O seguinte artigo foi publicado na minha coluna da "Ilustrada", da Folha de São Paulo, sábado, 18 de abril:
Nietzsche e o papa
QUINTA-FEIRA da semana passada, por ocasião da Missa Crismal, o papa Bento 16 fa-°° lou da incompatibilidade entre o pensamento de Friedrich Nietzsche e o cristianismo. Segundo ele, o autor de "Assim Falou Zarathustra" desdenhou a humildade e a obediência como virtudes servis, pelas quais os homens teriam sido reprimidos. O papa acusou Nietzsche também de ter colocado no lugar dessas virtudes "a ufania e a liberdade absoluta do homem". Ora, "no sim da ordenação sacerdotal", disse o papa ante os cardeais, bispos e padres em geral de Roma, "fizemos a renúncia fundamental a querer ser autônomos, à "autorrealização'".
As declarações do papa suscitaram viva reação, principalmente na Itália: o que não é de surpreender, considerando-se que é em Roma que fica o Vaticano e, nele, a Basílica de São Pedro, onde teve lugar a Missa Crismal. Assim, o filósofo católico Massimo Cacciari desconfia que seja ultrapassada a leitura de Nietzsche feita pelo papa.
O filósofo católico Gianni Vattimo, por sua vez, afirma que o papa não percebeu que "Nietzsche é um cristão inconsciente". Ao contrário deles, o também católico Giovanni Reale, autor de monumentais obras de história da filosofia, pensa que Bento 16 tem razão.
Também concordo com o papa. Repugnam-me esforços contemporâneos para conciliar com o cristianismo concepções de mundo que lhe são inteiramente antagônicas, como o pensamento de Nietzsche ou o de Marx.
Tais iniciativas me lembram outra coisa. Até pouco tempo era comum a tentativa de converter ou reverter ao cristianismo, no leito da morte, pensadores conhecidamente ateus ou deístas. Que digo? Até pouco tempo? Dez anos atrás isso ocorreu com um dos nossos maiores poetas.
Mas, a título de ilustração, vou citar o trecho de um livro em que o escritor piauiense Higino Cunha (de quem me orgulho de ser bisneto) descreve a morte de Voltaire:
"Os achaques da velhice vieram prostrá-lo com todo o seu cortejo de misérias. Entra em jogo a faina trevosa da conversão in extremis. Um padre se encarrega de confessá-lo e de fazê-lo assinar uma profissão de fé católico-romana. Propala-se a balela e os livres-pensadores motejam do caso incrível. Mas o filósofo não morreu dessa vez; volta a si e ajuda os incrédulos a zombarem da suposta retratação com grande escândalo da gente religiosa. Poucos dias depois uma recaída perigosa; outro padre põe-se à espreita do momento fatídico para a realização do plano inquisitorial; quer, a todo transe, que o moribundo reconheça, ao menos, a divindade de Jesus Cristo, pela qual se interessa mais do que pelos outros dogmas. Aproveita uma ocasião de letargia e grita-lhe aos ouvidos: Credes na divindade de Jesus Cristo? Respondeu-lhe o interpelado agonizante: Em nome de Deus, senhor, não me faleis mais desse homem e deixai-me expirar em paz".
Pois bem, pior que a conversão fraudulenta de um filósofo é a conversão fraudulenta da sua filosofia a uma religião à qual ele sempre se opôs. Que pode resultar de semelhante empreendimento senão a diluição de todos os conceitos numa desprezível mixórdia?
É verdade que Nietzsche fazia pouco caso de se contradizer. Por isso mesmo, tenho para mim que, embora ele seja um grande pensador, Nietzsche é antes um artista do que um filósofo.
Assim, é possível achar trechos de seus escritos em que sua atitude ante o cristianismo não seja de pura rejeição. Já em 1938, o filósofo Karl Jaspers pinçou vários deles, ao falar sobre "Nietzsche e o cristianismo". E até teólogos, como Eugen Biser, têm feito o mesmo.
Entretanto não há como negar que Nietzsche escolheu o cristianismo como seu inimigo principal, nos pontos cardeais das obras mais importantes que escreveu. Ora, ele dizia que era mais importante escolher bem os inimigos do que os amigos. De fato, é naquilo a que uma filosofia se opõe que se percebe seu gume. Privá-la de seu inimigo equivale a embotá-la.
