6.4.11

Fernanda Torres: "Os demônios"

O seguinte artigo de Fernanda Torres foi publicado na "Ilustrada", da Folha de São Paulo, no sábado passado.

Os demônios

NO CLÁSSICO romance de Fiodor Dostoiévski "Os Demônios", revolucionários radicais atuam clandestinamente, incitando a população a vaiar o poeta Stiepan Trofímovitch durante o sarau de uma pequena cidade do interior da Rússia. O objetivo do grupo é exterminar uma arte considerada burguesa.

Trofímovitch responde com veemência à agressão:

"Eu proclamo (...), proclamo que Shakespeare e Rafael estão acima da libertação dos camponeses, acima da nacionalidade, acima do socialismo, acima da nova geração, acima da química, acima de quase toda a humanidade, porque são o fruto, o verdadeiro fruto de toda a humanidade e, talvez, o fruto supremo, o único que pode existir! É a forma da beleza já atingida, e sem atingi-la eu talvez já não concordasse em viver..."

O caso de amor e ódio da arte com a sociedade provoca reações passionais. No Brasil, já fui testemunha de pelo menos um momento de ojeriza explícita que culminou com o fechamento sumário da Embrafilme.

Os mesmos ataques de agora, calcados na dependência do dinheiro público e na formação de panelas culturais, culminaram com a decisão do ex-presidente Fernando Collor de decretar o fim da estatal sem temer represálias.

O cinema demorou mais de dez anos para se reestruturar.

Antes da criação da Lei Sarney, em 1986, os subsídios culturais aconteciam por meio de patrocínio, dinheiro dito bom, de propaganda das empresas. Mas chegou-se à conclusão de que esse sistema era elitista e favorecia os artistas mais conhecidos.

O modelo foi enterrado e as leis de incentivo surgiram para democratizar a relação do empresariado com a cultura.

Durante os oito anos de FHC, a política do Planalto ampliou os subsídios e deixou que o mercado se autorregulasse. Quando Lula assumiu, o MinC decidiu exercer um controle mais incisivo.

As dúvidas em relação à necessidade dos artistas consagrados utilizarem tais benefícios vem ganhando força desde então.

O ex-ministro da Cultura Juca Ferreira já chamava a atenção para os dividendos que a associação de um artista de renome com marcas e produtos trazia para as empresas e defendia, em tais casos, a entrada de dinheiro bom na negociação.

Carmen Mello, produtora associada a mim e a minha mãe, tenta desde 2008 convencer as firmas envolvidas a empregarem, como antigamente, sua verba de propaganda nos espetáculos que produz. Mas, sem as leis de isenção, não há interesse.

Não se deve crucificar artistas e empresários. Ninguém deseja para si a pecha de onerar o povo para poder existir. Há mais de 20 anos, todo o mercado foi direcionado para agir segundo as normas vigentes. A volta do patrocínio precisaria ser motivada.

Maria Bethânia estreou seu espetáculo de poesia sem apoio de nenhum benefício fiscal. A bilheteria do teatro do Fashion Mall, no Rio de Janeiro, cobriu os custos e o público fiel foi suficiente para lotar a curta temporada sem maiores gastos com publicidade.

Bethânia produziu uma obra de delicadeza tão notável que incitou Hermano Vianna a levá-la para a internet, de graça e por toda a vida. Todas as empresas contatadas desejaram se aliar ao projeto, mas insistiram nas leis de incentivo.

Bethânia cobrou pela elaboração, feitura e doação "ad eternum" de seus direitos de imagem para veiculação gratuita, R$ 1.643 por vídeo. O Minc, que aprovou outros sites por valores até superiores, entendeu que era justo.

A manchete na primeira página afirmando que Bethânia receberia R$ 1,3 milhão para fazer um blog, apesar de verdadeira, sugere falcatrua e má-fé.

O site "O Brasil Precisa de Poesia" se transformou no bode expiatório da encruzilhada da política cultural brasileira. Aberrações graves poderiam ter servido de exemplo, mas queimar uma feiticeira da dimensão de Bethânia tem um valor insubstituível do ponto de vista do escândalo.

O Brasil subsidia infindáveis setores de sua produção, o papel que imprime este jornal inclusive.

