10.5.10

Cecília Meireles: "Anoitecer"




Anoitecer

Ao longo do bazar brilham pequenas luzes.
A roda do último carro faz a sua última volta.
Os búfalos entram pela sombra da noite,
onde se dispersam.

As crianças fecham os olhos sedosos.
As cabanas são como pessoas muito antigas,
sentadas, pensando.

Uma pequena música toca no fim do mundo.

Uma pequena lua desenha-se no alto do céu.

Uma pequena brisa cálida
flutua sobre a árvore da aldeia
como o sonho de um pássaro.

Oh, eu queria ficar aqui,
pequenina.



MEIRELES, Cecília. "Poemas escritos na Índia". Obra poética. Rio de Janeiro: Aguilar, 1967.

16 comentários:

  1. Cicero,


    Gostei tanto desse poema que lágrimas tomaram os meus olhos e uma emoção muito forte alcançou a minha alma! Grato por postar essa preciosidade! Tocou-me muito!


    Abração,
    Adriano Nunes.

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  2. TÃO BONITO!cOMO TUDO O QUE cECÍLIA mEIRELES ESCREVEU -PELO MENOS O QUE EU CONHEÇO.

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  3. Cecília, impossivel viver sem sua poesia. Eterna.

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  4. Cícero,
    Gostei da carpintaria do poema, onde o final foi sendo construído aos poucos.
    E "brisa flutuando sobre a árvore como o sonho de um pássaro" é demais.
    Abraço,
    JR.

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  5. Lindo poema de Cecília!
    Que belo o teu espaço, Cícero! Simplesmente, encantador...
    Bom demais vir aqui! Voltarei e voltarei... SEMPRE!

    Um abraço
    Cláudia.

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  6. caramba cícero! que sequência de tirar o fôlego, hein?

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  7. lindo. fiquei empiolhado de estrelas...
    boa noite, cecília!

    sonho de se ter acordado:
    como "lucy in the sky with diamonds", cecília num "cavalo
    com substância de anjo".

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  8. a lua, único osso
    perfeitamente redondo
    de todo o meu corpo

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  9. Nas solombras, anoiteceres Cecílicos, estamos sempre em eterno enverdeSeres...

    Parabéns Poeta por mais esta escolha.

    Um beijo, Poeta.

    Carmen Silvia Presotto - Vidráguas

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  10. breve surto: pausa pro café

    querendo transitar noutro registro
    sem normas de café da manhã
    descer à praça e conversar com lírios
    procurar alguém que caiba nesse limbo
    de ir comigo até não suportar
    invadir, revirar, me mostrar horrível
    juntar os trapos e então me separar
    começar de novo como se o fim fosse o início:
    (regular o humor num termostato químico
    malhar na esteira tantas horas precisas
    ficar bonito, perfume, olhar indefinido)
    beber mais uma antes de me espatifar
    e no "balanço das horas" casar e ter filhos
    repercurtir em verso o avesso de enquadrar
    ficar calado por meses a fio, e depois de tanto frio, submergir pra respirar
    tc com vc naquela noite passada
    silêncio pra ninguém acordar
    amanhã - de tarde - não dá pra tomar vinho
    alguém acordou
    precisa reciclar?
    as contas foram chegando em profusão infinita
    paga daqui corre prali
    não adianta
    vou gastar
    os sonhos ficaram na estante esquisita
    bagunça que um dia não vai dar pra arrumar
    tá na hora
    é agora
    volto já

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  11. Este comentário foi removido pelo autor.

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  12. Antonio,


    Um poema que fiz para o Pedro Nava:

    "O armário" - Para Pedro Nava.




    Guardar a roupa,
    A pele,
    A alma. Deixar trancada
    A vida.

    Há olhos lá fora.
    Há vozes aqui.
    Há mundos
    Em volta.

    Fechar a porta
    Com as chaves
    Dos sonhos, pôr o tempo
    De vigia e estar
    Em vigília sempre.

    Melhor seria
    Pôr fogo em tudo:
    Madeira, verso, tara,
    Trincos, conchavos,
    Chantagens,
    Lances...

    De dados.
    Não será mesmo chama

    O âmago
    De tudo que fica
    Por dentro?


    Beijos,
    Cecile.


    P.s.: um dos poemas mais belos que já li! Salve Cicero e Cecília!

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  13. Ata-me
    Prenda-me ao véu dos teus
    olhos encantados
    Serena, serenata
    O carvoeiro sabe o que é o carvão
    Ponte, remo,
    Do vento que ressoa
    Em meu coração
    Até poder romper
    Sangrar
    Soar, suar
    Mais leve que o ar
    Verde-mar.

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  14. Q lindo!!! O Último verso é tão tão, nem tenho palavras...

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  15. Belo poema e mais lindo é o título do livro. Pensei em alguns fins de tarde no Leblon...

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  16. esse poema nao existe,alias, a beleza tambem nao. aquela beleza extrema, maior que tudo e que todos. como pode algo assim existir: " os bufalos entram pela sombra da noite onde se dispersam" algo assim e desconcertante e maravilhoso demais.demais.

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