Não concordo, Hidayck. Essa sua interpretação é muito restritiva. Primeiro porque a infância é pátria no sentido de que é de lá que viemos; foi lá que primeiro encontramos o mundo e a nós mesmos; foi lá que aprendemos a falar e pensar: e isso é universal; segundo porque "incompetência para a vida" cheira a incompetência para a vida dominada pelo princípio do desempenho; e a atitude estética ou poética dos poetas e artistas está mais próxima da irresponsabilidade infantil do que desse tipo de competência.
Cícero, foi de lá que viemos, mas não é lá que estamos, pelo menos não é onde eu quero estar. Encontramos um mundo na infância e passamos a vida encontrando outros, e é no(s) mundo(s) de hoje que eu prefiro me exilar. O fazer poético deve, sim, à "irresponsabilidade infantil" e à liberdade de emoção e pensamento da criança, mas a consistência da poesia pede uma madureza na sensibilidade e na inteligência, que poetas como você, por exemplo, revelam. O desempenho, que não se relaciona com aprovações,tem importância. E eu não desgostei do poema de Cacaso, é lindo, só não concordo com o que ele diz, e nem considero isso importante, não leio poemas para "concordar" com eles. Abraço.
Olha, com todo o respeito ao Hydayck, mas esse é dos poemas mais belos do Cacaso. Pouco me importa possíveis implicações com a vida real, de concreto e arame farpado. Além do mais, tudo o que não guarde relação direta com o poema, enquanto fruto da arte literária, são ilações. Morto ainda jovem, Cacaso foi competentíssimo. O Poema é competentíssimo. Poeticamente, esteticamente. Temática - como lembrou o Cicero - universal.
Gilberto Gil, em Metáfora, letra/poema belamente musicado pelo próprio, advertiu: "Uma lata existe para conter algo, /Mas quando o poeta diz lata / Pode estar querendo dizer o incontível."
O sentimento é algo íntimo. A infância... Cada um sabe bem onde deseja estar ou ser. Há os que não sabem, e é mais seguro não emitir juízo algum sobre a ausência de uma pessoa. Eu tenho uma saudade grande da infância, graças a Deus, ou Deuses ou, e primordialmente, graças aos meus pais e a mim mesmo. Gostaria de passar metade do tempo lá e o restante do expediente no aqui e agora. Manuel Bandeira, comemorando o seus cinquenta anos, escreveu:
"VELHA CHÁCARA
A casa era por aqui... Onde? Procuro-a e não acho. Ouço uma voz que esqueci: É a voz deste mesmo riacho.
Ah quanto tempo passou! (Foram mais de cinqüenta anos) Tantos que a morte levou! (E a vida... nos desenganos...)
A usura fez tábua rasa Da velha chácara triste: Não existe mais a casa...
— Mas o menino ainda existe.
MANUEL BANDEIRA (In "Poesia Completa e Prosa", editora Nova Aguilar, 2009, 5ª edição)
Mais de vinte depois, salvo engano, Cacaso nos brindou com Lar Doce Lar, tão belo quanto. Uma grande dor é o fato de o poeta ter partido tão cedo desse exílio incontornável. Arsenio Meira Júnior
Arsenio, você não entendeu meu comentário. Eu não questionei a qualidade do poema de Cacaso, muito pelo contrário. Sobre ser universal, há incompetências universais, e não saber segurar a barra com o que a vida oferece hoje, com toda a capacidade de poesia e imaginação, pode ser uma delas.
Hidayck, entendi seu comentário ou ponto de vista. Saber ou não segurar a barra hoje com todo esse arsenal de felicidade que a vida oferece, conforme sua visão, é algo subjetiva por demais, não dá para julgar, essa catilinária eu não topo ou aceito.
Cada um se vira com o que tem. E só acho chato ser ou pretender ser juiz de alguém ou de algo, apontando coisas que jamais saberemos, como por exemplo a dor de um depressivo, cuja saudade da infância o prende, ainda, à vida.
E não só esse exemplo é válido. Milhares de outros existem. Eu é que não vou apontar o dedo acusatório contra quem faz da infância um pouso, um abrigo. Você é livre, e como tal, pode questionar o que bem entender.
Esse desejo de infância me cheira incompetência para a vida. Mas o poema é bonito.