Em "O Anticristo", lê-se: "É necessário dizer QUEM consideramos nossa antítese -- os teólogos e todos os que têm sangue de teólogo nas veias -- toda a nossa filosofia...". Parece-me claro que, se Nietzsche soubesse dos teólogos que tentam cooptá-lo, com certeza os consideraria como seus mais infames inimigos.
Mais leal é um inimigo formal como o papa. Afinal, a guerra foi declarada por Nietzsche, que considerava o cristianismo “mais nocivo que qualquer vício”.
Antonio,
ResponderExcluirSeu ensaio tem a clareza da própria luz! Talvez, o próprio Nietzsche esteja agora mais feliz! Que coisa bela! Que encanto de texto, sem radicalismos ou frivolidades intelectuais em defesa disso ou daquilo. Parabéns!
***AO MENOS, UM OUTRO POEMA***
Um poema nunca diz nada.
Dispensa ponderações vis.
Dispõe-se invisível no vão
Distorcido do pensamento.
Um poema tem vida alada.
Tudo sobrevoa, não pousa
Em sonhos e nem na razão.
Vibra o seu brado violento,
Sobrevive em vastos ardis
Dos alardes. Renascer ousa,
A cada instante, do veneno,
Do ópio, da própria criação,
Do cérebro, do que só quis
Das Musas, a todo momento.
Um poema: Que mais ameno?
Beijos,
Cecile.
interessante este argumento "nietzsche e o papa". massimo cacciare "catolico" pra mim é uma novidade, mas nao conheço muito a fundo a sua "estoria"... em geral, gosto do que diz e escreve o prefeito de veneza. de qualquer maneira, proprio pelas contradiçoes, tambem gosto de nietzche antes como artista, assim como de jesus antes de cristo.
ResponderExcluirNão só Cacciari é católico como escreveu o livro "Jesus de Nietzsche"...
ResponderExcluirPrezado Antonio Cícero,
ResponderExcluirHá muitos séculos atrás, eu participei de umas reuniões numa célula do partidão numa igreja católica da periferia de São Paulo, onde éramos umas quinze pessoas.
Os comunistas diziam que o padre era "progressista" e eu era "simpatizante", e o padre dizia que éramos "as ovelhas que voltávamos". Enfim; nomenclaturas à parte, todos usavam todos.
Atualmente, a União Soviética já acabou, e do jeito que vão as coisas, a igreja católica também acabará senão reformar alguns dos seus dogmas, para que possa se adaptar às realidades humanas e terrenas. Mas nenhuma reforma séria do catolicismo poderá incluir Marx ou Nietzsche.
A não ser que a política de todos usarem todos prevaleça, o que, com certeza, não acontecerá com o seu Bento sendo papa.
Um abraço,
JR.
ET: Machado de Assis, quase morrendo, rejeitou a presença de um padre:
- Não! Seria muita hipocrisia.
"Os papas, ao menos, tinham por desculpa a verdade absoluta que eles diziam ter em mãos pela graça do Espírito Santo e na qual eramos obrigados em crer. O Sr. Marx não tem absolutamente esta desculpa e não lhe farei a injúria de pensar que ele crê ter inventado cientificamente algo que se aproxime da verdade absoluta. Mas a partir do momento que o absoluto não existe, não pode existir para a Internacional dogma infalível nem, consequentemente, teoria política ou econômica oficial, e nossos congressos nunca devem assumir o papel de concílios ecumênicos proclamando princípios obrigatórios para todos os associados e fiéis."
ResponderExcluirBakunin, Escritos contra Marx
Não discordo completamente do que dizes mas há algo de profeta em Marx, filho de rabino.
Podemos discordar e não creio que seja essa a questão mais importante do pensamento de Marx. Porém a maneira que o pensamento dele foi usado para aglomerar fiéis dogmaticos, como conhecemos muito bem aqui no Brasil, e instaurar Papas ditadores como Fidel ou Mao, me faz pensar, será que não existe um fundo religioso? Creio que sim e isso não diminui Marx porém um pensador tão importante como ele, que além de ajudar conquistas importantes, impulsionou equivocos fatais, tem que ser revisto.
Amado Cicero,
ResponderExcluirExcelente artigo! Parabéns!
"NOCAUTE"
No ringue poético,
No primeiro assalto,
Todos os meus sonhos
São nocauteados.
Os sentidos vindos
Do meu coração
Não ficam em riste
E findam tristes.