Do total desse investimento, um por cento é destinado à cultura.

A economia criativa, propulsora de grandes negócios no mundo civilizado, está engessada no nosso país. A arte foi estatizada e se transformou, à vista do público, em um pária dependente do tesouro.

Talentos como o de Bethânia teriam um valor inestimável e seriam remunerados à altura se encontrássemos uma maneira de fazer a poesia e a educação participarem da economia da sétima potência mundial.

Algum carro, xampu ou refrigerante se interessaria em associar sua imagem a Guimarães Rosa e a Fernando Pessoa?

13 comentários:

  1. Antonio Cicero, caro

    Que bom você ter publicado esse artigo que eu havia citado anteriormente. Fica claríssimo duas coisas: 1- as leis de incentivos estão se prestando a práticas digamos inadequadas: devem servir prioritariamente senão exclusivamente a iniciantes ou a quem não tem outros recusos para produzir arte, cultura. 2- por isso mesmo, é preciso conscientizar as empresas de que patrocinar a arte é uma forma de autopromoção, como fazem há anos a Petrobrás e o Itaú, entre outras. Segundo estatísticas recentes, nossas empresas faturaram MUITOS BILHÕES no ano passado - bastaria destinar um 1 % para a cultura e já teríamos um outro panorama. Espero, com fé laica, que Bethênia enterre o projeto atual e o faça renascer como tudo o que fez até hoje: muito bem patrocinado por sua própria imagem, infelizmente superdesgastada com o episódio. Não acredito, como Caetano pensa, que seja um complô, mas ela se expôs demais num terreno em que muitos se sentem fragilizados, qual seja, o uso (in)adequado de verba pública.
    Um último argumento: já pensou se você cobrasse 2 mil reais por poema postado em seu blog?! Embora não seja rico, você o faz de forma dadivosa, como um dom de seu talento e inteligência. E só posso dizer: muito obrigado!
    Abração,

    Lúcio

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  2. A Fernanda Torres escreveu este desagravo sem dizer ao leitores que é esposa do Andrucha Waddington - produtor do projeto da Maria Bethânia. Há que se considerar que ela, como no dito popular, "puxou a sardinha" para o lado deles. E outra coisa: seria bom mesmo que Pessoa e Guimarães Rosa fossem associados à marcas? Eles revirariam-se em suas tumbas.

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  3. Caro Lúcio,

    não há razão em Bethânia enterrar o atual projeto. Ela não se expos: foi exposta por aqueles que sequer se deram ao trabalho de averigar de que realmente se trata tal projeto. A verba não é para um blog apenas - é sobretudo para o feitio dos vídeos que serão veiculacos em um blog. Soa fraco o argumento de Antonio Cicero cobrar pela publicação em um blog de seus poemas: pois é bem provável que ele não os escreva para o blog, e sim selecione alguns para postá-los. Além do mais, a produção de um poema não tem analogia alguma com a produção de um vídeo, são tão díspares que sequer vale comentar.

    André.

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  4. Caro Lúcio,

    Obrigado por apreciar o meu blog, mas chamo atenção para o fato de que o que faço é muito diferente daquilo que o projeto de Bethânia propõe. Ela não está fazendo apenas um blog.

    Bethania fará 365 filmes, dirigido por um dos nossos mais importantes diretores cinematográficos, que é o Andrucha Waddington, durando cerca de dois minutos cada um. Isso dará, no final, cerca de 12 horas de filme. Um longa-metragem dura 1 hora e 30 minutos. O que tem doze horas de duração são 8 filmes de longa-metragem. Quanto você acha que uma estrela como Bethânia ganharia, sendo a estrela de UM filme longa-metragem? E quanto imagina que ganharia sendo a estrela de 8 filmes de longa-metragem?

    Caetano tem razão. Lamentavelmente, há hoje um grande ressentimento – que se manifesta acidamente na imprensa – contra artistas que, além de populares, tenham sua genialidade amplamente reconhecida. Recentemente, ela atingiu o próprio Caetano Veloso, o Chico Buarque e a Maria Bethânia.