ResponderExcluirNão concordo, Hidayck. Essa sua interpretação é muito restritiva. Primeiro porque a infância é pátria no sentido de que é de lá que viemos; foi lá que primeiro encontramos o mundo e a nós mesmos; foi lá que aprendemos a falar e pensar: e isso é universal; segundo porque "incompetência para a vida" cheira a incompetência para a vida dominada pelo princípio do desempenho; e a atitude estética ou poética dos poetas e artistas está mais próxima da irresponsabilidade infantil do que desse tipo de competência.
ResponderExcluirCícero, foi de lá que viemos, mas não é lá que estamos, pelo menos não é onde eu quero estar. Encontramos um mundo na infância e passamos a vida encontrando outros, e é no(s) mundo(s) de hoje que eu prefiro me exilar. O fazer poético deve, sim, à "irresponsabilidade infantil" e à liberdade de emoção e pensamento da criança, mas a consistência da poesia pede uma madureza na sensibilidade e na inteligência, que poetas como você, por exemplo, revelam. O desempenho, que não se relaciona com aprovações,tem importância. E eu não desgostei do poema de Cacaso, é lindo, só não concordo com o que ele diz, e nem considero isso importante, não leio poemas para "concordar" com eles. Abraço.
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ResponderExcluirOlha, com todo o respeito ao Hydayck, mas esse é dos poemas mais belos do Cacaso. Pouco me importa possíveis implicações com a vida real, de concreto e arame farpado. Além do mais, tudo o que não guarde relação direta com o poema, enquanto fruto da arte literária, são ilações. Morto ainda jovem, Cacaso foi competentíssimo. O Poema é competentíssimo. Poeticamente, esteticamente. Temática - como lembrou o Cicero - universal.
Gilberto Gil, em Metáfora, letra/poema belamente musicado pelo próprio, advertiu: "Uma lata existe para conter algo, /Mas quando o poeta diz lata / Pode estar querendo dizer o incontível."
O sentimento é algo íntimo. A infância... Cada um sabe bem onde deseja estar ou ser. Há os que não sabem, e é mais seguro não emitir juízo algum sobre a ausência de uma pessoa. Eu tenho uma saudade grande da infância, graças a Deus, ou Deuses ou, e primordialmente, graças aos meus pais e a mim mesmo. Gostaria de passar metade do tempo lá e o restante do expediente no aqui e agora. Manuel Bandeira, comemorando o seus cinquenta anos, escreveu:
"VELHA CHÁCARA
A casa era por aqui...
Onde? Procuro-a e não acho.
Ouço uma voz que esqueci:
É a voz deste mesmo riacho.
Ah quanto tempo passou!
(Foram mais de cinqüenta anos)
Tantos que a morte levou!
(E a vida... nos desenganos...)
A usura fez tábua rasa
Da velha chácara triste:
Não existe mais a casa...
— Mas o menino ainda existe.
MANUEL BANDEIRA
(In "Poesia Completa e Prosa", editora Nova Aguilar, 2009, 5ª edição)
Mais de vinte depois, salvo engano, Cacaso nos brindou com Lar Doce Lar, tão belo quanto. Uma grande dor é o fato de o poeta ter partido tão cedo desse exílio incontornável.
Arsenio Meira Júnior
Arsenio, você não entendeu meu comentário. Eu não questionei a qualidade do poema de Cacaso, muito pelo contrário. Sobre ser universal, há incompetências universais, e não saber segurar a barra com o que a vida oferece hoje, com toda a capacidade de poesia e imaginação, pode ser uma delas.
ResponderExcluirHidayck, entendi seu comentário ou ponto de vista. Saber ou não segurar a barra hoje com todo esse arsenal de felicidade que a vida oferece, conforme sua visão, é algo subjetiva por demais, não dá para julgar, essa catilinária eu não topo ou aceito.
ResponderExcluirCada um se vira com o que tem. E só acho chato ser ou pretender ser juiz de alguém ou de algo, apontando coisas que jamais saberemos, como por exemplo a dor de um depressivo, cuja saudade da infância o prende, ainda, à vida.
E não só esse exemplo é válido. Milhares de outros existem. Eu é que não vou apontar o dedo acusatório contra quem faz da infância um pouso, um abrigo. Você é livre, e como tal, pode questionar o que bem entender.
Arsenio Meira Júnior