ano, valendo-se da nossa incapacidade para cumprir prazos, respeitar orçamentos e prover segurança, fizeram parecer que seu mote ganharia quorum para se tornar realidade.
Nós, da mídia, fomos essenciais para esse pessimismo, denunciando a Fifa como Estado invasor, o fracasso na preparação da infraestrutura exigida para receber os visitantes e a diferença entre o custo estimado dos estádios e o custo real --embora não me lembre de nenhuma reportagem dizendo para onde foi o dinheiro. O "Imagina na Copa!", que começou como uma brincadeira, tornou-se a sentença para a nossa inabalável vocação para o subdesenvolvimento.
A revolta ficou ainda maior ao se constatar que, pela configuração dos estádios, o preço dos ingressos e a escolha de certas cidades-sede, esta seria uma Copa de e para as "elites" --triste ironia sabendo-se que fazia parte do plano de um governo "popular" para eternizar-se no poder. Como se fosse pouco, veio o desgaste do dito governo, provocado pela economia pífia, a corrupção comprovada e o cansaço do discurso oficial. A Copa, em certo momento, parecia simbolizar toda uma farsa. Era inevitável que entrasse na agenda dos protestos que começaram em junho de 2013.
ResponderExcluirUma porrada bem dada. Há, decerto, argumentos irrefutáveis no artigo do Ruy Castro. Como exemplo, transcrevo estes:
"Nós, da mídia, fomos essenciais para esse pessimismo, denunciando a Fifa como Estado invasor, o fracasso na preparação da infraestrutura exigida para receber os visitantes e a diferença entre o custo estimado dos estádios e o custo real --embora não me lembre de nenhuma reportagem dizendo para onde foi o dinheiro. O "Imagina na Copa!", que começou como uma brincadeira, tornou-se a sentença para a nossa inabalável vocação para o subdesenvolvimento.
A revolta ficou ainda maior ao se constatar que, pela configuração dos estádios, o preço dos ingressos e a escolha de certas cidades-sede, esta seria uma Copa de e para as "elites" --triste ironia sabendo-se que fazia parte do plano de um governo "popular" [...]".
Não penso que o PT queira perpetuar-se no poder, nem pense nisso como algo legítimo, ou crível. Apenas faço esta breve ressalva.
No mais, como escrevi, o Ruy Castro é o antídoto para a leviandade. Gosto dele imensamente, como jornalista, escritor e formador de opinião. Escreve fácil, como quem bate um papo, e pode até parecer ser fácil escrever assim, mas não é. É preciso ter uma habilidade de craque, muita luta, bastante bagagem, é preciso ter pelejado "como um remador de Ben-Hur", para usar uma expressão fincada por Nelson Rodrigues, expressão e autor tão caros ao Ruy, cuja palavra merece ser lida com bastante atenção.
Abraços
Arsenio Meira Filho