    Seria ótimo que as grandes empresas investissem em projetos culturais de grandes artistas, sem necessidade de incentivo fiscal. Isso, porém, não acontece senão excepcionalmente. De modo geral, os espetáculos de grande parte dos maiores artistas do Brasil – de música, cinema, teatro etc. – somente são financiados quando aprovados pela lei de incentivo fiscal.

    Fazer a lei se aplicar apenas a artistas não conhecidos teria o efeito de tornar raros os espetáculos de alguns dos nossos maiores artistas.

    Como diz Odilon Wagner (em http://www.apti.org.br/):

    “Basta de hipocrisia com a Lei Rouanet. Porque essa fúria ideológica que recai sobre os incentivos fiscais na cultura? Não vejo os que bradam contra a lei Rouanet, se insurgirem contra os incentivos fiscais da indústria eletro-eletrônica, da indústria têxtil, dos taxis, das TVs de plasma, da indústria automobilística e de tantos outros setores. No bolo dos incentivos fiscais do Brasil a cultura tem aproximadamente 1.6% do total. Que fúria é essa? Aliás, só precisamos do incentivo fiscal, porque o orçamento de nosso ministério é o penúltimo da União. Só perdemos para o ministério da pesca. Esse fato demonstra o apreço e importância que a cultura tem para nossos governantes”.

    Abraço

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  5. tal discussão traz a lume um detalhe importantíssimo: o empresariado só "banca" se tiver uma recompensa palpável, ou seja: redução de impostos associado a publicidade.
    não o fazem pela arte ou pelo crescimento das manifestações culturais do país.
    qdo fiz teatro amador, tal lei estava ainda nos seus primórdios, e havia tb uma lei mineira 9fiz teatro em minas) que dava incentivos fiscais de icms. nunca consguimos nada. bancávamos o espetáculo com o famoso paitrocínio e nossas mesadas. a bilheteria era simbólica. mas o público aplaudia.
    uma pena nossos empresários pensarem assim. uma lástima nossa imprensa agir assim.
    e uma grande alegria encontrar aqui pessoas que pensam diferente.
    parafraseando alguém que não me lembro agora: "mede-se a grandeza de um povo pela sua produção cultural".
    e que bethania consiga botar pra frente esse projeto - para que meus filhos, junto com milhões de outras crianças, possam assisti-la, e no futuro, quem sabe, nos ensinarem "ou outro tipo de vínculo; tempo tempo tempo tempo...)

    abrçs.

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  6. “bookofyoureason”

    Sinto muito ter que dizer que suas acusações são inteiramente ridículas.

    Primeiro: Tanto a Fernanda Torres quanto o Andrucha -- que não é o produtor, mas o direitor dos filmes que Bethânia fará -- são pessoas públicas; estão entre as personalidades mais conhecidas do Brasil. Assim como se sabe que Caetano é irmão da Bethânia, qualquer um que leia jornais sabe que Fernanda e Andrucha são casados.

    Segundo: Desde quando é errado defender uma causa que também corresponda aos seus interesses pessoais? Se fosse assim, um operário estaria errado de defender causas trabalhistas, um negro, de defender os direitos dos negros e um gay, de defender direitos gays. Que besteira é essa?

    Terceiro: A última “crítica” que você faz é de uma tolice inqualificável. Pense, por exemplo, no teatro. Há muitos anos que praticamente todas as peças de autores clássicos como Shakespeare, Molière, Ibsen, Tchekov etc. que tenham sido dirigidas por grandes diretores e estrelada por grandes atores têm sido patrocinadas. Em outras palavras, algumas marcas, tendo querido se associar a esses autores, diretores e atores, viabilizaram essas montagens. Na sua cabeça, isso maculou o nome desses autores? Para você, teria sido melhor que essas peças jamais tivessem sido montadas? Prefere ver o teatro morto do que patrocinado por alguma empresa privada? É lamentável que se possa pensar desse modo.

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  7. A questão continua sendo a mesma: não é porque vem sendo mal aplicada que se deve defender a continuidade da Lei Rouanet sem aperfeiçoamento.

