12.4.09

Domingos da Mota: "Soneto de passagem"

.


Soneto de passagem


Das águas corredias da memória
emergem os liames da incerteza:
retêm lendas, mitos e a história
das crenças, das ideias e a beleza

das artes, dos ofícios, da cultura,
e de terras fecundas e até sáfaras
que foram e serão a sepultura
de quem partiu do fio das diásporas.

É veloz o decurso desta vida:
um dia após o outro, e de repente
já fomos, e o que sobra à despedida
oxalá fosse pasto de semente:

de novo sentiríamos o sol,
quem sabe se flor, se rouxinol.

7 comentários:

  1. Belíssimo.

    Marcelo Diniz

    ResponderExcluir
  2. Cicero,

    Parabéns para o Domingos da Mota!



    "PROJEÇÃO"

    São versos da madrugada, do vazio
    Da minh'alma cansada: canto vão
    Do meu coração vil, quase desvão
    De vida magoada, dom vadio

    De voz enciumada, de pessoa
    Envenenada, de proeza
    Poética, da seiva da tristeza
    Profunda, da saudade que só soa

    Quando tudo termina,dessa angústia
    De escritor descrita - tentativas
    De sorver o vernáculo: que astúcia!

    São vontades verídicas e vivas!
    São minas de tesouros, as minúcias!
    São minhas essas dúvidas lesivas!



    Abraço forte!
    Adriano Nunes.

    ResponderExcluir
  3. caralho!, domingos da mota, meu querido, você ARREBENTOU!

    que lindo poema, obra-prima!

    estou encantadíssimo com as suas linhas!

    valeu, cicero, pelo presente!

    beijo em vocês (no dono do pedaço e no autor da pérola)!

    ResponderExcluir
  4. Um toque sutil
    De leve, no cabelo,
    Bastou e
    Estou
    Leve e entregue
    Ao devaneio
    Arrepio, rodopio,
    Da febre mais alegre
    Nos olhos mais azuis que o mar
    Em algum lugar
    Além dessa lua que brilha
    Do barco e sua quilha.

    ResponderExcluir
  5. A cada visita aqui, a gente nunca sai do modo como chegou. Seu blog, Cicero, acredite, é transformador.

    Agradeço ao poeta pelo poema e a vc pela divulgação desse excelente poeta.

    Um grande abraço.

    Aeta

    ResponderExcluir
  6. Caro poeta e filósofo Antonio Cícero,

    Antes de mais deixe-me agradecer-lhe o ter postado este "Soneto de passagem" no seu blog, o que muito me honra; e permita-me que agradeça também a todos os que o leram e comentaram (mas com uma palavra especial para o paulinho): pensei que esse vernáculo, tão à moda do Porto, se usasse mais deste lado do Oceano, tanto para elogiar como para fustigar alguém ou alguma coisa que nos impressiona: ainda bem que por aí há quem não tenha papas na língua.
    Muito obrigado a todos,

    Domingos da Mota

    ResponderExcluir