Todas essas gingas
De nada adiantam,
Todos os avanços
São, talvez, em vão.
Assim as palavras,
Sempre machucadas,
Escondem-se em véus
De trevas, de chumbo.
Abraço forte!
Adriano Nunes.
Cicero,
ResponderExcluirDesculpe mais uma vez: no meu poema onde se lê "E FINDAM TRISTES" leia-se "ENTÃO, FINDAM TRISTES".
Sempre grato!
Adriano Nunes.
pensador,
ResponderExcluirartigo irretocável! sua ludidez é contrastre para tanta insensatez.
como de costume, todos lados abordados com a mesma intensidade e clareza. parabéns!
em tempo: passei a assinar a folha!
grande abraço!
Bravíssimo.
ResponderExcluirEsse tipo de cristão nao serve a Nietsche, cujos erros e equívocos nao devem ser ressuscitados.
Mas vc está certo. O Cristianismo sem Cristo - que ele viu e que ainda vemos - é o inimigo.
Ni era melancólico do velho Cristo do Caminho, que, perdoe-me, só voltou com Kardec (mas que ainda está muito sujo por ai).
Lembre-se - nao ouvide - Ni era um genial equivocado...
Gostei muito do seu texto sobre Nietzsche. Não conhecia seu blog. Vou lê-lo sempre que possível. Parabens!!
ResponderExcluirPREZADO ANTONIO CICERO, PERMITA-ME APENSAR ESSE TEXTO PUBLICADO EM MEU BLOGUE.
ResponderExcluir16/10/2008 /2005
VALE A PENA NÃO LER DE NOVO
Nietzsche - 161 anos
Num mundo de especialistas, já digo de cara que não sou especialista em Nietzsche. Nem de mim mesmo, dirá dos outros. Mas gostaria de fazer uma pequena alusão à figura do pai do Zaratustra. É incrivel que nesse
dia 15 de outubro, logo pela manhã, quando acordo, já me recordo desta data. Nietzsche era libra. Mas nos seus escritos nada era equilibrado. Ele ia fundo do abismo ao éter e do éter ao abismo. Muitas interpretações
já foram feitas à figura de Nietzsche. Nietzsche seria, hoje, um tipo de popstar acadêmico. E por que isso? Porque a sua biografia é muito interessante.
Aos 44 anos já delirava. Aliás já delirava muito antes. Nietzsche na minha opinião era um pusilânime, por isso criou o übermensch. Para se defender e atacar. Muito se fala, quando se coloca Nietzsche como baldrame filosófico,
sobre o ataque de Nietzsche ao ressentimento. Mas convenhamos: Nietzsche era um ressentido. E não raro se vingava. E quem diz que se vingar é uma fraqueza? É só ler Nietzsche com atenção. E ler a história das religiões e do mundo,
que não são as minhas especialidades auch. O problema não era nem isso. Nietzsche não suportaria ninguém à sua frente. Um caso mais de narcisismo,
do que de vingança. Brigou com Salomé, atacou Wagner, o cristianismo, a Alemanha, Sócrates, todos que no fundo ele admirava. Ele já diz isso
em um de seus escritos: 'eu só ataco aquilo que venero'. Certa vez, numa aula de filosofia, aludi ao suposto ressentimento de Nietzsche, e um professor arguto de chofre argumentou: 'pelo que eu saiba, Nietzsche dizia nunca ser um ressentido. E eu contra-argumentei que Nietzsche seria, talvez, um cristão fervoroso, mas desiludido com o cristianismo de sua época, que vinha declinando em seus valores. Um problema axiológico e não de pisté. Por que
Nietzsche escreveu o anticristo? Lembrem-se que a palavra anti em grego é no lugar de. Dizem as más línguas que Nietzsche dizia ser o Jesus Cristo... Ato falho? Muita coisa se escreve e se escreveu para dizer dos 'super-homens'.
Como se os 'super-homens' tivessem o seu próprio cogito e dali fundamentassem tudo. Isso é só para quem aceita tudo de todos. Depois que você fundamenta sofisticamente, tudo cabe. Para variar, de todos os autores de que gosto, desgosto (de quase todos) numa proporção inversa de seus
supostos epígonos. Como dizia Nietzsche no Zaratustra: 'Fuja, meu amigo, para a sua solidão, para além onde sopre vento rijo e forte. Não é destino seu ser 'enxota-moscas'. E é o que faço nesse nublado 15 de de outubro... Et légomai...
