6.12.09

Inês Pedrosa: "Sexo oral"




Sexo oral


Primeiro a tua língua molha o meu
coração, num vagar de fera. Estendo
aurículas e ventrículos sobre a mesa, entre
os copos, que desaparecem. Não há mais
ninguém no bar cheio de gente. Abres-me agora
                                                           [os
pulmões, um para cada lado, e sopras. Respiras-
-me. O laser das tuas palavras rasga-me o lobo
frontal do cérebro. A tua boca abre-se e fecha-se,
fecha-se e abre-se, avançando
por dentro da minha cabeça. As minhas cidades
ruem como rios, correndo para o fundo dos teus
                                                            [olhos.
O tempo estilhaça-se no fogo
preso das nossas retinas. O empregado do bar
retira da mesa o nosso passado e arruma-o na
                                                            [vitrine,
ao lado dos exércitos de chumbo.
Entramos um no outro,
abrindo e fechando as pernas
das palavras, estremecendo no suor dos
olhos abraçados, fazendo sexo
com a lava incandescente dessa revolução
imprevista a que damos o nome de amor.




Inês Pedrosa
9 de julho de 2007

7 comentários:

  1. Um mergulho no instante do encontro erótico de palavras que arrebatam e revelam as almas dos amantes. Oralidade do discurso, revelação dos corpos... uma cena que sublinha um tom surreal nas imagens e cria no discurso a intensidade do encontro. Muito lindo!
    Bjs!

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  2. Cicero,


    Uau! Quase gozo! rsrsrs Valeu!


    Grande abraço,
    Adriano Nunes.

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  3. Não tenho passado
    Nem presente
    Pois quem sou senão algo ausente
    Diferente
    Eu entro na mente
    Outro, que sofre, sente,
    Vê na chuva que cai
    O medo que se esvai
    Gota a gota exaurida
    Nessa vida, mas
    Nada mais me distrai
    Minha querida.

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  4. Poemas com fortes imagens censuradas aos menores de 14 anos! Fortes e lindas.

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  5. paulinho (paulo sabino)8 de dezembro de 2009 às 11:37

    liiiiiiiiindíssimo!!

    apaixonei-me pelo poema!!

    beijo!!

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  6. Gira no sol do amor adentra a natureza com o cio das tuas sementes, fecunda a terra quando em forma de flor é mãe nos jardins do mundo. Nas tuas semânticas encontro caracteristicas Nas asas do vento tua sementeira, povoa, brota, abrolha,nasce, aparece.Veste roupa de poesia com graça, faceiro recita o amor desse jeitoe gesto.
    Isis

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  7. o poema ee mesmo oral, um caso de amor com a Língua!
    gosto desse conTexto obsceno

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