    Acho sim que é injusto artistas consagrados competirem com não-consagrados, ainda mais envolvendo verbas altíssimas. Creio que deveria haver duas leis: uma para o patrocínio como sempre existiu e outra para incentivo fiscal. Claro que a irmã do Chico Buarque vai ddar prioridade em seu ministério a Maria Bethânia...
    O Ministro da cultura anterior foi o primeiro a dizer que a lei vinha sendo mal utilizada. Acho que ele tem autoridade na matéria.
    Continuo achando o cachê descabido. Bethânia fez enorme sucesso, é rica - para que utilizar esse dinheiro que bão "é bom" (Fernanda Torres).
    Quanto às discussões na internet, há de tudo, como na vida: bons e maus interlocutores. Não é por discordar de Caetano, a quem admiro apenas como artista, que se esteja "difamando". Acho isso muito paranoico e, claro, autoexpositivo. Mas cada um pense e diga o que achar melhor, o debate está aberto. A questão é uma só: o uso indevido da lei Rouanet. Foi muito bom acontecer essa polêmica, para discutirmos com seriedade a farra dos incentivos. Essa é minha opinião, paro aqui, cada um exponha a sua.

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  8. Gostaria apenas de acrescentar um dado curioso [e triste] nessa celeuma toda: a persistência de uma idéia bastante elitista [no pior sentido da palavra] de que quem se dedica a qualquer atividade relacionada especificamente à literatura devia fazê-lo de graça nas suas horas vagas. Quase todos os filmes brasileiros têm captado recursos da mesma maneira que o projeto da Bethania e cobra-se para vê-los um ingresso às vezes caro. Não há nada de mal nisso, mas é impressionante que justamente um projeto que tem como objetivo dar acesso GRATUITO ao seu conteúdo seja esculhambado dessa maneira. A lei Rouanet pode e precisa ser discutida mas, por favor, sem esse espetáculo triste de caça às bruxas.

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  9. "Esse fato demonstra o apreço e importância que a cultura tem para nossos governantes”.

    Esta frase resume a realidade absurda do descaso do poder público vigente em todo o país em relação à cultura, em quaisquer de suas formas de manifestação.
    Faço um trabalho voluntário como conselheiro de uma associação de amigos que busca, a duras penas, manter abertas as portas de um dos mais importantes museus historiográficos do sul do país. E apesar desta importância, e do seu acervo, que é particular, revestir-se de caráter público, a prefeitura, em mais de uma dezena de ocasiões, manifestou seu completo desinteresse em assumir a sua administração e manutenção. Enquanto isso, o acervo documental e fotográfico aos poucos se deteriora pela falta de recursos para acondicionamento e manutenção adequados, obrigando a suspensão do acesso de historiadores e pesquisadores de todo o país à documentos que registram, principalmente, o processo de colonização do sul do país.
    Um quadro trágico, e absurdo.

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  10. É diferente mesmo a qualidade de cada artista. Há aqueles que fazem um bom trabalho, e outros que fazem um trabalho de qualidade inferior. Os artistas não são todos “iguais”, ou seja, “ser artista” não confere um “salvo conduto” de que tudo que dele emana seja bom.

    E considerar o que é “melhor” é de fato assunto complicado, pois perpassa por subjetividades das mais diversas, além do fator tempo. Mas não podemos ignorar que existe uma diferença entre um grupo amador de teatro do interior e um grupo profissional da capital. Seja por condições de acesso, seja por tempo de dedicação, o fato é que são vários os elementos que influenciam o “resultado final”. De modo que pode-se ter um ótimo grupo amador de cidade do interior, e um péssimo grupo de teatro profissional da capital.

    Obviamente que a Lei Rouanet, por garantir uma retribuição fiscal, e ainda facultar ao investidor o direito de vincular sua marca ao artista, faz com que as empresas procurem aqueles artistas que ela considera “melhores” para divulgarem sua marca. Tal movimento é legítimo, mas na prática, acaba por excluir os artistas “não conhecidos”. Porque o que as empresas consideram “melhores” certamente passam pelo que Cicero se refere em seu texto acima: “Tanto a Fernanda Torres quanto o Andrucha -- que não é o produtor, mas o direitor dos filmes que Bethânia fará -- são pessoas públicas; estão entre as personalidades mais conhecidas do Brasil. Assim como se sabe que Caetano é irmão da Bethânia, qualquer um que leia jornais sabe que Fernanda e Andrucha são casados.”