Escrito por wilson luques costa às 17h25
Este post é daqueles que poderiam ficar eternamente sendo discutidos. Não tenho a presunção de questionar Antonio Cicero, com sólida formação. Mas há alguns pontos interessantes que ouso colocar na roda, não desafiando, mas, sim, provocando:
ResponderExcluir- Nietzsche não só declarou guerra à Igreja como ao Estado. Uma de suas frases destacadas aqui é: "o poder dá o primeiro direito e não há direito que no fundo não seja arrogância, usurpação e violência".
- Um dos bons pontos de discussão é sobre a "Vontade de Potência" que Nietzsche coloca, ou seja, partindo de Espinosa ou Spinoza onde só Deus é desimpedido da Criação (entendendo Deus como um todo, assunto vasto). E que os homens têm forças impeditivas. Spinoza procura, então, definir e estudar essas forças impeditivas à criação que o Homem sofre. E vai, aos poucos, derrubando alguns dogmas. Esse estudo chega a Nietzsche que o coloca na tal "Vontade de Potência". Enfim, desculpe-me, Antonio Cicero, falar de forma tão amadora, rápida e rasteira, mas é que está no contexto dos pontos que entendo merecerem discussão.
- Por fim, sendo o máximo provocativo porque o assunto me interessa pacas, muito interessante é tentar que filósofos ditos "ateus" sejam convidados à religião - no caso o Cristianismo - justamente em seu leito de morte. Aqui é maravilhosa provocação. Seria, então, de se pensar que as religiões se fundamentam no medo da morte?
Abraços de um aprendiz e admirador.
e Baudelaire era cristão? há quem jure que sim e dos fortes... como diria Rô Rô: esse papo não me assanha
ResponderExcluirum poema de Cortazar:
ResponderExcluirPoema a Dios, ese pajarito mandón
No es necesario que me mandes, perro,
el mar se asiste solo. Lo más mísero del pelo cortaría la rueda
pero ya sabemos tonsurar el destino.
Estoy,
por eso peligro.
¡Todo me empuja!
En la multitud un fósforo presume
del futuro penacho.
Pero sólo,
solo con el perro mirándome.
No me ordenes nada,
no te obedeceré, y entonces
será horrible.
Vómito de ojos.
Júlio Cortazar
La vuelta al día en ochenta mundos - 1967
Em "Humano, demasiado humano", Nietzsche diz - "Quem "explica" a passagem de um autor "mais profundamente" do que sua intenção não explicou o autor, mas obscureceu-o. Assim estão nossos metafísicos para o texto da natureza: e pior ainda. Pois, para aduzirem suas explicações profundas, muitas vezes preparam antes o texto para isso: isto é, corrompem-no". (Os pensadores, 1974)
ResponderExcluirMenos corrupto me parece o Papa, ao menos dá nome aos bois...!
Caro Antonio Cícero.
ResponderExcluirNão li os comentários postados aqui, apenas o seu post. Mas vou dar minha opinião a respeito.
Em relação às contradições de Nietzsche, qual pensador não se contradisse? Pensar é se contradizer o tempo todo. Ficamos sempre em conflito diante das idéias. Qual de nós pode afirmar com absoluta certeza uma verdade superior à outra? E não é porque não tenho provas suficientes da não existência de um deus onipotente e oniciente (como tentaram me ensinar)que deva crer
cegamente no que pregam as religiões. Elas também não me forneceram até hoje, razões ou provas de tal existência.
Gilles Deleuze afirma que Nietzsche
é um pensador a se redescobrir.
Assim, também, a Igreja precisa se reformular com urgência. Construir
novamente uma história em cima dessas ruínas já ultrapassadas.
Porque meu caro poeta, tanto Voltaire quanto Nietzsche nao encontraram nunca obstáculos morais e outros 'ais' por aí afora, que os impedissem de mudar o pensamento.
E foi justamente com eles que aprendi alguma coisa sobre o livre pensar.
"A fé na verdade começa com a dúvida a respeito de todas as 'verdades' nas quais se acreditava até o presente"
Friedrich Nietzsche
Vamos pois pensar livremente!
É o mais próximo que podemos chegar
da nossa verdade. Pois acredito sempre que exista a minha, a sua e as outras verdades.
Grande e carinhoso abraço!
Pax,
ResponderExcluirNão sei se lembras: a Marly de Oliveira sujando a biografia de João Cabral moribundo, alardeando uma falsa conversão final...
