10.4.09

Nelson Ascher: "Elegiazinha"

.



Elegiazinha

[i. m. nikita (gata da Inês)]


Gatos não morrem de verdade:
eles apenas se reintegram
no ronronar da eternidade.

Gatos jamais morrem de fato:
suas almas saem de fininho
atrás de alguma alma de rato.

Gatos não morrem: sua fictícia
morte não passa de uma forma
mais refinada de preguiça.

Gatos não morrem: rumo a um nível
mais alto é que eles, galho a galho,
sobem numa árvore invisível.

Gatos não morrem: mais preciso
— se somem — é dizer que foram
rasgar sofás no paraíso

e dormirão lá, depois do ônus
de sete bem vividas vidas,
seus sete merecidos sonos.



De: ASCHER, Nelson. Parte alguma. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

16 comentários:

  1. M-a-r-a-v-i-l-h-a!!
    Que Nelson Ascher é íntimo
    das palavras! Nasceu com elas!

    Se vc me permite...
    A Última Sessão de Cinema

    "Não é que tenha, por
    chegar tarde, perdido
    toda a primeira parte,
    porém, como, de tão

    longe dali, pensando
    na morte do bezerro
    que estava, mal deu para
    vê-la passar. Agora

    só resta, se é que dá
    tempo, assistir ao resto,
    meio lembrando meio
    adivinhando quanto

    passou, a fim de achar
    - embora nem se possa
    esclarecer ainda
    o gênero (suspense,

    drama, comédia?) ao qual
    pertence o filme - o fio
    da meada, porque, mesmo
    que seja sempre um anti-

    climax seu fim, até
    quem de cinema nada
    entende sabe que esta
    é a única sessão."

    Nelson Ascher

    *Isso que é se permitir...
    Usar todas as 'licenças poéticas'!

    *Gosto muito deste lugar, depois
    da 'Palavra (En)cantada'!!

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  2. Amado Cicero,

    Nelson Ascher é um excelente poeta. Esse poema dele remete-nos à vida dos gatinhos (ou dos poemas?) com toda mágica, alegria... não há morte,e sim miados poéticos! Parabéns!


    Abraço forte!
    Adriano Nunes.

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  3. Caro Antonio Cícero,

    Os meus parabéns Nelson Ascher por este excelente poema sobre os gatos.
    Como contraponto, vou enviar-lhe uma "Elegia para o gato morto", que está publicada no meu blogue http://fogomaduro.blogspot.com/
    e se achar que tem interesse, poderá publicá-la também no seu blogue, ou enviá-la Nelson Ascher.

    As minhas saudações a ambos,

    Domingos da Mota

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  4. Cicero,

    Não fique constrangido: você é a melhor coisa que a atualidade pôde produzir!!!! Amo-te de uma integridade sem par!!! Que bom que existe o Acontecimentos!!! Vida eterna para você!!!


    Seu sempre amigo Adriano Nunes.

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  5. Adriano,

    você é doido, eu não sou nada disso, mas muito obrigado!

    Um grande abraço do amigo
    Antonio Cicero

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  6. Caro Cícero,senti muito a saída do Ascher da Folha.Você não sabe se ele mantém algum blog ou site onde seja possível lê-lo novamente?
    Obrigado!

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  7. Marcello,

    que eu saiba, ele não tem blog. Mas vou procurar saber.

    Abraço

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  8. Oi Cicero,

    Poema maravilhoso, não conhecia.
    Parabéns pela postagem.

    Grande abraço,
    Carlos Eduardo

    ps. Ah... se for assim eu também sou louco porque acho que o Adriano Nunes tem razão, assino embaixo do que ele escreveu.

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  9. Sempre desconfiei disso, mas ele diz melhor. Sempre.

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  10. Caro Carlos Eduardo,

    Seja você também doido ou não, também lhe fico grato.

    Abraço

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  11. Que interessante observar, no início de cada verso, a reiteração da expressão:

    "gatos não morrem".

    A partir dessa observação, resolvi traduzir os elogios ao dono do Blog (desde já pedindo perdão por tamanha pretensão):

    VIDA DE GATO PARA ANTONIO CICERO!

    Abraço.

    Tomas B.

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  12. Este comentário foi removido pelo autor.

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  13. Prezado Cícero,
    Talvez você não tenha noção da lacuna que preenche para muitos que apreciam poesia e descobriram o seu blog. Mas o bom senso libertário das suas opiniões torna-se uma referência, uma descoberta, ou, no mínimo, um ponto de vista teórico ou estético a ser considerado.
    Ressalto ainda sua pontaria certeira, pois compro alguns livros de poetas que você posta e, diversas vezes, constato que você escolheu o melhor poema do livro.
    Um abraço,
    JR.

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  14. Agradeço a Tomas e a João Renato pelas palavras gentis.

    Abraços

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  15. Esse poema do Ascher é sutil, lúdico.

    Cícero,
    suas escolhas são sempre certeiras.

    Grande abraço

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