    Assim, entre patrocinar um cantor desconhecido, ainda que tão bom quanto Bethânia, o empresariado prefere obviamente Bethânia. Portanto, o filtro que acredito que o Minc deveria trabalhar nesse momento seria o do “conjunto dos desconhecidos”, daqueles que às vezes acabam por precisar mais de recursos que os artistas conhecidos, posto que desprovidos de tal capital (imagem, carreira, etc).

    Tanto Caetano, quanto Bethânia, quanto Fernanda, quanto Andrucha, etc etc, fizeram por merecer esse capital que eles trazem associados a suas imagens. E a Lei Rouanet, para artistas com esse perfil, parece que funciona de forma satisfatória.

    Entre os desconhecidos, há os bons e os ruins. Os bons, merecem tanto quanto os “famosos” o direito de acesso a tais verbas, e os “pensantes” da cultura nacional deveriam começar a pensar em como isso se daria. Quanto aos ruins, deveria o Minc investir em sua formação, de modo que eles venham a poder acessar, mais tarde, a categoria dos bons.

    Resumo: nada há a opor no fato de as empresas querem vincular sua imagem a artistas com capital de imagem; que os artistas que têm um trabalho de qualidade, mas que sejam desprovidos desse “capital de imagem”, possam receber tais verbas, para que venham a adquirir tal capital; e quanto aos que estão ainda no início da jornada, que o Minc invista em sua formação, antes do recebimento direto das verbas.

    Por fim, quanto aos ruins, devemos, de qualquer forma, sempre lembrar que podemos estar enganados em relação à eles. E quando digo eles, relembro que n'eles me incluo, ok?

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  11. Cícero,
    Eu vou dar a minha opinião de forma insegura, porque não conheço bem o projeto da Bethânia que causou a confusão, não estudei o texto da lei Rouanet, e não conheço as legislações subsidiárias utilizadas – e emitidas - pelos burocratas do nosso governo, que, pela minha experiência, muitas vezes criam brechas e adotam interpretações jurídicas extensivas que invertem a finalidade original para a qual muitas leis são criadas.
    Mas como acho que ninguém está discutindo o assunto tecnicamente, também vou botar minha colher nesse angu:
    O sentido de um incentivo fiscal para cultura, creio eu, deveria ser apoiar manifestações culturais que não sobreviveriam sem ele, o que não me parece que seja o caso dos shows de artistas famosos, tanto é que a lei Rouanet foi promulgada em 1991, e antes dela eu vi shows da Bethânia, da Gal, do Caetano e de outros artistas brasileiros muito bons.
    Mas se era para bater na lei Rouanet porque ela permite abusos, acho que bateram no caso errado, porque tinham que bater nos shows, e não em filmes da Bethânia recitando poemas disponibilizados - gratuitamente e eternamente - na internet.
    Esse projeto do blog dela me parece ser - exatamente - a iniciativa típica para merecer incentivo fiscal, pois não acredito que a iniciativa privada bancasse o projeto.
    Às vezes me parece que a causa da gritaria foi porque ela estaria declamando poesia, e não cantando canções.
    Mas imagine 365 filmes como esse:
    http://www.youtube.com/watch?v=XV_iXZFPBCk

    João Renato.

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  12. Olá Cícero desculpe o "delay" em responder às suas críticas a mim dirigidas.

    Você se esqueceu que o que estava em jogo no caso do projeto de Maria Bethania é dinheiro PÚBLICO de renúncia fiscal, portanto, passível sim, de críticas sobre sua relevância ou não.

    Sobre um operário defender os seus próprios interesses, é bem diferente de receber recursos público de alta quantia para um projeto que não haveria necessidade de tanto recurso.

    Eu acho que macula quando marcas interferem na produção,nos valores astronômicos do ingresso, elitizando por completo o público pagante - sem contar as baboseiras de ingressos "vip" para os apaniguados da empresa. Com certeza Fernando Pessoa não gostaria de ter o seu nome ligado a este tipo de coisa.


    Exemplo oposto a esta postura são as apresentações artísticas do Sesc, onde há excelentes grupos teatrais e musicais no circuito das unidades que não precisam de super-produções patrocinadas por empresas para mostrarem a sua alta qualidade.

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