"Outra coisa é a guerra. Sou por natureza guerreiro. Agredir é parte de meus instintos. PODER ser inimigo, ser inimigo - isso pressupõe talvez uma natureza forte, é em todo caso condição de toda natureza forte. Ela necessita de resistências, portanto BUSCA resistência: o PATHOS AGRESSIVO está ligado tão necessariamente à força quanto os sentimentos de vingança e rancor à fraqueza. A mulher, por exemplo, é vingativa: isso é determinado por sua fraqueza, tanto quanto sua sensibilidade à aflição alheia. – A força do agressor tem na oposição de que precisa uma espécie de MEDIDA; todo crescimento se revela na procura de um poderoso adversário - ou problema: pois um filósofo guerreiro provoca também os problemas ao duelo. A tarefa NÃO consiste em subjugar quaisquer resistências, mas sim aquelas contra as quais há que investir toda a força, agilidade e mestria das armas - subjugar adversários IGUAIS a nós... Igualdade frente ao inimigo – primeiro pressuposto para um duelo HONESTO. Quando se despreza não se PODE fazer a guerra; quando se comanda, quando se vê algo abaixo de si, NÃO HÁ que fazer a guerra. Minha prática de guerra pode-se resumir em quatro princípios. Primeiro: ataco somente causas vitoriosas – ocasionalmente, espero até que sejam vitoriosas. Segundo: ataco somente causas em que não encontraria aliados, em que estou só – em que me comprometo sozinho... Nunca dei um passo em público que não me comprometesse – este é o MEU critério do justo obrar. Terceiro: nunca ataco pessoas – sirvo-me da pessoa como uma forte lente de aumento com que se pode tornar visível um estado de miséria geral porém dissimulado, pouco palpável. [...] Quarto: ataco somente coisas de que está excluída qualquer diferença pessoal, em que não existe pano de fundo de experiências ruins. Pelo contrário, atacar é em mim prova de benevolência, ocasionalmente de gratidão. Eu honro, eu distingo, ao ligar meu nome ao de uma causa, uma pessoa: a favor ou contra – não faz diferença para mim. Se faço guerra ao cristianismo, isso me é facultado, porque dessa parte nunca experimentei contrariedades e obstáculos – os mais sérios cristãos sempre foram bem dispostos para comigo. Eu mesmo, um adversário DE RIGUEUR do cristianismo, estou longe guardar ódio ao indivíduo pelo que é a fatalidade de milênios."
ResponderExcluir(Nietzsche. "Ecce Homo", p. 31/32. Tradução de Paulo César de Souza).
Caro Cicero,
Bela reflexão. A propósito, houve também a - não menos fraudulenta - tentativa de conciliar Nietzsche com Marx, não?
Abraço.
Aeta
o velho,
ResponderExcluirNão lembro dessa, não. Você pode me contar?
abraços
Aeta,
ResponderExcluirvocê tem toda razão. Na verdade, na versão original do artigo, eu criticava essa tentativa de conciliar Marx e Nietzsche, mas resolvi excluí-la do artigo para não o complicar demasiadamente.
Abraço
Aeta,
ResponderExcluirSim, ele é lindo. Um pensamento desses, como o que vc expos, é encantador. O que não significa que esteja correto ou inatacável.
Vou escrever alguma coisa (isso exige algumas linhas), qualquer dia desses, sobre o que chamo de equívocos no conceito de "vingança" em Ni.
Mas que é lindo, é. Saboroso. Um filósofo-escritor. Fascinante.
Pax,
Eu acho que ainda tenho a reportagem nos jornais de Pernambuco, por ocasião da morte de João Cabral. Se não tiverem queimado, eu vou achar...
P.S. Todo mundo entende que é verossímil um morimbundo "aceitar Jesus", mas, no caso de Cabral, não é coerente com a obra.
ResponderExcluirAlém disso, o Cristo que Cabral houvesse aceito seria, com certeza, um Cristo maravilhoso (nietzscheniano), e, perdoe-me mais uma vez o pedantismo, não um Cristo vulgar, como o ideologizado pelos Igrejas.
Muito interessante o artigo, juízos sutis e também um fino humor ao lembrar a morte de Voltaire... =] adoro tuas crônicas na Folha, é uma pena que seja quinzenal... mas agora que descobri teu blog, passarei sempre por auqi. Abs.
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