4.4.09

Constantinos Caváfis: "Μακρυά" / "Longe" (tradução de Ísis Borges da Fonseca)

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Longe

Quisera referir essa lembrança...
Mas já se apagou tanto... visto que nada se mantém --
pois longe, nos primeiros anos de minha adolescência, ela jaz.

Uma pele como feita de jasmim...
Aquela noite de agosto -- era agosto? -- aquela noite...
Mal me lembro agora dos olhos -- eram, creio, azuis...
Ah! sim, azuis: um azul de safira.



Μακρυά
Θάθελα αυτήν την μνήμη να την πω...
Μα έτσι εσβύσθη πια... σαν τίποτε δεν απομένει —
γιατί μακρυά, στα πρώτα εφηβικά μου χρόνια κείται.

Δέρμα σαν καμωμένο από ιασεμί...
Εκείνη του Aυγούστου — Aύγουστος ήταν; — η βραδυά...
Μόλις θυμούμαι πια τα μάτια• ήσαν, θαρρώ, μαβιά...
A ναι, μαβιά• ένα σαπφείρινο μαβί.



De: KAVÁFIS, Konstantinos. Poemas de K. Kaváfis. Tradução, estudo e notas de Ísis Borges da Fonseca. São Paulo: Odysseus, 2006.

8 comentários:

  1. Caro Cícero,

    Curioso, pois nesta mesma madrugada mostrava Kaváfis à pessoa que me mostrou seu blog. Deixo abaixo o poema de que ela mais gostou, daquele a quem Kanzantizáquis chamou de “uma das últimas flores de uma civilização”. A tradução também é da Ísis Borges da Fonseca.

    Muralhas

    Sem consideração, sem piedade, sem pudor,
    grandes e altas muralhas em torno de mim construíram.

    E agora estou aqui e me desespero.
    Outra coisa não penso: este destino devora meu espírito;

    porque muitas coisas lá fora eu tinha que fazer.
    Ah! quando construíram as muralhas, como não dei atenção?

    Entretanto, jamais ouvi batidas ou rumores de pedreiros.
    Imperceptivelmente, encerraram-me fora do mundo.

    (1897)

    Abraço!

    Aluysio

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  2. lindo!

    que sensação boa, gostosa esse poema deixa... sabe ao que me remeteu? a este outro poema aqui, de sua autoria:

    "quando a noite vem
    um verão assim
    abrem-se cortinas varandas janelas prazeres jardins
    onze e meia alguém
    concentrado em mim
    no espelho castanho dos olhos
    vê finalidades sem fins"

    na voz da bethânia, isso é um arraso sem fim nem finalidades. ;-)

    beijo, poeta!

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  3. Lindo poema! Uso da pontuação - das reticências e dos travessões - ficou perfeito para a composição do esquecimento.

    Abraços.
    Jefferson.

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  4. http://www.youtube.com/watch?v=w98nx-hPuZg

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  5. duas luas

    (p/ lívia)

    a nuvem escorre
    pela lua cheia
    como o tabaco
    e o amor
    entre os dedos

    somem, consomem, secam,
    vão
    semeando cheiros
    e lembranças
    no álbum de retratos

    à senha dos uivos
    viro o corpo na cama
    do quarto escuro
    mas a lua me contorna
    dobrada nos olhos dela

    campos, 17/04/06

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  6. Interessante-intrigante: Aluysio lembrou-me, com nome e poema, a freira do filme "Dúvida"... A certeza é uma muralha...

    Tomas Baraldi

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  7. Caro Tomas,

    Embora aprecie o trabalho da Meryl Streep e do Philip Seymour Hoffman, não assisti ao filme "Dúvida". Descobri, após consulta, ser xará da personagem da freira. Pelo que li na resenha, não sei se fico exatamente lisonjeado pela quase homonímia (rs), mas se ajudou para que vc fixasse melhor os versos de Kaváfis, valeu.

    Abraço!

    Aluysio

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  8. 4/29/2009
    Alétheia
    Se eu fosse o gatinho da Alice,
    Leminski
    sairia nadando do rio Lethe?
    Postado por Robson às Quarta-feira, Abril 29, 2009

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